17.10.21

Escrever Certo por Linhas Tortas

Ao pesquisar na internet por assuntos da Santa Igreja, nossa gente encontrará um imenso desafio, começando pelas próprias organizações católicas, donde umas acusam o Papa Francisco de heresias e outras, hereges de verdade, embora sutilmente veladas, promovem um catolicismo completamente isento de caridade.
Retrato de Papa Francisco
Oscar Casares. Retrato de Papa Francisco.
1. Depois de refletir por algum tempo, sobre como poderia iniciar esta postagem, eis que apenas uma faz realmente sentido: dizer a verdade. Verdade que muitas pessoas estão sedentas por conhecimento – e a leitura é a água capaz de saciar esta sede, seja pouca ou muita, porém, sempre límpida. Acontece que algumas fontes fazem brotar água turva, donde alguns, desta, embebedam-se, talvez por desconhecerem o manancial único e eterno da Santa Igreja de Jesus Cristo, donde a sede é saciada não por leitura apenas, mas por uma presença que extrapola a percepção sensorial e preenche o âmago do homem de maneira que nenhum semelhante será capaz.

2. Dessas fontes que fazem brotar água turva, apesar de possuírem as substâncias principais, encontram-se misturadas com impurezas. Saindo da linguagem figurara para retornar ao contexto literal, algumas organizações católicas insistem em afirmar alguns escândalos, dentre tantos:
3. Dentre as falsas crenças disseminadas por muitos na internet a respeito da Santa Igreja, certamente a maior delas é a sedevacantista, responsável por inventar que desde o Concílio Vaticano II, senão antes disto, nossa gente está sem seu Papa. Mentira que implica afirmar que desde aquele tempo até agora a Igreja Católica foi descontinuada (destruída), fazendo surgir duas hipóteses: restauração do papado romano (impossível pelo fato da destruição pela descontinuação); ruptura total com Roma (como já ocorre em algumas pouquíssimas organizações católicas). Neste ponto, descarta-se imediatamente o segundo desdobramento, uma vez que nenhum sedevacantista admite a reforma protestante, restando, conforme percebido, restaurar o pontificado. Vale dizer que sedevacantista é qualquer pessoa que não admita o Papa Francisco ou pontífices anteriores, mesmo aqueles que foram e fizeram vítimas pelas controvérsias do mundo. Também é importante frisar o motivo pelo qual estas organizações continuam sendo chamadas neste Enquirídio de católicas: esperança de que voltem ao Caminho o mais rápido possível!

4. Quais motivos levaram essas pessoas a adotarem o sedevacantismo, incluindo os sacerdotes da Igreja Católica? Primeiramente, contrariedade com documentos promulgados pelo Concílio Vaticano II, incluindo a modificação no rito da missa. Agora, aquilo que ficou conhecido por Missa Tridentina, tornou-se “condução” litúrgica extraordinária. Esta alteração não apenas tem adoção por sedevacantistas, mas por outras organizações católicas que até admitem o Concílio Vaticano II, porém, rejeitando a extraordinariedade da Missa Tridentina. Além disso, mesmo a incompreensão do significado de ecumenismo, vez que tal reunião eclesiástica é ecumênica, acaba criando uma antipatia por qualquer possibilidade de diálogo, embora não necessariamente haja entendimento a respeito do caráter ecumênico. Porém, muitas dúvidas existem sobre a extraordinariedade da Missa Tridentina estar no centro da questão sedevacantista. Certamente é a questão mais observável por ser própria dos sentidos, sobretudo auditivos e visuais, motivo pelo qual acaba se tornando um ponto de incitação à discórdia e rupturas, embora, conforme lembrado anteriormente, rompimento não necessariamente é o desejo, mas uma restauração, embora se trate na verdade de retorno ao medievo. Portanto, quanto mais sensuais, voltadas aos sentidos, forem as alegações contrárias ao Concílio Vaticano II, piores serão as pretensões, uma vez que tal documento até tem pontos a melhorar, porém, evidentemente não com tamanha superficialidade, conforme acreditam aqueles que intentam contra a Santa Igreja para promoverem suas próprias verdades.

