8.6.22

Sedevacantismo Enrustido Desde o Século XIV

No Enquirídio há um breve apanhado a respeito do sedevacantismo ao questionar: Bispo Sedevacantista no Brasil? Buscando esboçar um panorama da situação, algumas colocações foram realizadas nesta postagem para ampliar o conhecimento acerca do assunto, sobretudo historicamente.
Hans Werl. Duque Luís IV da Baviera é Eleito Rei Romano-Alemão em 1314.
1. Alguns pontos de flagrantes incoerências são cruciais à compreensão do pensamento disruptivo, disciplinado academicamente naqueles que argumentam no sentido de removerem a legitimidade papal a depender daquilo que aceitam particularmente ou em redutos, também particulares – até mesmo ocultos. Assim sendo, apesar de defenderem o clericalismo, tratando-se de Papa Francisco, rejeitam-no sumariamente, segmentando os bispos em linhagens de sagrações (ordenações episcopais), donde dessas segmentações escolhem quais seguir ou abolir. Nisso que fazem, podem reciclar aquilo que for conveniente, como, exempli gratia, entender no clérigo o múnus sacerdotal, assim como em todos que receberam sacramentos por ele, porém, excluindo sua obediência ao Santo Padre por difundir uma ideologia dos antipapas desde o século XIV. Assim é que o assunto é moldado por uma dialética que aparta a discussão sobre a validade para cercar apenas o debate preliminarmente vencido a respeito da legalidade, ou seja, enquanto se conversa acerca da letra, continuam os erros se espalhando – estratagema que conta com uma enorme parcela de leigos com pouco ou nenhum estudo religioso ao sucesso inevitável na implementação dessa ideia.

