Filippino Lippi. Triunfo de São Tomás de Aquino Sobre os Eréticos. |
2. No perenialismo esotérico, várias ideias convergem no intuito de apresentarem aos iniciados uma camada oculta que permeia toda humanidade, porém, sendo somente acessível por aqueles que conhecem as técnicas meditativas adequadas. Chamam-na, dentre outras coisas, egrégora. De início, pouco ou nada se pode concluir de perigoso, exceto àqueles que possuem uma identidade católica bem definida, uma vez que acessar o transcendental sem rogar por Nosso Senhor significa recorrer a potências diabólicas. Assim é que o acesso ao intelecto coletivo, comum aos homens, dispensa a existência de Deus, uma vez que sua configuração comporta a onisciência, onipresença e onipotência. Seria uma espécie de “computador celeste” responsável por absolutamente toda mentalidade desencadeada em seres racionais a partir de fatores intelectivos proporcionais aos níveis de exposição sofridos em diversos contextos: sociais, religiosos, bélicos etc. Justificaria perfeitamente bem diversos postulados, resumidamente em um homúnculo, sintético por natureza (paradoxal, claro).
3. Historicamente, alguma coisa estava errada em 1268 em França, especificamente na Universidade de Paris, quando foram convocados às cátedras de teologia São Pedro de Tarantásia e São Tomás de Aquino ao combate dessa novidade escandalosa do intelecto único para todos, denunciada por São Boaventura em 1267, concluindo trecho de sermão ao ponderar, chocado com tal filosofia, sobre os piores serem salvos, sendo condenados os melhores – relativização pura pela completa ausência de Deus. Significa dizer, perceba, que nas alturas dos tempos parisienses já existiam germes de subversão da fé católica, embora sem aquela sofisticação que foi desenvolvida com falsas auroras atuais. Estudantes universitários, influenciados por determinados pensamentos, buscavam sustentar ideias socialmente dilacerantes, embora identificadas e condenadas em 1270 por Dom Estêvão Tempier, bispo da capital francesa, elencando treze proposições (espalhadas na Faculdade de Artes – leia-se Faculdade de Filosofia, porém, daquela época): I. O intelecto de todos os homens é o mesmo, numericamente.
II. A proposição “homem entende” é falsa ou imprópria.
III. A vontade humana quer ou escolhe por necessidade.
IV. Tudo o que ocorre aqui embaixo está submetido à necessidade dos corpos celestes.
V. O mundo é eterno.
VI. Nunca houve um primeiro homem.
VII. A alma, que é a forma do homem, perece com a morte do corpo.
VIII. Depois da morte, a alma separada do corpo não sofre com um fogo corporal.
IX. O livre-arbítrio é uma potência passiva movida por necessidade pelo apetecível.
X. Deus não conhece os singulares.
XI. Deus não conhece o que é distinto dele.
XII. Os atos humanos não são regidos pela providência divina.
XIII. Deus não pode conferir a imortalidade ou a incorruptibilidade.
4. Antes de trazer São Tomás de Aquino, observa-se no perenialismo esotérico uma constante de todas as proposições condenadas naquela época. Apenas para permitir a curiosidade do leitor, sendo certa a primeira afirmação sobre a unidade do intelecto, todos os desdobramentos modernos que buscam condicionar os seres humanos a meras criaturas sem capacidade de resposta intelectual, mas tão somente espasmódicas, baseadas na reação a ações de controle, sobretudo ideológicas ou mercadológicas, estariam justificados. Noutros termos, quanto mais suscetíveis as pessoas, melhores serão os proveitos dos dominadores do mundo – isso implica emburrecer a população. Observe também que existiram movimentos relevantes de relacionamentos culturais entre 1095 e 1492 – e a data de 1270 estava no meio das cruzadas! Levanta-se até mesmo uma suspeita contra os fundadores dos Rosa-cruzes.
5. Na postagem O Berço Herético dos Rosa-cruzes, claramente uma postura adotada por Dom Henrique Soares refletia a preocupação com tal seita, donde das profundezas se obtém informações sobre a cruzada albigense, notadamente em resposta ao movimento cátaro que eclodia na França por simpatia de alguns nobres aos monges hereges. Dado que não deixa certo a influência direta do catarismo (inspiração do rosacrucianismo), embora revele a nítida existência de filosofias errôneas que buscavam distorcer a Igreja Católica. Acontece que dentre os ensinamentos decorrentes daquilo que foi consolidado em ordens iniciáticas com firmações francesas, encontram-se aquelas treze proposições, donde: a) ensinamentos de inconsciente coletivo de C. G. Jung consolidam a ideia da unidade do intelecto; b) teorias comportamentais corroboram sobre as reações humanas serem decorrentes dos estímulos, sendo o entendimento uma ilusão, uma vez que, condicionado a necessidade, nenhum ser humano possui livre-arbítrio, mas tão somente agonias que precisam ser imediatamente suplantadas (fomentando a ideia muito moderna de cérebro reativo); c) correspondências do Corpus Hermeticum elencadas descaradamente na quarta afirmação; d) pressupostos filosóficos gregos reunidos de maneira a consubstanciar o paganismo sobre a eternidade do mundo; e) preconcepções que culminaram na ideologia evolucionista de Charles Darwin ao afirmar que nunca existiu Adão; f) inexistência do Inferno e Paraíso pelo padecimento da alma junto ao corpo e consequente devolução do espírito à ordem prima e a possibilidade da cremação em rituais pagãos; g) adoção dos conceitos filosóficos taoístas da indiferença divina, sendo estes últimos próprios dos quatro quesitos finais das condenações.
