Raffaello Sanzio. O Encargo de Cristo para com São Pedro. |
3. “Ao ir Jesus para a região da Cesareia de Felipe, perguntava aos seus discípulos, dizendo: ‘Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?’. Eles [os discípulos] disseram: ‘Uns, João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas’.” (Mt 16,13s). Neste trecho, notadamente se observa Jesus Cristo questionando seus discípulos, quando respondem, noutros termos, que outros são Filhos do Deus (informando aquilo que pensavam os seguidores), mas não Nosso Senhor, que vai prosseguindo com outra indagação quando “Disse-lhes: ‘Vós [os discípulos], porém, quem dizeis que Eu sou?’.” (Mt 16,15). “Respondendo, Simão Pedro disse: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’.” (Mt 16,16). Assim, diferentemente dos demais que ali seguiam Jesus Cristo, Pedro o trata de forma a representar o discipulado. “Então, em resposta, Jesus disse-lhe: ‘És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi nem a carne nem o sangue que te o revelou, mas o meu Pai que está nos céus’.” (Mt 16,17), sendo nítido que Pedro não reconheceu Jesus Cristo como Filho de Deus por vontade própria, baseando-se em coisas materialmente humanas, derramadas em pecado, mas por interseção do Espírito Santo. Somente depois desta confissão, acontece a fundação da Santa Igreja: “E também Eu te digo: ‘tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela’.” (Mt 16,18). Jesus Cristo era tão divinamente convicto, que não poderia ter olvidado o Evangelho Segundo São João na passagem onde André, irmão de Pedro, avisa a este sobre ter encontrado o messias, levando-o ao encontro de Jesus Cristo, quando Ele lhe revelou seu destino dizendo “Tu és Simão, filho de João [Jonas]; serás chamado Cefas [Pedra]” (Jo 1,42). Neste ponto, segundo as próprias cartas de São Paulo aos Gálatas e Coríntios, este se referia a Pedro como Cefas (Gl 1,18; 2,11-14; 1Cor 15,5), conforme Jesus Cristo o nomeara. Segundo a filologia, mudar o nome da pessoa indica atribuir-lhe uma missão. Adiante, Nosso Senhor adiciona: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e o que desligares da terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). Implica, dentro da linguagem rabínica, proibir e permitir em relação à interpretação e aplicação da Lei, sobretudo nos campos doutrinais e disciplinares, sendo um poder transmitido diretamente por Jesus Cristo inicialmente a Pedro, uma vez que também acabou explicando ao demais discípulos (Mt 18,18), embora sem conceder as chaves dos céus.
4. Abrindo um brevíssimo parêntese, Joseph Ratzinger (Bento XVI) em Jesus de Nazaré, do Batismo no Jordão à Transfiguração, adiciona uma contribuição contextual muito interessante que reforça o entendimento sobre o modo peculiar como Jesus Cristo se comunicava, sobretudo ao questionar os discípulos naquela região. Cesareia de Felipe, lugar onde Nosso Senhor entregou as chaves do reino dos céus para Pedro, possui uma paisagem muito relacionada visualmente às pedras, uma vez que compunham paredes sobre as águas Jordão. Ao certo, Nosso Senhor sempre utilizou metonímias, mas não era à toa, uma vez que geralmente estavam atreladas aos contextos.
5. Fechando parêntese e voltando ao assunto, afirmam os protestantes que aquilo que está escrito nos versículos 18 a 20 do capítulo 18 é argumento irrefutável para afastar Pedro da liderança da Santa Igreja, sobretudo nas explicações derradeiras, porém descontextualizadas, quando Jesus Cristo informa que “De facto, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, ai estou no meio deles” (Mt 18,20), sendo isto a real Igreja de Deus, pouco importando as chaves que foram entregues por Nosso Senhor a alguém que por todos era reconhecido por Cefas [Pedra], inclusive por São Paulo nas cartas, conforme já referenciadas.
