7.7.23

Sedevacantismo: do Vietnã ao Brasil

Há um Bispo Sedevacantista do Brasil? Pergunta já respondida, mas que precisa ser esmiuçada, uma vez que sua insistência é recorrente e o sedevacantismo, parece, tornou-se atrativo diante de algumas posturas pontifícias neste tempo, embora não impliquem em qualquer locução “ex cathedra”.
Grão Vasco. São Pedro.
1. De início, escandalizar-se ao perceber no pontífice alguma postura que não pareça ter apreciado corretamente um contexto político ou realizado isso parcialmente, significa não entender que ele tem liberdade humana para errar numa matéria como essa, podendo se arrepender ou mudar de opinião, mas não “ex cathedra”, quando afirma as verdades da fé. Se isso, ou seja, se algo é dito pelo Santo Padre de modo a tratar de questão política, mas que lhe contradiga por sua perspectiva ser diferente, declarar-se sedevacantista pode significar desespero, descrença, desconhecimento da fé. Tudo isso consiste numa ressalva antes de expor o problema para quem ainda desejar romper com a Igreja Católica.

2. Pierre Martin Ngô-dinh-Thuc, vietnamita de tradicional família política, que foi Bispo da Igreja Católica, quem disse em 1982 que “está vaga a Sede da Igreja Católica em Roma” (durante o pontificado de São João Paulo II, vale dizer), recebeu da antiga Sagrada Congregação para Doutrina da Fé (atual Dicastério pela reforma da Cúria Romana) a declaração de excomunhão em 1976 (no pontificado do Papa Paulo VI), mas que, embora perdoado, incorreu nas mesmas questões canônicas em 1981 ao realizar a sagração de Moisés Carmona, quem aqui interessa ao panorama da linhagem do sedevacantismo. No documento estão dispostos os cânones do Código de Direito Canônico de 1917, mas que também se encontram na reformulação promulgada em 1983, motivo pelo qual, exempli gratia, corresponde a parte do cân. 2370 o cân. 1382 e trecho do cân. 2372 ao cân. 1383.
3. Se Código de Direito Canônico de 1917 ou de 1983, importa apenas o que é constante das declarações da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, quando excomunga não apenas Pierre Martin Ngô-dinh-Thuc, uma vez que também atingiram Moisés Carmona (dentre outros), segundo sedevacantista que interessa na linhagem ilegítima de sacerdotes ordenados pelo vietnamita em 1981, sejam a padres ou mesmo a bispos, como se nota na declaração de 12 de março de 1983, disponível na íntegra pelo link acima posto.

4. Moisés Carmona consagrou com assistência de Adolfo Zamora, também de maneira ilegítima, George Musey em 1982 e Mark Pivarunas em 1991. Todos esses sequer podiam receber os sacramentos – imagine concedê-los! Daqui para frente tudo se torna mais claro, pois essa linhagem de sedevacantistas é facilmente remontada, desde sua origem com Pierre Martin Ngô-dinh-Thuc até chegar em Rodrigo Henrique Ribeiro da Silva, que por uma “gambiarra eclesiástica”, supostamente ordenado legitimamente (salvo disposição contrária da Santa Sé que envolve Dom Richard Williamson, cismático inveterado, que já foi excomungado e readmitido, responsável pela ordenação deste sacerdote brasileiro em 2017).

5. Mark Pivarunas consagra, pelos mesmos moldes, Daniel Dolan em 1993. Observe o modus operandi do sedevacantismo: alguém do clero, antes de sofrer punições por posições contra a Igreja Católica, ordena padres de forma legítima, aparentemente, mas que são ilegitimamente consagrados bispos por outros já em nítida incorrência dos termos das declarações da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, como foi visto, desde 17 de setembro de 1976, data da renovação de excomunhão de Pierre Martin Ngô-dinh-Thuc.
Somente o pontífice poderá perdoá-los,
mas é uma hipótese improvável.
6. Finalmente, encerrando a lastimável corrente sedevacantista que chegou ao Brasil, Daniel Dolan realizou a consagração de Rodrigo da Silva em 2021 aos 30 anos de idade. Na Igreja Católica, todos estão ipso facto suspensos da ordem recebida, encontrando-se irregulares no exercício do ministério ou sequer são reconhecidos no estado em que se encontram, exceto se se arrependerem, mesmo assim, para receberem as punições das declarações. Somente o pontífice poderá perdoá-los, mas é uma hipótese improvável.

7. Apenas para provar que tal alegação de improbabilidade é redundantemente provável, Leonardo Holtz Peixoto, que foi padre da Igreja Católica, depois de adotar o sedevacantismo ao se escandalizar com opiniões do pontífice, recebeu sua excomunhão, decretada por Dom Orani Tempesta no final de 2022.
8. Como se isso fosse pouco, Leonardo Holtz Peixoto foi reordenado no fim do ano de 2022 por Rodrigo Silva, donde, através dessa trágica conduta, também mostra não ter por válida a ordem que recebeu em 2004, quando se tornou legitimamente um sacerdote da Igreja Católica – e o problema do sedevacantismo, assim como de outros cismas, assim se findam?

9. Na Igreja Católica há pontífices de gostos e desgostos – e a história não deixa isso escapar. Porém, admitir o sedevacantismo significa também, sobretudo observando seu modus operandi com “gambiarras eclesiásticas”, inaugurar mais outra linha protestante, donde a obediência é somente um adereço optativo. Ressalta-se que ao quererem voltar à Igreja Católica, talvez noutro pontificado mais adequado às próprias preferências, sujeitar-se-ão, como dito, às penas já aplicadas, motivo pelo qual isso parece não ser uma possibilidade.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Sedevacantismo: do Vietnã ao Brasil. Enquirídio. Maceió, 07 jul. 2023. Disponível em https://www.enquiridio.org/2023/07/sedevacantismo-do-vietna-ao-brasil.html.

Postar um comentário

Botão do WhatsApp compatível apenas em dispositivos móveis

Digite sua pesquisa abaixo