Era o islã buscando brecha na porta para Universidade de Paris – observe como está atualmente!6. São Tomás de Aquino, enquanto defendia e arrasava a unidade do intelecto, ponto primário aos posteriores desdobramentos que são percebidos até agora no perenialismo esotérico, continuava sendo atacado por aqueles que pregavam um averroísmo (baseado na filosofia de Averróis, donde o poder intelectivo único era inversamente proporcional ao número de fé – podendo haver um, duas, três etc.) sem entenderem que era apenas uma apologia ao islamismo, incluindo sua possibilidade em países ocidentais já estabelecidos pelo catolicismo – ou seja, mesmo as cruzadas nunca acabaram, pois ainda estão acontecendo ao redor do mundo. Inclusive, existe um modus operandi preocupante, detectado pelo Doutor Angélico ao se impor contra aqueles que subvertiam os meninos (daquela faculdade, certamente) com aquilo que não podiam ainda julgar, concluindo que tal subversor “encontrará, não apenas a mim, que sou o menor de todos, mas muitos outros, zelosos da verdade, pelos quais se resistirá a seu erro ou se cuidará de sua ignorância”, assim como consta no derradeiro parágrafo do livro A Unidade do Intelecto, Contra os Averroístas. Era o islã buscando brecha na porta para Universidade de Paris – observe como está atualmente!
7. Acontece que muitas das questões tratadas por perenialismo esotérico são decorrências de conhecimentos muito anteriores, donde até mesmo o catarismo foi tão somente uma vertente. Apenas para exemplificar, Lao Tsé viveu na China em 571 a.C., legando uma filosofia cuja primeira sentença indica: “o Tao do qual se pode discorrer não é o eterno Tao”. Inexistia aos chineses daquela época uma ideia de Deus, assim como os rabinos já deixavam de pronunciar seu nome desde o cativeiro na Babilônia. Aliás, seria importante conferir as postagens indicadas a seguir no intuito de compreender uma problemática revelada diante das sínteses publicadas sobre estudos relacionados aos semitas e o panteão doutrora, notadamente nas culturas judaicas e pré-islâmicas. Voltando ao Tao Te Ching, como assim ficou conhecido o clássico chinês, verdade que aquela filosofia possui um conteúdo verossimilhante, donde quem pudesse tratar da onipotência, onisciência e onipresença necessariamente precisaria possuir tais aspectos, sendo, portanto, impossível ao homem – tabu plenamente encerrado em Jesus Cristo, mas não aos judeus, insistentes em corroborar na inexistência da experiência messiânica, igualmente os primos muçulmanos: ambos semitas.
- O Deus dos Muçulmanos (Enquirídio).
- Quem é Jesus Cristo para os Judeus? (Enquirídio).
Somente através da Igreja Católica é possível ter uma relação com Jesus Cristo. Qualquer coisa, mesmo que possa ser magnífica em exposição, apartada daquilo que vem através da Tradição, precisa ser cautelosamente apurada, mesmo assim sob uma luz catolicamente religiosa.9. Existem embaraços históricos mais profundos que demandam análises cautelosas no intuito de montar um mínimo panorama do problema subversivo que aflige os católicos no mundo inteiro, sobretudo no Brasil. Enquanto nossa gente busca a verdade, basta aos averroístas modernos continuar mentindo para provocarem o caos desejado, donde os esforços de reparação são sempre das mentes proativas, inclinadas aos propósitos de Nosso Senhor. Afirmar, precipitadamente, conclusões que não contemplem a historicidade desses fatos é ocultar a gênese da perversão e a infeliz perpetuação no mundo através de diversas fontes, agora, condensadas sob ideologias mais apropriadas ao campo de batalha moderno. Ainda há de prosperar os ensinamentos de Averróis, mesmo no âmbito da Santa Igreja, donde a preferência pelo perenialismo esotérico parece resgatar uma espécie de intimidade sublime para acessar os conhecimentos elevados, dignos daqueles que atingiram a mentalidade do Imperador de Jade, segundo a filosofia taoísta, ou no sumo bem aristotélico, donde ambas são tentativas anteriores de conceituar aquilo que ocorreu com Nosso Senhor: revelar a verdade. Somente através da Igreja Católica é possível ter uma relação com Jesus Cristo. Qualquer coisa, mesmo que possa ser magnífica em exposição, apartada daquilo que vem através da Tradição, precisa ser cautelosamente apurada, mesmo assim sob uma luz catolicamente religiosa. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Perenialismo Esotérico: Porta para o Islã? Enquirídio. Maceió, 16 mai. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/05/perenialismo-esoterico-como-porta-ao-isla.html.
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