6. Se as questões levantadas por problemáticas cessassem aqui, talvez alguns protestantes não incorressem tanto contra o Evangelho, porém, infelizmente prosseguem, insistindo que jamais Pedro poderia ser tal liderança da Santa Igreja por ter, momentos depois de receber a chave do reino dos céus, desempenhando um comportamento digno de exorcismo, embora não proceda. Indagam “como alguém é Pedra num instante, sendo pedra de tropeço no momento seguinte?”. Certamente a passagem bíblica está certa assim: “Desde então Jesus começou a mostrar a seus discípulos que era necessário Ele partir para Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da lei, ser morto e ao terceiro dia ressuscitar. Então Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo severamente, dizendo: ‘Longe de ti tal coisa, Senhor” Isso nunca te acontecerá!’. Mas Ele, voltando-se, disse a Pedro: ‘Vai para trás de mim, Satanás! És para mim motivo de escândalo, porque não tens em mente as coisas de Deus, mas as dos homens’.” (Mt 16,21ss). No original latino: Petro ait vade retro post me, “afasta-te para trás de mim”. Diferente de vade retro Satana, dito ao demônio para que ele apenas se retirasse. Segundo o volume um do Catena Aurea de Santo Tomás de Aquino, esta ordem é dada à Pedro para passar para trás de Jesus Cristo, uma vez que diante do versículo seguinte (Mt 16,24), Ele diz aos discípulos que quem quiser vir depois dele, deveria tomar sua cruz e segui-lo, evidenciando a sugestão de Santo Hilário de Poitiers. Explicações que somente deixam a curiosidade no ar: redundantemente, qual é a finalidade de certos protestantes com tantos protestos?
7. Sabe uma coisa hilária? Certa pessoa, desafiando os católicos, colocou algumas condições para aceitar uma refutação, apelando para lógica e racionalidade por ele condicionadas, no intuito de explicar as coisas ditas por Jesus Cristo, esquecendo que seu ponto de crítica, qual seja, Cefas (Pedra), recebeu uma dupla advertência de Nosso Senhor, evidenciada por São Jerônimo ao explicar que foi expressado à Pedro “tu, que és contrário à minha vontade, segue-me”, restando ao Diabo “vai-te, Satanás”, justamente “porque não tens em mente as coisas de Deus, mas as dos homens”, sendo certo o desfecho da história de ambos: Pedro, fidelíssimo a Deus; Satanás, tentando a mente dos homens. Pensar que uma Bíblia Sagrada pudesse ser diminuída aos limites das faculdades humanas seria como medir o mundo como se régua fosse.
8. Esta enorme confusão é causada pela própria incapacidade de certos protestantes ao desconhecerem os mistérios da Santa Igreja, pois, conforme se sabe, aderiram ao imanentismo de maneira inercial, principalmente ao declararem que somente a Bíblia Sagrada é confiável o suficiente para servir aos propósitos de Deus. Removendo todas as ironias que podem ocorrer, qual seria mais santificado: um conjunto de livros ou aquela comunidade que realizou tal junção?
9. Porém, sejamos cristãos melhores, tanto católicos, quanto protestantes. Perpetuar este conflito não resultará em absolutamente nada. Contudo, existe uma advertência muito clara da parte de nossa gente: seguidores de Jesus Cristo o procuram na vida em comunidade, celebrando a eucaristia, experienciando a Santa Igreja todos os dias, sempre buscando o caminho correto, espelhando-se em santos, espalhando o Evangelho sempre que possível, mesmo quando impossível! Cristãos que flertam com seitas estão certamente em busca de atalhos ou relativizações da própria crença, sendo óbvio sua intenção finalística em adaptar Deus ao contexto secular, principalmente pelas premissas de que só as escrituras bastariam ao livre exame e convencimento a respeito delas. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Sim, Pedro é a Pedra. Enquirídio. Maceió, 05 set. 2021. Disponível em: https://www.enquiridio.org/2021/09/sim-pedro-e-pedra.html.
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