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Odilon Redon. Diabo Leva uma Cabeça no Ar. |
2. Experiências para implantar memórias durante os anos 70 e 80, inicialmente, terminaram utilizando psicotrópicos e alucinógenos à realização duradoura de um sugestionamento ou série deste. Para isso, começaram com experimentos em laboratórios, porém, pouco tempo depois, expandiram para dimensões mais extensas.
3. Seja em laboratórios ou ambientes mais ampliados, sempre tinham que isolar a pessoa, primeiro entre quatro paredes, mas, depois, conceitualmente, através de seitas ou movimentos ideológicos. Então o sugestionamento é realizado na medida em que os indivíduos se fecham na mente em proveito de ideias e vícios.
4. Como isso pode acontecer? Isolando-se alguém em um laboratório e proibindo sua saída de lá, basta estimular sua mente a receber recompensas como sinal de que os comportamentos adotados por ela não são passíveis de punição, ou seja, tratando-a a compreender as coisas tão somente de maneira binária: ganhando ou perdendo.
5. Se as coisas estão agora resumidas em ganhar ou perder, basta, então, associar o que é relativo ao ganho (recompensa) e o que é passível de perda (punição). Um comportamento “X” aceitável é confirmado dando uma coisa para esse indivíduo ao concluir o conjunto de ações, associando-se às condutas desejadas pelo experimento.
6. Quando esse conjunto de ações desinteressam à experiência, negam-lhe até mesmo o que é daquela pessoa por direito, privando-a, sobretudo de necessidades básicas — grave bem isso aqui! Porém, saber como se comportar nesse experimento demanda conhecer alguma regra básica, ditada ou formada ao longo da experiência em isolamento.
7. Depois de condicionar o indivíduo para fugir da punição e buscar a recompensa, sendo ele posto para fora do laboratório, agora usará a mente de maneira a rastrear padrões que indiquem a possibilidade de recompensa, enquanto procura se afastar de tudo o que é indicativo de punição. Talvez acerte às vezes, porém, errando de vez em quando.
8. Acontece que ele não foi programado para rastrear esses padrões, mas tão somente buscar recompensa e evitar a punição. Como ele faz isso para além de um laboratório varia um pouco, porém, limita-se em usar da mente para saber mais ao invés de intuir absolutamente tudo através de erros e acertos, como fazem tantos.
9. Aos que usam a mente para saber mais, conhecimentos são transmitidos de maneira a associar certas ideias a modelos de pensamento e comportamento para que daí sejam admitidas como padrões rastreáveis. Já os apenas intuitivos poderão estar subordinados, direta ou indiretamente, aos que procuram por informações.
10. Essas informações, que dão sentido aos modelos de pensamento e comportamento, não são exatamente conhecimentos verdadeiros, embora possam se valer de verdades para ditar o que é binário (recompensa e punição) de maneira mais sofisticada, realizando sua transmissão por intermédios, que são extensões dos laboratórios.
11. Embora livre, está preso ainda, posto que essas extensões dos laboratórios, nitidamente conceituais, procuram causar o mesmo efeito de isolamento, privando o indivíduo repetidamente até que, pelo nível de exposição às “paredes invisíveis”, deixe de notar outras possibilidades, ao que se chama essa prática de alienação mental.
12. Por que realizar uma alienação mental importa ao sugestionamento? É que a limitação do indivíduo é crucial à eficácia das sugestões. E a maneira mais eficiente à imposição de limites é através da falsa ideia de liberdade, na qual as coisas podem ser feitas, contanto que obedeçam certos modelos de pensamento e comportamento.
13. Nisto, Jiddu Krishnamurti (1985-1986), cujo teor teosófico presente em tantas outras percepções deste autor não tem apoio deste Enquirídio, salienta que “não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade profundamente doente”, donde, neste ponto, adaptar-se significa admitir as extensões dos laboratórios.
