10.7.23

Não Beije como Judas!

Dom Víctor Manuel Fernández, nomeado prefeito do Dicastério para Doutrina da Fé pelo Papa Francisco, publicou em 1995, quando era padre, “Sáname con Tu Boca – El Arte de Besar”, breve livro a respeito do sagrado no beijo, usado para difamar o bispo argentino e colocar a Igreja Católica em dúvida.
Giuseppe Diotti. O Beijo de Judas.
1. Sobre o livro, traduzido ao português como “Cura-me com Sua Boca – A Arte de Beijar”, explica o padre de outrora que não foi escrito “tanto por sua própria experiência”, mas das pessoas que beijam. Para tanto, conversou com “pessoas com abundante experiência no tema e também com muitos jovens que aprendem a beijar pelas suas própria maneiras”. Poder-se-ia suspender a leitura daqui mesmo, mas não seria justo, pois, quem sabe, lá na frente o caráter catequético da obra se revele, como disse haver numa entrevista para InfoVaticana. Adiante, afirmou que consultou muitos livros (Kama Sutra, quem sabe? – perdão pela ironia precoce), incluindo como falavam os poetas, tudo isso para corroborar uma visão cristã do beijo, para que você possa assim fazê-lo melhor – então seria um manual? Verdade é que a imagem que estampa a capa da obra é a estátua de “Amor e Psiquê”, do artista italiano Antonio Canova, que não representaria qualquer problema na perspectiva semiótica da escolha, certamente por ser uma representação mundialmente difundida, mas que também não acrescenta nada ou só piora do ponto de vista onde o texto do então prefeito do Dicastério para Doutrina da Fé poderia atribuir para um teor mais erótico do que as expressões esculpidas de fato sugeririam.
2. Numa tese inicial, apresenta um excerto com mínimo contexto de “Amizade Espiritual” de São Elredo de Rielvaux, onde o beijo é via à comunicação dos espíritos dos que assim podem fazê-lo. Surpreendentemente, observando-se os próximos parágrafos após essa citação, uma boa catequese é oferecida, justificando a escolha da imagem da estátua “Amor e Psiquê” e o teor conservador que afirmou ter seu livro naquela entrevista ao InfoVatican. Segue-se, portanto, transcrição já traduzida do conteúdo da página 15: “De certo, quando não há beijos, ‘luz vermelha!’, temos o melhor sinal de que o amor está em perigo. Poderá haver sexo, para descarregar o instinto e satisfazer uma necessidade, mas se não há beijos de verdade, profundos, ternos e frequentes, é porque o amor já não existe ou se está morrendo, lastimado. Um beijo verdadeiro manifesta que o outro é sagrado para mim. Mas quando o sexo se descontrola, e queremos mais, mais prazer, mais intensidade, o outro se transforma em uma esponja que queremos exprimir totalmente, até a última gota. E assim se vai perdendo a magia, a veneração, a adoração. E o sinal mais claro da morte do amor é que desaparecem aqueles beijos trêmulos, que vão crescendo aos poucos; porque o começo, por um santíssimo respeito, não nos atrevemos a impô-los, não queremos apressá-los. Por isso mesmo, geralmente acontece que a lembrança mais bonita que resta de um amor são os primeiros beijos. A presença desses beijos apaixonados, mas cheios de respeito e ternura, é o que melhor indica um amor a sério, capaz de respeitar e de tomar o outro como algo profundamente sagrado, como alguém livre, do qual não sou o dono nem o senhor. Se faltam esses beijos lentos, pausados, trêmulos, pode indicar que o amor tenha deixado de ser um encontro de dois que se admiram, que se comtemplam, que se adoram, e passado a ser a soma de dois egoístas que se usam mutuamente para descarregar as necessidades primárias e acalmar os nervos”. É o que se lê nas páginas 16 e 17 dentro do mesmo sentido, encerrando o curtíssimo capítulo primeiro, qual seja, “Para que Serve um Beijo?”.

3. No capítulo seguinte, parece um conteúdo interessante a Encontro de Casais com Cristo ou ECC, pois traz quesitos práticos sob uma perspectiva concentrada naquilo que pôs inicialmente, ou seja, para se compreender suas colocações, deve-se sempre se basear na premissa, conforme constante na tese do início.

