Claude Bailleul. Retrato de Fénelon. |
- François de Salignac de La Mothe-Fénelon (Académie Française).
3. Assim sendo, encarregado de instruir o sucessor de Luís XIV, que não chegou à sucessão do trono francês por padecer de sarampo aos vinte e nove anos de idade, passou a escrever uma história conhecida por As Aventuras de Telêmaco visando o desenvolvimento do jovem Duque de Borgonha enquanto também se desenvolvia o personagem da ficção.
4. Também foi responsável pela instrução de mulheres que abandonaram o protestantismo para voltarem à Igreja Católica, sendo, como se vê, ocupante de um ofício pleno no catolicismo, qual seja, realizar a catequese. Talvez pela missão que tinha, ofereceu a seguinte oração que adiante é comentada: I. Senhor, não sei o que devo pedir-te;
só tu sabes o que preciso;
tu me amas mais do que posso me amar.
II. Ó Pai, dá a teu filho
o que ele próprio não sabe pedir.
III. Não me atrevo a pedir cruzes
nem consolações; simplesmente
me apresento diante de ti,
abro-te meu coração.
IV. Tu vês as minhas necessidades
que eu próprio não conheço;
vendo-as, age segundo teu amor.
V. Fere-me ou cura-me, humilha-me
ou exalta-me, adoro todas as tuas
decisões sem conhecê-las;
calo-me, ofereço-me, entrego-me
nas tuas mãos. Ensina-me a orar.
VI. Ora tu mesmo em mim. 5. Agora observe o Evangelho: “Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lhe peçais.” (Mt 6, 5-8). Existem algumas discussões entre alguns católicos e protestantes, ambos teimosos, que não admitem nenhuma tradução senão aquelas que são postas de acordo com uma espécie de grego ou qualquer coisa relativa. Entende-se as necessidades da nossa gente diante dos ideólogos da fé originada no protestantismo, quando talvez interpretem a “multiplicação de palavras” constante no sétimo versículo como sendo a oração rezada, donde “multiplicar” poderia ser entendido por “repetir da mesma forma”, justo por ser uma fórmula. Assim sendo, reproduzir, mesmo contemplativamente, qualquer prece, inclusive de Fénelon, seria o mesmo que “fazer como os pagãos”. Que bom que Jesus Cristo não tem equívocos – jamais! Você já teve a oportunidade de ouvir uma adoração proveniente do paganismo? Ela é uma coisa assim: “Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare; Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.” (Maha Mantra). Também existe outra, budista, dado pela repetição da frase “Om Mani Padme Hum”, transliterada por “Oh, Joia de Lótus”. Apesar da beleza rítmica e fonética, podendo até ser apreciada como produção cultural (realizando uma espécie de diplomacia – sumariamente descabida do ponto de vista da aceitação), conforme Nosso Senhor, precisa ser abandonada. Assim é que a corrente inaugurada por Lutero & Cia. tem impedimentos graves em entender que reproduzir adequadamente um pedido já formulado não é o que diz Jesus Cristo ao repreender a manifestação pagã da reza – ainda mais para divindades do panteão hindu, chinês, grego etc.
Verdade seja dita: parece que esquecem que Ele mesmo instruiu entrar no quarto e fechar a porta (válido tanto de maneira literal quanto metaforicamente, quando o aposento é compreendido como íntimo) para orar, inclusive em segredo, dirigindo-se ao teu Pai.6. Observe atentamente que depois dos versículos citados, Jesus Cristo ensina a oração do Pai-nosso aos discípulos, fórmula que trespassou os séculos e é repetida sempre, incansavelmente. Verdade seja dita: parece que esquecem que Ele mesmo instruiu entrar no quarto e fechar a porta (válido tanto de maneira literal quanto metaforicamente, quando o aposento é compreendido como íntimo) para orar, inclusive em segredo, dirigindo-se ao teu Pai. Superada a questão, mesmo que digam que não (somente pelo destruidor protesto inacabável), deixando de lado os equívocos contra a verdade guardada no catolicismo, retome a oração de Fénelon novamente.
7. Deriva daquilo que foi catequizado por gerações católicas, leigas ou clericais, donde o respeito pelo Evangelho se nota em cada expressão. Já na primeira súplica, Fénelon, assim como todo cristão em oração, está diante de Deus. Emudecido pela presença divina, declina da demanda que não conseguiria explicar perante a compreensão onisciente, onipotente e onisciente d’Ele, pois tudo pode. Assim segue a prece, dando mostra da impotência humana diante do Criador e a humildade necessária ao pedir, especialmente quando no terceiro trecho qualquer vanglória é descartada, sobrando apenas o pedido da alma. Na quarta parte o apelo é claro sobre a condição de pedinte, daquele que não tem, mas que gostaria de alguma coisa, embora não fosse possível suplicar através do intelecto, mas tão somente pela abertura do coração, quando no quinto inciso se rende aos desígnios que vêm do Pai em nítida entrega de si, donde a supressão dos próprios desejos dá espaço sem restrições à vontade do Altíssimo. Mesmo orando, perante Sua presença, clama por sua ignorância, pedindo instruções para orar.
8. Depois de perceber que qualquer verbalização, mesmo mentalmente, seria insuficiente para expressar aquilo que Ele sabia desde sempre, termina pedindo no ponto cinco: “ora tu mesmo em mim”. Note quão profundo é a súplica de Fénelon! Incapaz de se colocar perante Deus para dizer, abandona sua limitação humana, que não consegue conceber nada para além daquilo que foi concebido e está no plano da última potência, finalmente se entrega a criatura ao Criador.
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