14. Assim sendo, recompensa e punição é a binariedade estabelecida à alienação mental. Saber o que é compensatório e o que é punitivo seria razão óbvia se as “realidades” produzidas pelas extensões dos laboratórios não mudassem os modelos de pensamento e comportamento o tempo inteiro em sociedade relativistas.
15. É a confusão necessária ao sugestionamento, pois, para implantar algo na memória do indivíduo sem que ele perceba, precisa-se montar certas lógicas que façam com que ideias se alojem e fechem lacunas geradas pelos ruídos, que é uma estratégia para confundir a mente — o que é impossível sem aquela binariedade.
16. Aquela binariedade é a medida que conduz a mente à inércia ou ausência de pensamento, enquanto a confusão se incumbe de provocar algo semelhante à anestesia. Nesta breve operação é que o sugestionamento acontece, quando o indivíduo, tolhido do raciocínio necessário, move-se respondendo aos estímulos que lhes são emitidos.
17. Significa dizer que ele deve ser sugestionável. Para isso, requer que esteja em contato com tais “realidades”, passando por experiências instintivas — quanto mais, melhor — diante das grandes confusões causadas pelos ruídos, que por sua vez são informações que contém lacunas, projetadas para que sejam fechadas por estímulos.
18. Não é uma coisa tão somente intelectual, já que se dá em todos os níveis, se assim se pode dizer. E o sugestionamento deve corresponder às “realidades” do indivíduo, reforçando a necessidade de que ele se ponha sob limites, que por sua vez aparecem mais como ideias em seitas ou movimentos ideológicos, ao invés de paredes concretas.
19. Entretando, atualmente o próprio estado é a “parede invisível” quando tem seu poder de fazer ou parar assaltado por governantes. É o que George Orwell (1903-1950) descreve em “1984”, frisando como esta operação se concretiza na manutenção da mentalidade de um povo já alienado, integralmente sugestionado.
20. Uma das ferramentas mais utilizadas para conduzir os indivíduos à binariedade de pensamentos e comportamentos é a sexualidade àqueles mais intuitivos; e a soberba aos que usam a mente para saber mais. E o mecanismo ideal comum para preservá-los constantemente em confusão é o medo irracional e o amor utilitário.
21. Evidentemente, podem existir aqueles que são intuitivos, mas que usam a mente para saber mais ou vice e versa. Neste ponto, indivíduos assim terminam sendo duplamente expostos aos ditames das extensões dos laboratórios, que por sua vez são entidades que têm controle sob ferramentas e mecanismos ao sugestionamento.
22. Em um determinado momento, indivíduos começaram a adotar certos pensamentos e comportamentos que anteriormente não aconteciam. Essas entidades de imediato forjam argumentos para validarem tais condutas. Contudo, precisam introduzir na memória que tais são próprias de cada um. Como ela faz isso?
23. Na cultura é que a memória é alterada, quando cinema, música, teatro, literatura, arquitetura, tornam-se utilitários para reforçar a normalidade daqueles pensamentos e comportamentos, geralmente alterando informações históricas ou controlando narrativas até que aqueles mesmos indivíduos assumam esse papel, perpetuando esse fenômeno.
24. Contudo, os sintomas de que tal projeto não deu certo é visto na crescente descrença de si mesmo e a busca pela abreviação vital, donde viver deixa de ser um dom, tornando-se um fardo digno de interrupção. Consequência da perda de identidade do indivíduo, quando a confusão excede a dose e o medo e o amor já indicam a mesma coisa.
25. Também são sintomas a comunicação exacerbada, que nem informa, muito menos forma. Trata-se da acumulação de dados (ruídos) inúteis ao indivíduo, porém, necessários ao sugestionamento. Se um indivíduo observa o todo por sua parte, adota como demais partes aquilo que são próprias da convicção, sem que saiba como ela foi formada.
