Caravaggio. Expulsão dos Mercadores do Templo. |
2. Quem deve fazer essa evangelização? Em resumo, qualquer batizado tem tal obrigação, como se nota no último parágrafo do ponto 35 da Constituição Dogmática Lumen Gentium. Ressalta-se que os poderes do Magistério, naquilo que vincula uma coisa aos católicos do mundo inteiro, advém da sucessão apostólica, como você pode conferir no artigo Sim, Pedro é Pedra, para evitar haver alguma dúvida a respeito do assunto. Porém, enquanto evangelizar, para o leigo, acontece em ações do cotidiano, seja no trabalho, durante os estudos ou mesmo em evento próprio para isso (reunião de amigos, confraternização, convívio familiar etc.), para quem recebeu o Sacramento da Ordem, trata-se de ofício contínuo e perpétuo, pois, como posto no Código de Direito Canônico, configura-se totalmente legítima a exigência ao sacerdote para que fale, anuncie o Evangelho, sendo-lhes dever grave catequizar crianças, jovens e adultos (Cân. 762). Todavia, deve-se lembrar: “A ninguém é lícito coagir os homens a abraçar a fé católica contra a sua consciência.” (Cân. 748, § 2). Não à toa, compete-lhes isso pelo meio mais eficiente, incluindo os instrumentos de comunicação social, estando incluída a internet, donde deverá, visando a manutenção da unidade da Igreja Católica, vigiar aquilo que escrevem por catolicismo, principalmente para que não gerem danos aos fiéis, motivo pelo qual devem reprovar o que é nocivo à ortodoxia da fé (Cân. 823). Inclusive, poderão pregar a palavra de Deus em toda a parte os bispos, estando aí incluídos os presbíteros (padres) e diáconos, exceto estes por disposições específicas (Câns. 763 e 764). Os cânones se estendem em diversas outras situações, mas por agora, valem os dados já relacionados para que seja possível abordar o tópico de maneira mais apropriada.
- Constituição Dogmática Lumen Gentium (Vaticano).
- Código de Direito Canônico (Vaticano).
4. Dito isto, note que para participar da Celebração Eucarística, exceto saber as formas de se portar, inexistem impedimentos, exempli gratia, para quem ainda está em pecado, existindo para este impedimento de comungar por não estar em Estado de Graça (assunto que demanda abordagem mais apropriada). Assim sendo, como o rito litúrgico tem seu propósito essencial na consagração, lembrando o Evangelho de Nosso Senhor, “fazei isto em memória de Mim”, segundo São Lucas, torna-se crucial manter nossa gente livre dos erros restritivos à recepção do Sacramento da Comunhão. Assim é que o Código de Direito Canônico, que não faz outra coisa senão disciplinar de maneira objetiva aquilo que foi ordenado por Jesus Cristo, dispõe acerca das obrigações sacerdotais e laicais sobre a necessária evangelização, sem a qual não é possível entender os mandamentos de Deus. Observe que não parece existir um único ponto do mistério da fé passível de dissociação desta determinação evangelizadora, que não poderia jamais se realizar através de um mercado, comprando e vendendo as realidades espirituais da Igreja Católica. Santo Agostinho na Catena Aurea, compilada por São Tomás de Aquino, ensinando a respeito da expulsão dos vendedores no templo, explicou: “Ou ainda: esses vendedores figuram aqueles que, na Igreja, buscam os próprios interesses e não aos de Jesus Cristo. Estes têm quanto há no mundo por venal, porque não almejam senão lucrar: assim pensava Simão, que desejou comprar o Espírito Santo para que pudesse, de seguida, vendê-lo. Como efeito, ele era como um destes que vendiam pombas, pois que é sob a forma deste animal que o Espírito desejou aparecer; ora, essa pomba não é objeto de comércio, mas oferecida de graça, porque é graça”. No contexto histórico-canônico, vender ou comprar uma ordenação é Simonia, portanto, inválida, mas o que é que temos de ponto de vista da comercialização dos ensinamentos da Tradição, Magistério ou Sagradas Escrituras que não poderia ser semelhante? Apenas para ilustrar, mesmo uma carta encíclica de um papa somente é acessada on-line, através da página do Vaticano, ou adquirida fisicamente, comprando uma reprodução impressa – e a pecúnia, relativa ao dinheiro, acaba surgindo como forma de solução se os preços praticados são apenas para permitir o devido conhecimento da informação. Verdade que provedores de internet pensam na lucratividade quando fazem suas ofertas, mesmo que sejam em conta, mas uma iniciativa que se diz católica tem que entender, por sua natureza religiosa, que uma percepção pecuniária é relativa à sustentação de operação mercantil, como é o caso de pagar funcionários, equipamentos, impostos etc. Também não parece incorrer naquilo que expôs o santo se as realizações de um sacerdote ou comunidade, envolvendo relações de mercado, estejam explicitamente explicadas. Sem que pudesse o dinheiro circular, dificilmente o serviço eclesiástico sobreviveria, direta ou indiretamente, conforme canonicamente disciplinado pela Santa Sé.