4. Depois, abordando “Que Dizem os Poetas” no próximo capítulo, explica um pouco do belo na arte, sobretudo do poder vital em um beijo, como está expresso na escultura de Antonio Canova, mas que escandaliza alguns incultos que não entendem o design da figura masculina sobrepondo com sua mão e antebraço os seios da imagem feminina para focar o ósculo ao invés do erótico no corporal, donde a sensualidade existe, mas que muito depende da ótica do observador, motivo pelo qual, escandalizando-se, leia o livro de Dom Víctor Manuel Fernández, que vai estar em link antes do final do artigo, para, talvez, adquirir uma capacidade menos lasciva à apreciação artística. Sobre as poesias, destaca inicialmente Gustavo Adolfo Bécquer, mas eis que também traz Miguel Hernández, membro do Partido Comunista da Espanha – PCE, incluindo Pablo Neruda, ateísta inveterado. Contudo, parece que sua locução acerca das manifestações poéticas, além de serem nitidamente utilizadas para corroborarem sua premissa, seguiu aquela máxima: gostei da obra; não do autor.
Então, tanto aos jansenistas (heréticos, vale a nota) quanto a Sigmund Freud, beijar significa algo secundário, nunca um gesto de amor em si.
5. Adiante, inaugura o capítulo “Os Anti-beijo” “sentando o sarrafo” no Sigmund Freud, quem teve visões (empoleiradas – entendedores entenderão) sobre ser tudo relacionado à sexualidade, donde o padre Víctor Manuel Fernández doutrora faz duras críticas e observa a vontade freudiana de reduzir tudo ao sexo como algo animal, instintivo, irracional etc. Porém, curiosamente, trouxe uma questão intrigante. Afirma que tal reducionismo não necessariamente se encontra nos seguidores do precursor da psicanálise, como Carl Gustav Jung (teísta) ou Émile Lacan (ateu), mas nos jansenistas, que têm por ícone contra a “concupiscência pecaminosa” São Luís Gonzaga, por ele supostamente evitar beijar sua mãe por medo de pecar por uma “concupiscência disfarçada”. Colocando que não poderia afirmar os jansenistas, explica que talvez Sigmund Freud não conta que muitas pessoas podem se procurar (desejar de maneira saudável) de diversas maneiras, mas não sexualmente, uma vez que, daí, implantar-se-ia uma realidade caótica na sociedade, donde transar seria mesmo a finalidade das relações interpessoais, mesmo entre pais e filhos – e o motivo de considerar seu trabalho conservador certamente tem a ver com isso aqui, algo que jamais os “teólogos da libertação” (lembrando que “teologia da libertação” não tem qualquer utilidade teológica) admitiriam diante de projetos progressistas, socialistas, comunistas que tentam impor na América Latina via Foro de São Paulo. Então, tanto aos jansenistas (heréticos, vale a nota) quanto a Sigmund Freud, beijar significa algo secundário, nunca um gesto de amor em si.

6. Quando pergunta ao povo em “O que Diz a Rua”, colocando fotos interessantes no capítulo como um menininho beijando sua irmã ou amiguinha e São João Paulo II dando um beijo em um bebê, coleciona uma série de opiniões das pessoas, mas sem levantar nenhum juízo de valor, o que é excepcionalmente honesto do ponto de vista que qualquer levantamento não daria aos questionados o direito de resposta, sendo, portanto, exposições para conclusões do leitor, mas que vale aqui perguntar: será que você consegue lê-las sem ser freudiano ou jansenista? Adiante, abordando “Um Beijo Infinito”, relaciona as diversas maneiras de beijar, incluindo como de fato há na relação de uma mãe que beijando perdoa as travessuras de um filho ou mesmo em objetos, como o caso da carta muito esperada (de um namorado que luta numa guerra, quem sabe). Trazendo outra importante catequese, explica na página 69: “Os cristãos creem que Deus é um mistério de três Pessoas que compartilham tudo, até mesmo seu Ser. Ali está o beijo infinito. E por ser infinitamente mais belo do que existe neste mundo, para nós é impossível imaginá-lo bem. Um só Ser, um só Deus, porque compartilham tudo; pois podem ‘compartilhar’ tudo porque são Pessoas distintas. Digamos então que o beijo se faz: possível quando eu me ponho de frente ao outro, aceitando-o e o amando como distinto de mim; mas ao mesmo tempo busco me fazer um com ele e estou disposto a compartilhar minha vida com ele”. Linha depois, reflete dessa forma: “Um beijo sem esta intenção peca contra sua própria essência. Como quando usamos a palavra para mentir ou para enganar”.

7. As mídias estão loucas, doidas para atirar Dom Víctor Manuel Fernández na Geena. Segundo a serpente, seria ele mesmo o “ghost writer” do Papa Francisco pela similaridade de expressões entre textos próprios de várias épocas e a exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laettia, como se Papa Bento XVI, que foi por 25 anos prefeito daquele Dicastério (quando era chamado Congregação antes da reforma da Cúria Romana) enquanto Cardeal Joseph Ratzinger, também não fizesse bom uso dos excelentes escritores dentre os membros do clero, muito embora gostasse de redigir propriamente seus textos na maioria dos casos. Assim sendo, cuidado com réplicas de matérias acusatórias, sobretudo de jornalistas que até foram expulsos da sala de impressa da Santa Sé, especialmente por vazamentos de documentos etc. Dentre alguns, eis um nome como ponto de muita cautela: Sandro Magister, empregado da revista progressista L’Espresso – alguém que não perde por esperar, pois há quem irá expor muito em breve seus ataques que atingiram Papa Bento XVI e o projeto de difamação que envolve até mesmo cardeal expulso do clero (graças ao Papa Franciso), quem tinha vinculação com uma máfia muito forte na Suíça e que é totalmente voltada a subversão da Igreja Católica.

8. No último capítulo, qual seja, “O Beijo Supermístico”, Dom Víctor Manuel Fernández, padre na época quando escreveu esse livro, conclui refrisando a união espiritual durante o beijo, conforme posto em tese, como se fossem apenas um, bastando consultar o Cântico dos Cânticos, relativo aos noivos, incluindo aqui ponderações místicas de Santa Teresa, quando tratava da relação monástica como se beijasse a Deus no sentido de criação de intimidade com Sua presença. Citando São Boaventura: “Na encarnação se realiza a união do Amor Infinito com nossa carne humana; união em que Deus nos beija a nós e nós beijamos a Deus”. Abaixo, segue uma cópia do obra – sendo certo não ter objeção do autor nisso.
9. E o beijo de Judas? Pergunta que não poderia ser esquecida, mas que dessa forma não foi bem colocada. Ao certo, diante do exposto, questiona-se assim: sabendo disso tudo, quem beijará Dom Víctor Manuel Fernández como sinal de traição? Paciência. Leia o livro e tenha cuidado como beija, pois pode acabar compactuando com jornalistas progressistas.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Não Beije como Judas! Enquirídio. Maceió, 10 jul. 2023. Disponível em https://www.enquiridio.org/2023/07/nao-beije-como-judas.html.

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