13.12.23

Os “Nãos” à Bíblia de Jerusalém

Não é que a Bíblia de Jerusalém tenha algum desvio, que até pode ter, mas não aos olhos de um leigo. Porém, ousar-se-á dizer agora que certas notas de rodapé na edição do Brasil são produtos de subversão – e o laicato, assim como parte do clero, há de entender a apreensão apresentada na sequência.
Duccio di Buoninsegna. Tentação de Cristo na Montanha.
1. Não é uma tradução longínqua, pois fora originalmente realizada em francês através da l'École Biblique et Archéologique Française de Jérusalem fundada e publicada em 1956 lá na França. Já no Brasil, sua edição inicial foi lançada em 1981, mas com revisão em 2002, acompanhando a francesa de 1998 – contextualizada sua história, passar-se-á ao problema.

2. Não vai ser preciso grandes esforços para perceber o seguinte: no Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos, consta no versículo um do primeiro capítulo “Pregação de João Batista – Princípio do Evangelho(a) de Jesus Cristo,(b) Filho de Deus.(c)”. Letras sobrescritas no original apontam notas de rodapé, sendo objeto do presente artigo apenas uma destas: a “c”.

3. Não se tem dificuldade de compreender as primeiras colocações desta letra “c”, cuja nota de rodapé contém este teor: “Este título não indica uma filiação de natureza, mas uma simples filiação adotiva, que implica uma proteção de Deus sobre o homem que ele declara seu ‘filho’, especialmente sobre o rei que ele escolheu”.

4. Não foi algo visto de logo pelo Enquirídio. Esta nota chamou atenção de um amigo experimentado na fé, quem pediu ajuda para identificar este teor. Graças a Deus temos São Tomás de Aquino, quem legou a Catena Áurea, compilação a pedido do Papa Urbano IV, reunindo a compreensão dos principais padres da Igreja Católica no período da patrística.
Não somente pelo nome invocou Cristo como Filho de Deus, mas também por Sua qualidade própria. Nós somos filhos de Deus; mas não um Filho de tal qualidade; Este, pois, é o Filho verdadeiro e próprio, pela origem, não por adoção; em verdade, não por nuncupação; por nascimento, não por criação.
5. Não à toa o segundo volume da Catena Áurea consta da citação posta acima, legada por São Hilário de Poitiers (300-368). Como se vê, Jesus Cristo, diferente da nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, tem Sua relação com Deus por origem; não por adoção, como é visto pelo entendimento de 360 na obra De Trinitate ou Tratado Sobre a Santíssima Trindade.

6. Não foi coincidência aquela nota de rodapé descartar a patrística e o empenho realizado na Idade Média por São Tomás de Aquino. É que a Bíblia de Jerusalém de edição em língua portuguesa teve como coordenadores e revisores exegetas: Frei Gilberto da Silva Gorgulho, O. P.; Padre Ivo Storniolo, e; Ana Flora Anderson – todos da famigerada Teologia da Libertação.

7. Não por acaso Dom Estêvão Bittencourt, O. S. B., que foi tradutor da Bíblia de Jerusalém (1ª e 2ª Coríntios), escreveu na página 514 da revista Pergunte e Responderemos de número 342 que Ivo Storniolo e Euclides Balancin (também revisor exegético junto aos outros três) preencheram a Edição Pastoral com traduções e notas inspiradas por ideologia marxista.
8. Não é que a Bíblia de Jerusalém, como dito, seja de toda ruim, mas com tais notas de rodapé, leigos do Brasil terminam sendo catequizados por uma leitura sociológica empenhada na luta de classes por uma “liberdade” (subversão) condenada por São João Paulo II em carta à CNBB em 1986 enquanto Romano Pontífice, como se nota no documento a seguir.
9. Não se faz tal alerta desde agora! Inverter a ordem soteriológica (salvação em Jesus Cristo) por uma sociologia marxista (subversiva, portanto) é o trabalho da infiltração socialista na Igreja Católica, que diz: “por um Jesus mais humano”. Anátema! “Nós não precisamos de uma Igreja mais humana; precisamos de uma Igreja mais divina.” (Cardeal Joseph Ratzinger).
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Os “Nãos” à Bíblia de Jerusalém. Enquirídio. Maceió, 13 dez. 2023. Disponível em https://www.enquiridio.org/2023/12/os-naos-a-biblia-de-jerusalem.html.

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