23.6.24

Do Real ao Surreal

Aquilo que foi posto por certas lições como sendo “imaginário”, resulta de adesão ou convenção, uma vez que por tal termo se obtém o que é próprio da imaginação, e o que é imaginativo não necessariamente é plausível à realidade, embora o ficcional possa ser usado como base ao real.
Salvador Dali. Cisnes Refletindo Elefantes.
1. Como se nota de um modo geral, “imaginário” termina sendo aquele conjunto de referências de um indivíduo, que ele vem acumulando ao longo da vida, porém, neste ponto relacionado aos proveitos obtidos ao experienciar a literatura e/ou cinema diante de características que poderiam ser universalizadas.

2. Referências que serviriam ao desenvolvimento do pensamento, embora não sendo óbvio se este se daria mais como ação intelectual ou reação sensorial, aonde nesta o “imaginário” provisiona o indivíduo com respostas que podem ser inconscientes enquanto naquela o pensar como atividade é amparada de maneira consciente.

3. Quem está preocupado com a famigerada formação do “imaginário” termina se ocupando justamente no afastamento das respostas automáticas, decorrentes de referências indesejadas, adquiridas por influência ou impingidas em engrama por algum trauma, embora todo esse empenho também possa ser uma reação.

4. Respostas automáticas não são necessariamente um problema se servem como impulso intuitivo amparado pelo intelecto. Ex.: defesa imediata, através de técnica acumulada por repetições, contra uma ameaça. Neste ponto, perante a agressão, pensar mais ainda ao invés de reagir suprimiria a aplicação do próprio conhecimento.

5. Conhecimento, seja teórico, prático ou ambos de uma só vez, não implica em “imaginário”. Ao assistir uma fantasia ou realizar a leitura de um romance, valores da realidade são percebidos na ficção, mas não sem previamente conhecê-los. Ex.: valores de amizade em “O Senhor dos Anéis”, que bem têm relações com algumas virtudes.

6. Destarte, aquilo que possibilita a identificação dos valores da realidade na ficção é o conhecimento. Um personagem de um conto pode demonstrar bravura e o leitor, embora perceba algo louvável, somente projete tal referência no “imaginário” sem que consiga ao menos inspirar-se ou imitar o exemplo ficcional perante uma situação real.

7. Lendo “O Senhor dos Anéis”, indivíduos que acumulam conhecimentos diferentes podem divergir a respeito dos valores de amizade. Enquanto um observa tal relação através das virtudes, outro, sem nem entender o que é virtuoso, apenas enxerga uma sociedade de interesses recíprocos — e o “imaginário” é permissivo.

8. Enquanto “O Senhor dos Anéis”, para um, torna-se um clássico, para outro vira mero entretenimento. Daí que aqueles mais inclinados às virtudes vão conseguir sempre extrair lições de quaisquer obras ficcionais, filmadas ou escritas, no intuito de somarem na memória as referências que contemplam os valores da realidade.
E o “imaginário” demanda a valoração do indivíduo, que não aderida ou convencionada, torna o real em surreal (vice-versa).
9. Ficções sempre ajudarão a perceber valores da realidade, bons ou maus, porém, identificáveis segundo determinados parâmetros, que são embasados no conhecimento, por sua vez, necessário ao pensamento. E o “imaginário” demanda a valoração do indivíduo, que não aderida ou convencionada, torna o real em surreal (vice e versa).
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Do Real ao Surreal. Enquirídio. Maceió, 23 jun. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/06/do-real-ao-surreal.html.

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