26. Como quem diz ser “melhor um rei na democracia do que um reinado democrático”, porém, adicionando um “mas” em justificação, quando afirma “contanto que o rei sempre seja quem eu quiser” — e o pensamento não consegue entender os conceitos, pois está convicto de que um rei corresponde à democracia ao se perpetuar como em um reinado.
27. Ou como um comportamento irracional assumido pelo sugestionamento, quando ao tomar uma decisão, procura condizer o indivíduo com uma máxima — de um povo em contante processo de alienação — que diz “acordam todos os dias no Brasil um esperto e um idiota”, sendo lógico para ele não querer ser idiota, mas tão somente o esperto.
28. Deste jeito é que a confusão cumpre seu objetivo, subvertendo as coisas às massas no intuído de sempre, para elas, possuir o controle através do sugestionamento. Conclusões que diversos indivíduos confirmam indagando “não foi sempre assim?” sem que entendam como isso realmente foi originado na memória.
29. As ideias, como iscas, precisam ser lançadas. Em um determinado momento mais propício, poderá um peixe grande ou um cardume inteiro mordê-la. Acontece que tais não são colocadas sem que tenham algo por trás, gratuitamente, isentas de intenção. Na verdade, lançam-nas encobrindo os azóis.
30. Mordendo-as, isto não quer dizer que não viram os azóis; significa somente que seguiram as iscas, sejam nas formas de soberba (aos que usam a mente para saber mais) e/ou sexualidade (aos intuitivos), onde o peixe grande e o cardume se igualam no sugestionamento, cujo real interesse está no controle das massas.
31. Portanto, como não podem simplesmente despejar os indivíduos em um aquário perante um sistema de liberdade, condicionam-na ao sugestionamento, onde os mais livres se tornam os mais presos, embora não tenham a mínima ideia disso. Como para isso a confusão não cessará, muito menos o medo, “que é” amor, como fugir disso?
32. Drogas. Buscar o literal entorpecimento do cérebro para aliviá-lo do peso da mente. Acontece que tais têm efeitos que vão depender de doses cada vez mais altas até que, finalmente, possa acontecer aquilo que foi exposto no parágrafo 24. Além disso, quando muitos se drogam, afirmam existirem aquelas extensões de laboratórios.
33. Se se drogam, dizem, noutros termos, estarem presos dentro de alguma prisão com as tais “paredes invisíveis”. Ou seja, essa liberdade que acreditam usufruir é ilusão. Agora, resta saber se as drogas são apenas as substâncias químicas, ou se podem ser “injetáveis” também por outras vias, através de outros instrumentos?
34. As vias ou os instrumentos não são tão importantes como premissas para responder esta questão, pois importa, antes disso, definir os sintomas e consequências da utilização de substâncias químicas e comparar com semelhantes decorrências para concluir se podem ser ou não drogas.
35. Por tal análise de efeitos, pode-se observar que indivíduos atingem estados eufóricos ou depressivos, sem que consigam racionalizar os acontecimentos, já que se encontram muitas vezes em estágios de tormento por tais coisas, que não são idênticas às substâncias químicas, mas que são drogas por semelhança.
36. Assim é que o uso imoderado de tecnologias tem apresentado sérios riscos à saúde do indivíduo, sendo o pior deles constatado pela equivalente dependência causada no usuário, como se fosse uma droga, da qual se livrar pode não ser fácil. Televisores, computadores e celulares, por si só, são instrumentos. Resta saber quais as vias.
37. Portais de notícias e perfis de noticiários em mídias sociais, assim como muitos daqueles que receberam pelas extensões de laboratórios a alcunha de influencers digitais, incluindo todos que lidam com cultura, utilizam as vias, pois, por si só, não podem ser assim admitidas. Então, quais são elas afinal?
38. Ambientes fechados, mesmo na internet, podem ser tidos como as tais vias, onde as confusões e o medo, “que é” amor, terminam tendo seus efeitos ampliados. De fato, as mídias sociais não são outra coisa senão verdadeiros laboratórios, ao que as questões levantadas, nesses lugares on-line, retornam à origem da experiência.