5. Acontece que nos tempos de Jesus Cristo, ainda existia em Jerusalém o Segundo Templo, construído pelo descendente de Davi, Zorobabel, depois de deixar o Cativeiro da Babilônia. Lá estavam os mercadores mencionados no Evangelho de Nosso Senhor por São João: “Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas sentados às suas mesas. Tendo feito um chicote de cordas, expulso-os a todos do templo, e com elas as ovelhas e os bois, deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou as suas mesas. Aos que vendiam pombas disse: ‘Tirai isto daqui, não façais da casa de Meu Pai casa de comércio’. Então lembram-se os Seus discípulos do que está escrito: ‘O zelo da Tua casa Me consome’.” (Jo 2, 13-17). Agora, preste muita atenção nos versículos seguintes: “Tomaram a palavra os judeus e disseram-lhe: ‘Que sinal nos mostra para assim procederes?’. Jesus responde-lhes: ‘Destruí este Templo e o reedificarei em três dias’. Replicaram os judeus: ‘Este Templo foi edificado em quarenta e seis anos, e Tu o reedificarás em três dias?’. Ora, Ele falava do Templo do Seu corpo. Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os Seus discípulos lembraram-se do que Ele dissera e acreditaram na Escritura e nas palavras ditas por Jesus.” (Jo 2, 18-22). Significa que Ele não destruiu ou desejou destruir aquela edificação, erguida por Sua linhagem, mas daquilo que foi explicado pelo evangelista: “Ora, Ele falava do Templo do Seu corpo.” (Jo 2, 20). Assim sendo, parece que nenhum raciocínio rebuscado seja necessário para compreender o ponto a seguir.
6. Se Jesus Cristo fala que o pão é Seu corpo, e que o Templo é o Seu corpo, mesmo com patente diferença entre estes, significa dizer que Seu corpo nunca foi apenas uma realidade tangível, mas uma que pudesse ser vivenciada, sobretudo misticamente, donde São Paulo ao escrever aos Colossenses afirma: “Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja.” (Cl 1, 18). Assim é que a Igreja Católica é o Corpo Místico de Nosso Senhor, mesmo porque, como tese mínima, inexistia qualquer construção que pudesse ser associada para tanto, mas por ser, como tese máxima, instituída sobre Pedro, resta óbvio Sua transcendência, senão como consta: “Respondendo Simão Pedro, disse: ‘Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo’. Respondendo-lhe Jesus, disse-lhe: ‘Bem-aventurado és, Simão filho de João, porque não foi a carne e o sangue que to revelaram, mas Meu Pai que estás nos Céus. E Eu te digo: que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos Céus, e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos Céus’.” (Mt 16, 17ss). Aqueles que reclamam dessas implicações, uma vez que Nosso Senhor conjugou o verbo “dar” ainda no futuro do presente do indicativo, certamente apontam a passagem onde São Pedro resta advertido por não desejar a morte de Jesus Cristo quando Ele predisse aos discípulos, embora também tivesse predito Sua ressurreição, pois pelo fato narrado, “jamais aquele homem incrédulo poderia ser fundação da Igreja de Cristo” (palavras sopradas, que não merecem atenção). Então seria mister explicar o episódio da terceira aparição de Nosso Senhor ressuscitado junto do mar de Tiberíades: “Depois de comerem, disse Jesus a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes?’. Ele respondeu: ‘Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo’. Jesus disse-lhe: ‘Apascenta os Meus cordeiros’. Voltou a perguntar pela segunda vez: ‘Simão, filho de João, amas-Me?’. Ele respondeu: ‘Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo’. Jesus disse-lhe: ‘Apascenta as Minhas ovelhas’. Pela terceira vez disse-lhe: ‘Simão, filho de João, amas-Me?’. Pedro ficou triste porque, pela terceira vez, lhe disse: ‘Amas-Me?’, – e respondeu-Lhe: ‘Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo’. Jesus disse-lhe: ‘Apascenta as Minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando tu eras mais novo, cingias-te e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não queres’.” (Jo 21, 15-18). Mesma quantidade de negações de outrora se tornaram afirmações para com todo zelo pelo povo de Deus.
