Giovanni Francesco Barbieri. São Pedro Chorando Diante da Virgem. |
- Lumen Gentium (Vaticano).
3. As intenções do Concílio Vaticano II foram expressas quanto a questão mariana, sobretudo pelas investigações teológicas não trazerem uma elucidação definitiva, sendo certo as opiniões que são livremente propostas nas escolas católicas acerca daquela que ocupa o lugar mais alto depois de Jesus Cristo e o mais perto de nossa gente na Santa Igreja. Mesmo São Luís Maria de Grignion de Montfort tem uma devoção por Nossa Senhora que talvez nenhuma outra pudesse se dignar em comparação, embora do ponto de vista meramente cognitivo, colocações como “todas as coisas, inclusive Maria, estão sujeitas ao poder de Deus. Todas as coisas, inclusive Deus, estão sujeitas ao poder da Virgem”, conforme consta no ponto 76 do tratado que escrevera no século XVIII antes de morrer, possam parecer intrigantes, mas tão somente pelo afervoramento devocional, donde ele mesmo explica “se as pessoas não estão dispostas a se dizerem escravas de Maria, de que isso importa? Que elas se tornem e se chamem a si mesmas de escravas de Jesus Cristo, pois isto é o mesmo que ser um escravo de Maria, uma vez que Jesus é o fruto e a glória de Maria”. Claro: talvez achem o santo doido, embora bastasse retornar ao primeiro ponto desta postagem para novamente observarem a plenitude do mistério da fusão na cooperação redentora. Existem outros pormenores que podem ser estudados, apesar do que tem na Lumen Gnetium já ser de abundante iluminação.
4. Merece, outrossim, algumas ponderações quando São Luís de Maria de Grignion de Montfort utiliza a expressão “escravos de Maria”, donde um ponto é a dissonância ao defender a existência de servos próprios da Rainha em honra da glória do Rei, motivo pelo qual questiona “seria possível acreditarmos que Jesus, o melhor de todos os filhos, que compartilhou Seu poder com Sua Santíssima Mãe, Se haveria de ressentir de ela ter seus próprios escravos? Teria Ele menos estima por Sua Mãe do que Assuero tinha por Ester, ou Salomão por Betsabé?” – evidentemente que não, mas tal maneira de argumentar, especialmente nos tempos de agora, dos quais não poderia jamais adivinhar, pode ser tida não pela mística cristã, mas por uma vertente mais neopagã, donde é certo sua completa abominação por aqueles que são infiéis a Santa Igreja ao protestarem ou mesmo cismaram, embora seja lógico buscar entender que por escravidão o santo se refira a condição de dependência eterna do cristão em Nosso Senhor e cristologicamente em Nossa Senhora por uma fusão. Historicamente, abordar a escravidão, mesmo que dentro de um argumento de santidade, sobretudo ao preceder a maior época de abolições de escravaturas no mundo, certamente causaria antipatia, embora a verdade esteja evidente no ponto 77 do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, donde se lê “antes de sermos batizados éramos os escravos do diabo, mas o batismo fez de nós os escravos de Jesus (Rm 6, 22). Ao cristão só lhe é dado ser um escravo do diabo ou um escravo de Cristo”, adicionando em seguida uma espécie de ressalva afirmando que aquilo que diz absolutamente sobre Nosso Senhor, relativamente diz por Nossa Senhora – nada mais claro do que as conclusões do Concílio Vaticano II acerca da mariologia empreendida pelos teólogos católicos, que tem por uma liberdade e inspiração argumentativa uma boa contribuição, mas não terminativa, como será vista.