39. Apenas para ilustrar, um experimento massivo realizado no Facebook em 2014, atingindo 608.003 usuários, comprovou o que é chamado pelos engenheiros do comportamento de “contágio emocional”, ou seja, de que os indivíduos, expostos à conteúdos negativos, tendem à negatividade, ocorrendo igualmente no inverso. 40. Observe que não são pesquisadores, mas tão somente engenheiros do comportamento, uma vez que aquele experimento massivo na mídia social, portanto, virtual, afetou os indivíduos na realidade, gerando respostas isentas de consciência aos estímulos emitidos no Facebook, próprios do que se pode dizer sobre sugestionamento.
41. Não à toa a segunda executiva mais poderosa do Facebook, Sheryl Sandberg, conforme informações do jornal inglês The Guardian, precisou se desculpar pelo que ficou caracterizado como teste psicológico massivo e secreto, diga-se de passagem bem-sucedido — o que é preocupante. Em 2015 este Enquirídio publicou algo sobre isso tudo. 42. Inclusive, no artigo O que o Facebook Esconde de Você, evidenciou-se as correlações entre iniciativas da referida mídia social (ao sugestionamento de usuários) e o interesse do governo Brasileiro, quando aquela oferecia cobertura de internet gratuita à indivíduos de baixa renda para este — anteriormente ao impeachment de Dilma Rousseff.
43. Diante desse sugestionamento, sobretudo se expostas com frequência a ambientes onde isso acontece, os indivíduos se transformam em replicantes, ativados por estímulos e estando suscetíveis ao controle mental, lembrando do anestesiamento que sofrem por uma das facetas causadas pela binariedade já relacionada no parágrafo 16.
44. Inúmeros silogismos são utilizados ao fechamento da aparente informação (como a isca), mas que tem por traz uma intenção ruidosa (como o anzol). Então, entre “A” e “E” como sendo partes da ideia geral, por uma lógica rápida os termos faltantes seriam “B”, “C” e “D”, mas em qual contexto? Alfabético ou só acerca das vogais?
45. Os implantes de memórias no sugestionamento dependem de conclusões de um todo pelas partes, o que é feito pelos estímulos apropriados, verbais, visuais, sonoros, gestuais dentre tantos, canalizando os indivíduos por informações verossímeis o suficiente para jamais terem dúvidas da veracidade que aparentemente comportam.
46. Se “A” e “E” quer dizer o todo da coisa, como saber? Questionando. Uma das habilidades mais primordiais é questionar, perguntar sobre isso ou aquilo, como fazem as crianças ao aprender. Os sugestionamentos não sobrevivem aos questionamentos — lembre-se sempre desse antídoto. Ninguém será sugestionável se puder pensar.
47. Entidades que têm controle sob ferramentas e mecanismos ao sugestionamento já se posicionaram contra o poder de pensar do indivíduo ao policiarem não só as vias, mas os instrumentos, originando a expressão “polícia do pensamento” ao se referir ao cerceamento de liberdades de maneira discricionária — releia o sexto parágrafo!
48. Talvez o próximo passo seja usar “Precogs”, como no filme “Minority Report”, no intuito de prever os crimes, que não serão outra coisa além dos pensamentos destoantes do experimento. Como ao menos os “policiais do pensamento” já existem, significa que maioria já se encontra alienada aos contantes sugestionamentos.
49. Então a coisa é quase como em “Matrix”, filme no qual ao protagonista são apresentadas escolhas: pílula azul, para permanecer como está, ou; pílula vermelha, para conhecer a realidade — e o efeito deste artigo não é nem uma, nem outra, mas uma personificação de “Morpheus” ao dizer “só posso lhe mostrar a porta”. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Sugestionamento. Enquirídio. Maceió, 27 mar. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/03/sugestionamento.html.
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