2. Quando se fala em estudo religioso, refere-se propriamente ao Catecismo da Igreja Católica por imediato, mas, também, através daquilo que vem das catequeses do Santo Padre no tempo vigente, pois, limitando-se aos problemas de tempos anteriores, deixa-se de verificar aqueles que são próprios do presente – e o católico não poderia jamais se eximir de participar da vida no âmbito da sociedade, uma vez que lhe pertence o direito e dever naquilo que Nosso Senhor falou por sal da terra e luz do mundo (Mt 5, 13-16). Acontece que algumas mudanças aconteceram na forma da Igreja Católica que desagrada certa parte do clero, como no caso de Dom Marcel Lefebvre. Apesar das preocupações a respeito do Concílio Vaticano II serem francas no tocante ao modernismo proveniente do liberalismo e protestantismo, segundo sua perspectiva (limitada, pois, como se sabe, aquilo que chamou por consequência do pensamento moderno ou protestante, também se encontra dentro da própria Santa Sé, havendo aos montes fora dela), evidenciou sua insatisfação na alteração litúrgica. Verdade seja dita: ele não estaria errado, porém, também não acertou. Prova disto é a excomunhão sofrida. Neste ponto, embora excomungado, sacramentos concedidos por ele não são totalmente atingidos, sobretudo aos leigos, igualmente válidos àqueles que receberam a ordenações, embora “sua linhagem episcopal”, composta por quatro bispos, também fora excomungada – depois removida desse estado pelo emérito Papa Bento XVI, exceto Dom Marcel Lefebvre, falecido em 1991 naquele estado de excomunhão. Mesmo Papa Francisco está mantendo contato com lefebvristas no intuito de retornarem à plena comunhão, apesar de membros do episcopado da Fraternidade Sacerdotal São Pio X – FSSPX reincidirem.
3. Quando esse estudo religioso é aprofundado, perceber-se-á a distinção da licitude e validade, donde se admite, lembrando do caso de Dom Marcel Lefebvre, totalmente os sacramentos concedidos, mas não posteriormente excomungado, conforme o Cân. 1331 do Código Direito Canônico. No arcabouço jurídico da Santa Sé, segundo o Cân. 1364, “o apóstata da fé, o herege e o cismático incorrem em excomunhão latae sententiae”, donde o Cân. 751 explica “diz-se heresia a negação pertinaz, depois de recebido o batismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou ainda a dúvida pertinaz acerca da mesma; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja que lhe são sujeitos”. Mais claro, impossível! Verdade que bispos e padres, incorrendo nos mencionados artigos, certamente comprometeriam todos os fiéis atrelados sem que dividisse aquilo que foi ilícito daquilo que não foi válido, embora os limites já tenham sido apontados. Porém, tem-se na Igreja Católica uma Mãe, Maria, símbolo do acolhimento, donde o Santo Padre, diante dos filhos desobedientes, decide educá-los não por punições, mas por exemplo, apesar de muito rigidamente aplicar a legislação que lhe compete naquilo que não tem qualquer sombra de dúvida, posto que seria imprudentíssimo e anticatólico sair declarando excomunhão sem conhecimento de causa, motivo pelo qual muitos sacerdotes ainda serão alcançados, incluindo Dom Daniel Dolan, quem chama o Papa Francisco de “maldito” e “anticristo” (assista ao minuto 8:50 do vídeo abaixo).
4. Os sedevacantistas provenientes da ideologia cismática de Dom Daniel Dolan chamam o catolicismo de “religião conciliar”, inventada pelo Concílio Vaticano II, sendo certo apenas a fragilidade inaugurada por tal aos protagonismos sacerdotais, sejam por membros ordenados ou pertencentes ao laicato, donde o combate ao clericalismo (como parte de ideia) se transformou num caos aparente. Verdade seja dita: acertadamente a Igreja Católica caminha na direção correta, embora as consequências sejam a perseguição e a diminuição, como já havia colocado o emérito Papa Bento XVI quando escreveu O Novo Povo de Deus. Portanto, como alguém pode sequer indicar ou deixar de duvidar daquilo que foi concedido por alguém que incorre em excomunhão automática? Evidentemente que Papa Francisco, assim como outros na futura sucessão, acolherão as vítimas que porventura tenham sofrido com apóstatas, cismáticos e hereges, porém, afiliar-se ao ideal que exclui o Santo Padre é o mesmo que declarar vacante a Cátedra Petrina.
Agora, dizer que nos trabalhos conciliares de 1962 a 1965 fundaram uma outra religião – anátema! Então já tinham fundado há séculos, talvez no próprio século XIV.
5. Talvez a grande confusão seja realmente misturar as questões religiosas com opiniões políticas. Como dito, inexiste um catolicismo de direita, muito menos de esquerda, mas tão somente de Nosso Senhor. Ou se acolhe a doutrina de Jesus Cristo, ou se nega completamente. Mesmo os pagãos às vezes conseguem ser melhores ouvintes do Evangelho do que os batizados, pois como quem respeita, também desejam ser respeitados. Acontece que quando os pensamentos partidários se introjetam na nossa gente, cismam! Isso é medo! Se os católicos querem conforto, enganam-se! Serão todos perseguidos! Se assim não forem, talvez não sejam tão agarrados àquilo que acreditam, pois isto está prometido. Agora, dizer que nos trabalhos conciliares de 1962 a 1965 fundaram uma outra religião – anátema! Então já tinham fundado há séculos, talvez no próprio século XIV.

