31.7.24

Investigação Cartesiana IV

Algumas questões são necessárias à continuidade desta série: a) René Descartes (1596-1650) não foi teólogo, muito menos exemplo de católico; b) basta uma olhada nas obras para perceber que seu diálogo era com céticos; c) ele não tem ideia de criar um Deus, embora não declare qual este seja — problema!
Imagem por I.A. Ilustração Satírica de René Descartes.
1. Em Instruções ao Pensador II, está dito sobre Descartes que ele, quando afirma o existir no pensar, subsidiou a observação daquelas pessoas em condições instintivas, desprovidas de percepções até mesmo acerca do próprio arbítrio — livrando o homem da condição de mero produto do meio, onde pode virar cordeiro numa sociedade de lobos (vice e versa).

2. No programa Studiositas, Padre Paulo Ricardo expõe uma preocupação importante, qual seja, tornar a dúvida em ferramenta para destruir a própria realidade. Vilém Flusser (1920-1991), pensador mais contemporâneo da modernidade, trouxe alguma luz acerca dessa questão em “O Mundo Codificado”, que tem uma aplicação no artigo a seguir:
Premissas Divertidas; Decorrências Nefastas (Enquirídio).
3. Como dito em Investigação Cartesiana I, se instrumentalizam a dúvida para negarem a realidade ou duvidarem se bebês são ou não seres vivos (que é tão somente negar a vida), logo não mais existirão, uma vez que abandonaram a faculdade de pensar ao assumirem uma condição bestial — que é a que Descartes condena!

4. Acontece que a dúvida de Descarte, na ciência, torna-se ao verdadeiro pesquisador uma maneira de constatar se algo procede ou se tende a falhar. Se um cientista diz que duvidou da existência da formiga, mesmo ela estando ali, picando sua bunda, então ele não passa de um tolo — o que não é difícil de verificar nas universidades atualmente.

5. Mas o que é ciência? Certamente há quem a faça de maneira correta, embora seja inegável a quantidade absurda de psicopatas que utilizam de probabilidades e estatísticas altamente falseáveis para afirmarem que não existe verdade e tudo é relativo, criando hipóteses impostas àqueles que, sem aderirem, não recebem o diploma.

6. Mas isto foi explicado nas Instruções ao Pensador V, através do poder dos pactos, que é uma convenção, que por sua vez não precisa abordar a verdade, portanto, imoral e inteiramente mentirosa, igualmente quem promove uma certeza na ciência sem dar prova desta, o que não é próprio para buscar Deus, apesar de alguns ali encontrarem Ele.

7. Se Olavo de Carvalho (1947-2022) diz que “a verdade só existe na intuição da realidade concreta e viva por um ser humano concreto e vivo, no memento em que essa intuição acontece”, certamente sua inclinação filosófica é a respeito daqueles que negam a verdade e a realidade por hipóteses que não existem nem teriam condições de existir.
Para conhecer Deus, acaso não se tem no uso da razão um modo de conhecê-Lo? Ou sola fide basta para tanto?
8. Ademais, cuidado com a palavra “intuição”, que tem por significado “conhecimento da verdade sem auxílio do raciocínio”, assim como “pressentimento” e “entendimento independente de um conhecimento empírico”. Para conhecer Deus, acaso não se tem no uso da razão um modo de conhecê-Lo? Ou sola fide basta para tanto?

9. Neste ponto, razão é o meio pelo qual alguém é “capaz de compreender a ordem das coisas estabelecidas pelo Criador.” (CIC 1704). Se Descartes é julgado por sua biografia é porque ele não deu prova de fé católica na tentativa de evidenciar a existência de Deus, o que é fato, pois só Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida — e o assunto continua...
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Investigação Cartesiana IV. Enquirídio. Maceió, 31 jul. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/07/investigacao-cartesiana-iv.html.

Postar um comentário

Botão do WhatsApp compatível apenas em dispositivos móveis

Digite sua pesquisa abaixo