Contudo, quando essa incidência é escanteada, ou seja, quando Nosso Senhor é ignorado, notadamente a unidade vai voltando à dualidade, descendo o sal enquanto sobe a água, motivo pelo qual mesmo o casamento só existe ao existir, perfeita ou imperfeitamente, presença salvífica.5. Se há fusão, jamais haveria de se falar em separação. Também não tem relação alguma com unir, posto que em uma união as coisas se ajuntam, porém, heterogeneamente, mesmo que sua aparência superficial seja homogênea, como em um casamento. Quando o casal é unido em matrimônio, Deus mistura os noivos como se fossem sal e água. Enquanto estiverem misturados pela ação do Espírito Santo em completa entrega aos desígnios de Jesus Cristo, continuarão sendo um só corpo, pois n’Ele está este agito, que faz com que substâncias pareçam tão somente uma. Contudo, quando essa incidência é escanteada, ou seja, quando Nosso Senhor é ignorado, notadamente a unidade vai voltando à dualidade, descendo o sal enquanto sobe a água, motivo pelo qual mesmo o casamento só existe ao existir, perfeita ou imperfeitamente, presença salvífica. Assim é que o filho é o milagre da existência, donde o pai e a mãe, substancialmente, fundem-se no mistério da geração, pois quem olha na prole vê os genitores sem que ali estejam, mesmo para aqueles que não herdaram as feições externas, aparentes, dadas pelos genes, mas sim internas, próprias do amor de quem as transmitiu mesmo sem ter gerado. Assim sendo, aquilo que foi fundido é inseparável, como numa liga metálica, donde a guarda de um sabre recobre sua lâmina sem distinguir quais metais a compõe. Empunhá-la significa se servir de aço na condição fundida do ferro e carbono. Portanto, aquele que devota sua fé por Maria tem devoção por Nosso Senhor. Quem é servo de um, indistintamente o é também de outro, inexistindo, como se sabe, divisão – Amém!
6. Quando o Papa Francisco, durante a homilia de 12 de dezembro de 2017, reafirma o caráter discipular de Maria ao lembrar que ela jamais se apresentou como corredentora, encerram-se as questões a respeito da corredenção dada através do dogma da infalibilidade papal advinda do Concílio Vaticano I, consoante a Constituição Dogmática Pastor Aeternus, especialmente quando pronuncia o pontífice ex cathedra, ou seja, exercendo sua função na Cátedra Petrina ao definir uma doutrina de fé ou moral, incluindo sua imutabilidade. Assim é que o Santo Padre encerrou o problema titular homiliando, explicando não ser necessário dogmatizar por envolvimento em disparates aquilo que bem declarou por Nossa Senhora, incluindo outras formas de referi-la, embora tal expressão sequer conste em diversos documentos importantes da Igreja Católica, como se verá adiante.
- Pastor Aeternus (Vaticano).
- Concílio Vaticano II (Vaticano).
- Catecismo da Igreja Católica (1.135-1.209) (Vaticano).
- Perenialismo Esotérico: Porta para o Islã? (Enquirídio).
10. Escandalizara-se ao perceberem nas palavras do Santo Padre a afirmação de que não se tem por Maria uma corredentora, consoante uma das homilias de 2017, muito menos a necessidade de se criar um dogma. Quatro anos depois, Papa Francisco, certamente por demandas da Igreja Católica, manifestada pelos membros ordenados e leigos, retornou ao assunto em catequese, ou seja, ensinado de fato sobre as coisas da fé. Assim é que o pontífice na Audiência Geral de 2021 reafirmou o conteúdo homiliado ao explicar que somente Jesus Cristo é redentor e o caráter mariano que envolve nossa gente através da confiança d’Ele em Sua Mãe, mas não como uma deusa, embora compreendendo as titulações que lhes são atribuídas por imensa devoção, segundo suas próprias palavras: “é verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor”.
- Celebração da Festa de N. Sra. de Guadalupe (Papa Francisco).
- Rezar em Comunhão com Maria (Papa Francisco).
12. Também é conforme a catequese do Papa Francisco que São Luís Maria de Grignion de Montfort, devotadíssimo de Nossa Senhora, precisa ter seu exagero acolhido, pois toda ideia de servir Maria no intuito de melhor se colocar como discípulo para Nosso Senhor, consoante seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, não tem por intenção divinizar Nossa Senhora como se deusa fosse, mas tão somente, sabendo que ela é a Mãe da Igreja Católica, apresentar um método de se praticar seu exemplo de maneira mais próxima possível, fundida em Jesus Cristo. Assim sendo, mesmo que queiram tentar contra o Santo Padre, achando que ele não tem validade como sucessor da Cátedra Petrina, negando-o e maldizendo aquilo que ensina, porém, oferecendo em paralelo uma catequização diferenciada, isenta dos dogmas, incluindo uma filosofia findada em si mesma, jamais conseguirão deturpar as verdades que são colocadas não por uma pessoa qualquer, mas por incidência do Espírito Santo naqueles que são chamados por Ele aos empreendimentos realizados para glória de Deus. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Corredenção: Maria e a Cátedra Petrina. Enquirídio. Maceió, 03 jun. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/06/corredencao-maria-e-catedra-petrina.html.
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