6. Anteriormente, no século XIII, surgiram várias ideias interessantes à diluição da Igreja Católica, prosperando de maneira atrofiada determinada filosofia averroísta que subvertia o catolicismo, porém, plenamente combatida por São Tomás de Aquino – o motivo do atrofiamento daquela prosperidade. Essa questão está disponível resumidamente na postagem Perenialismo Esotérico: Porta para o Islã? Infelizmente, prosperaram as decorrências da subversão inauguradas naquela época não necessariamente por Averróis (muçulmano), mas por academicistas franceses na Universidade de Paris – longa história, embora seja realmente válido consultar a publicação mencionada neste Enquirídio ou conferir a obra A Unidade do Intelecto, Contra os Averroístas do Doutor Angélico. Mas ali foi evidenciado o antipapismo e consequentemente a ideologia anticristã por determinadas instâncias da sociedade francesa (mas não apenas), ocultadas por trezentos anos dentro de ordens iniciáticas que operavam na política enquanto se infiltravam na Santa Sé. Assim é que o período do cativeiro em Avinhão do início do século XIV se desdobra em cumprimento de necessidades adversárias aos interesses da Santa Igreja – mais caos do que aí, impossível!
Curioso saber que foi justamente nesse período de aprisionamento dos sucessores de São Pedro que foi desenvolvida a Franco-Maçonaria, embora supostamente firmada somente no ano de 1400.
7. No século XIV, sete papas foram mantidos em Avinhão (região francesa), donde o Papa Clemente V inaugurou o período do cativeiro. Resumidamente? Filipe IV, rei da França, querendo o dinheiro dos Cavaleiros Templários, “aposentados” da guarda dos peregrinos depois da queda de Jerusalém em 1291 (quando a subversão do catolicismo se iniciou também na Universidade de Paris com aquela filosofia averroísta), armou contra a ordem, levando o pontífice condenar seus membros à fogueira, incluindo o grande mestre Jacques de Molay, quem teria lançado uma maldição (ou realizado uma profecia) que não passariam de 1314, nem o rei, muito menos o Santo Padre (dito e feito, morreram ambos antes da referida data), sendo homenageado em um segmento da Maçonaria para jovens. Curioso saber que foi justamente nesse período de aprisionamento dos sucessores de São Pedro que foi desenvolvida a Franco-Maçonaria, embora supostamente firmada somente no ano de 1400.

8. Depois da morte de Clemente V, Filipe V, sucessor do trono de francês, conseguiu um conclave que elegeu o Papa João XXII, mudando o papado de Roma em definitivo para Avinhão, região vizinha da portuária Marselha, donde surgiu o Tarô perto do ano de 1400, assim como a Maçonaria – informação que evidencia a cultura regional. Acontece que naquela época existia uma disputa pelo Sacro Império Romano-Germânico, restando ao pontífice declarar o trono vacante até que tal questão pudesse ser resolvida, como assim o fizera Luís IV, rei da Alemanha, ignorando o pontífice ao se basear na instrumentalização argumentativa de Marsílio de Pádua e Guilherme de Ockham sobre a completa dependência do poder eclesiástico ao Estado, utilizada também na revolução da reforma protestante, embora sem sucesso, apesar de autoproclamar-se imperador por seu antipapa, evidentemente excomungado, Nicolau V (franciscano que recorreu depois ao perdão papal, diga-se de passagem, plenamente concedido). História que abreviada parece simples, embora seja muito complexa, mas que, observando atentamente e permitindo um aprofundamento mais detalhado, perceber-se-á todos os elementos revoltosos que clamaram por uma religião cristã diferente, estatalmente subalterna, através da publicação das 95 teses de Lutero no início do século XVI, dando prova de que as ideias de outro tempo apenas tinham esfriado.

9. Àqueles que acreditam que somente o comunismo deseja a destruição da Igreja Católica, fiquem tranquilos: queriam os reis antes mesmo de existir Karl Marx. Assim é que a teoria da religião inventada no Concílio Vaticano II tenta prosperar: valendo-se direta ou indiretamente (através de resquícios ideológicos) de Marsílio de Pádua e Guilherme de Ockham ao fundarem outra Sé no intuito de vingarem, quem sabe, Luís IV, rei da Alemanha no século XIV, pelo Papa João XXII ter declarado naquela época o trono do Sacro Império Romano-Germânico vacante. Parece loucura – e é mesmo, igualmente o sedevacantismo o é! Lembra um engrama! Longe de querer resumir a história de maneira tão simplória, apenas se verifica que problemas do passado continuam existindo e que a solução não vai ser colocada pela humanidade, sendo certo evitar os sedevacantistas e aquilo que dimanam das convicções que possuem numa ideologia de longe emprestada, imbuída em revolta. Imagine só um bispo que chama o Santo Padre de anticristo! Dom Daniel Dolan faleceu em abril de 2022 – Deus o tenha!
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Sedevacantismo Enrustido Desde o Século XIV. Enquirídio. Maceió, 08 jun. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/06/sedevacantismo-enrustido-desde-o-seculo.html.

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