5. No Brasil, algumas organizações católicas tendem a adotar o sedevacantismo por aversão ao Papa Francisco, quando alguns dos membros acusam-no de heresias jamais cometidas. Apenas para exemplificar, apontam como discurso herético um trecho de resposta ao professor de teologia queniano, Manoel, disseminado parcialmente nas mídias sociais, onde o Papa Francisco diz andar sempre com duas coisas no bolso: um rosário e a “história do fracasso de Deus”. Evidentemente que diante de um recorte propositado da exposição do Santo Padre, somando-se a nenhuma ou pouquíssima catequese, qualquer pessoa é levada a acreditar que Deus realmente fracassou. Porém, talvez para infelicidade dos céticos que insistem em desviar a caridade da Igreja Católica, bastou encontrar o discurso completo do Papa Francisco, realizado na capital do Quênia, Nairóbi, diante de 70 mil espectadores, provavelmente todos católicos, para perceber que herético são aqueles que acusam o pontífice insistentemente, tirando-o de contexto de maneira cruelmente covarde. Aquele trecho, maldosamente circulado nas mídias sociais, referia-se ao final da resposta do Papa Francisco a seguinte pergunta:
Como podemos entender que Deus é o nosso pai?
Como podemos ver a mão de Deus nas tragédias da vida?
Como podemos encontrar a paz de Deus?
6. Entenda: naquele país, visitado naquela época de 2015 por Papa Francisco, muitas pessoas foram e ainda são vítimas de conflitos internos, valendo lembrar que o Quênia tem mais da metade de sua população vivendo em condições de pobreza. Imagine agora, diante desta realidade, sabendo que em 2013, naquele mesma capital queniana onde o Papa Francisco precisou responder tal pergunta, muitas pessoas foram assassinadas num atentado praticado por um grupo terrorista muçulmano dentro de um shopping center. Pouco tempo depois, por assassinos do mesmo grupo, outro ataque terrorista em 2014 foi realizado na cidade de Mpeketoni, matando mais algumas pessoas. Naquele ano de 2015, mais precisamente em 27 de novembro, quando o Papa Francisco respondeu ao professor de teologia queniano, incluindo seus 70 mil compatriotas, cidadãos do Quênia, presentes no Estádio Nacional de Nairóbi somente para ver e ouvir o Santo Padre, quase 150 pessoas tinham sido mortas em abril do mesmo ano, noutro atentado terrorista dentro da Universidade de Garissa, sendo certo que a autoria destes três atos bárbaros fora assumida pela Al-Shabaad (A Juventude, em árabe), grupo terrorista islâmico proveniente da Somália e ligado à Al-Qaeda fundada por Osama bin Laden. Neste Contexto, responde o Papa Francisco:

7. “Olha, esta pergunta se fazem os homes e mulheres de todo mundo, de um modo ou de outro, e não encontram explicações, mas um: há perguntas que por mais que quebrem a cabeça, você não vai encontrar respostas. Como ver a mão de Deus numa tragédia? Há uma só. Eu queria uma só resposta, mas não. Não é uma resposta. Há um só Caminho. Olhar para o filho de Deus. Deus o entregou para salvar todos nós. Deus mesmo se fez tragédia. Deus mesmo se deixou destruir na cruz. E quando você não entende algo, quando estão desesperados, quando o mundo vem para cima, olhem para Cruz. Ali está o fracasso de Deus. Ali está a destruição de Deus, mas também ali está o desafio para nossa fé: a esperança! Porque a história não terminou nesse fracasso. Mas sim na ressurreição que nos renovou a todos. Gostaria de contar, fazer uma confidência [e o Papa Francisco interrompe a resposta, perguntando se querem ir embora para almoçar, pois o relógio marcava meio-dia – ao que recebeu um amistoso não descontraído]. Vou fazer uma confidência. No meu bolso, trago sempre duas coisas: um rosário para rezar, e; uma coisa que parece estranha. O que é isto? Isto é a história do fracasso de Deus. É uma Via Sacra. Uma pequena Via Sacra. E como Jesus foi sofrendo [e enquanto o Papa Francisco falava, apontava os pequenos quadros contidos no objeto, uma espécie de carteira, que representavam a Via Sacra]. Dizem que o condenaram até que foi sepultado. Com estas duas coisas me arranjo como posso. Porém, graças a estas duas coisas, não perco a esperança”.
8. Caso não queira assistir a íntegra do discurso, inicie o vídeo no tempo 35:17. Onde o Papa Francisco comete heresia? Resta saber que ele apenas respondeu ao teólogo queniano mostrando a operação da virtude teologal da esperança (CIC 1813), conforme Paulo na primeira carta aos coríntios: “por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade.” (I Cor. 13, 13). Também vale recobrar da nossa gente a memória de Jesus Cristo, quando escandalizou Pedro ao revelar que Ele teria de morrer, sendo condição para ressuscitar e vencer a morte. Assim, realmente, quem poderia discordar do Papa Francisco ao explicar que existe apenas um Caminho? Como confundir esperança com heresia? Como um discurso pode ser tão distorcido ao ponto de toda beleza das colocações pontifícias, sobretudo diante de um povo massacrado, deveras arruinado por guerras civis e ataques terroristas, acabar se tornando uma campanha para desfigurar o Papa Francisco? Só um pensamento ocorre: obra demoníaca, mas não recente, mas nem tão antiga. Neste ponto, valeria apontar com baixíssimo interesse neste momento, exceto para salvaguardar os curiosos das malícias, algumas possibilidades que ocorrem constantemente no Brasil, sobretudo através da literatura:
9. Aqueles que sustentam a ruptura da Santa Igreja corroboram com planos que sequer conhecem, muito menos sua autoria. Direta ou indiretamente, quaisquer que endossem posturas de cisão na Igreja Católica tendem aos discursos mais subversivos existentes, objetivando alcançar principalmente nossa gente através daqueles que até possuem simpatia por Jesus Cristo, porém, ainda de forma distante, quando mais lhes apetecem filosofias sofisticadas ao invés das simples catequeses. Neste sentido, bastariam poucas instruções vindas de organizações católicas, porém já infiltradas pelo pensamento subversivo, para mobilizarem um efetivo de pessoas a disseminar os erros filosóficos cátaros, averroístas ou gnósticos da idade medieval (embora a origem das três formas de pensar seja realmente muito mais remota, sendo traçada aos tempos das primeiras civilizações mesopotâmicas), porém, ecoados nos tempos atuais sob outras denominações. Inúmeros teólogos de última hora surgiram destes comandos para julgarem a hierarquia da Santa Igreja e engolirem com autoritarismo literário um laicato que somente agora está despertando para leitura atenta das coisas sobre Nosso Senhor e sua esposa: a Igreja Católica Apostólica Romana. Neste ponto, vale realmente a pena realizar uma leitura de cabo a rabo do Catecismo, aquele livro amarelinho de trocentas páginas (lendo 25 páginas por dia é possível encerrar seu conteúdo em apenas um mês, embora muitas dúvidas ainda devam permanecer – o que não é nada anormal, muito pelo contrário), intercalando com leituras bíblicas e obras de santos ou “canonizadas”, como a Imitação de Cristo de Tomás de Kempis (favor não confundir com outra obra de mesmo título, usurpado por Leonardo Boff para subverter a mística cristã presente no texto original com a miopia astigmática marxista). Finalmente, após toda exposição, escrever certo por linhas tortas jamais foi uma possibilidade para Deus, pois Ele escreve certo por linhas certas, sempre! Assim sendo, como derradeira colocação, que nossa gente beba somente água límpida, brotada do manancial único e eterno: a Santa Igreja.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Escrever Certo por Linhas Tortas. Enquirídio. Maceió, 17 out. 2021. Disponível em https://www.enquiridio.org/2021/10/escrever-certo-por-linhas-tortas.html.

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