Noutros termos, seria o mesmo que São Pedro ser apascentado pelas ovelhas de Jesus Cristo – inversão completa!7. Toda essa informação é explicitada na tentativa de mostrar quão unitária é a Igreja Católica, pois, como dito, tratar de um aspecto d’Ela significa observar sua integridade. Também se constata que qualquer verdade a respeito das realidades espirituais que lhes são próprias contém sua totalidade – e a fração nunca pode ser verdadeira, pois disse Nosso Senhor: “Seja o vosso falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que passa disto, procede do Maligno.” (Mt 5, 37). Assim sendo, como está proibido as meias-verdades ou dúvidas completas, ou se evangeliza ou se abstém de fazê-lo, pois quem assim ousar prosseguir, novamente encontrará no Evangelho de Nosso Senhor, segundo São Mateus, basicamente na passagem dos hipócritas e fariseus (Mt 23, 13-36), duras palavras contra certas atitudes, como as que se destacam: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que fechais aos homens o Reino dos Céus, pois nem vós entrais, nem deixais que entrem os que quereriam entrar. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que correis o mar e a terra para fazerdes um prosélito [pagão convertido ao judaísmo] e, depois de o terdes feito, o tornais filho da Geena [Inferno], duas vezes pior do que vós.” (Mt 23, 13.15). Depois dessas pesadíssimas advertências, retorna-se ao ponto chave deste artigo: como é que a evangelização poderia, nem que por míseros instantes, tornar-se um objeto de compra e venda se sobre ela recai todas as coisas da Santa Igreja ou mesmo o próprio Jesus Cristo? Pior! Como causar pavor à nossa gente no intuito de comercializar aquilo que aos sacerdotes é obrigatório fornecer gratuitamente? Suponha que determinado presbítero esteja vendendo um simples cursinho on-line sobre a Santa Missa. Para isso, utiliza de ciências aplicadas para comunicar sua proposta ao público, porém, através de lógicas argumentativas que são claramente projetadas para quem pouco ou nada conhece a respeito da Celebração Eucarística. Eis que uma determinada campanha de marketing veicula as seguintes informações: “se você fica a maior parte do tempo disperso; se você não entende o que está sendo rezado; se você não realiza o devido culto a Deus Pai; se você não colhe os frutos na semana: isso tudo continuará acontecendo se você não decidir, de uma vez por todas, como aprender a viver bem a Santa Missa” – e o botão “quero aprender tudo sobre a Santa Missa” aparece em seguida, juntamente com supostos bônus adicionais, mas que são exatamente aquilo que jamais um pastor poderia se eximir de ofertar de forma gratuita. Noutros termos, seria o mesmo que São Pedro ser apascentado pelas ovelhas de Jesus Cristo – inversão completa! Acontece que atualmente ninguém com acesso à internet precisa pagar por coisas assim. Tudo isso é dado pelo Espírito Santo, pois como ente vivo em um mistério trinitário, movimenta absolutamente tudo para inspirar as ações do povo de Deus no sentido de cumprir as vontades de Nosso Senhor sem criarem reservas. Assim sendo, compete ao Enquirídio, enquanto obra leiga, oferecer uma coleção de artigos sobre o Sacramento da Eucaristia: a) Você pode começar a entender ou revisar sua compreensão acerca da Santa Missa de maneira simples, através de materiais como estes:
- Catequeses Sobre a Santa Missa (Papa Francisco).
- Entender e Viver a Missa (Opus Dei).
- Como Funciona o Ano Litúrgico (Rumo à Santidade).
- Símbolos e Objetos Litúrgicos (A Hora da Missa).
- Significado das Cores do Ano Litúrgico (Opus Dei).
- A Santa Missa e Eucaristia (Opus Dei).
- O que é a Consagração da Missa? (Opus Dei).
- Por que ir à Santa Missa ao Domingo? (Opus Dei).
- Aprender a Tratar a Deus na Missa (Opus Dei).
- Gestos e Posições do Povo na Santa Missa (Padre Paulo Ricardo).
- Os Dias de Preceito da Igreja Católica (Comunidade Shalom).
- Diferença Entre Solenidade, Festa e Memória (Comunidade Shalom).
- O que Posso Dizer a Jesus Depois da Comunhão? (Opus Dei).
- Depois de Comungar, o que Mais é Aconselhável? (Comunidade Shalom).
- Qual Oração Deve Ser Feita Após a Comunhão? (Canção Nova).
- Confessar-se: Como e Porque (Opus Dei).
- Guia Simples para Confissão (Opus Dei).
- CA Confissão: um Guia Passo a Passo (Opus Dei).
- Confissão: Deus Nunca se Cansa de Perdoar (Opus Dei).
- O Sacramento da Confissão (Comunidade Shalom).
- Exame de Consciência para Confissão – Jovens (Opus Dei).
- Exame de Consciência para Confissão – Adultos (Opus Dei).
- Exame de Consciência Diário (Opus Dei).
- Constituição Dogmática Lumen Gentium (Vaticano).
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