Trocando Alhos por Bugalhos

Filosofar é o mesmo que usar uma ferramenta: seu fim não está nela mesma, mas nas coisas que podem ser feitas por ela. Talvez você tenha um martelo ou alicate preferido que utiliza ao pregar um quadro ou reparar uma cancela, porém, imagine deixar de bater ou apertar para venerar tais objetos – loucura?

John Trumbull. A Declaração da Independência.

1. São Tomás de Aquino se ocupou da filosofia aristotélica por muito tempo, mas nem por tal empreendimento trocou o Evangelho de Nosso Senhor pela modalidade sublime de atingir a razão. Era uma ferramenta necessária, mas sua serventia jamais se tornou uma finalidade, mantendo-se sempre como veículo, mesmo assim ao intelecto.

2. Verdade que utilizar um martelo ou alicate requer habilidade. Assim sendo, quanto menos utilizar tais objetos, menor destreza será obtida. Assim é que a filosofia demanda estudos à utilização apropriada, mas sem objetividade, poderá se transformar numa verdadeira masmorra, tornando o intelecto um prisioneiro.

3. Filosofar, pressupondo os estudos necessários, significa utilizar a razão ao amar a sabedoria. Sabendo é que o objetivo poderá ser alcançado. Como se pode dar valor sem saber? Mesmo o Evangelho de Jesus Cristo, somente ao se tornar sabido é que o sentido daquelas palavras se tornam praticáveis – antes disso, tudo era mais difícil!

4. Porém, existem boas e más filosofias. Aristóteles, através de Averróis, tornou-se um verdadeiro demônio filosófico, mas por São Tomás de Aquino, além de plenamente compreendido, transformou-se referência ao pensamento católico – parte dessa confusão foi postada em Perenialismo Esotérico: Porta para o Islã?

5. Mas tão somente Aristóteles é detentor da filosofia? Certamente que não! Contudo, pensando no católico, como seria possível explorar outras ferramentas para além do martelo e alicate sem ter nitidez do trabalho pretendido? “Quero reparar essa mesa”, poderia pensar. Talvez uma máquina moderna seja melhor – isso não pode ser problema! Entretanto, realizar o reparo como pretexto para utilização ou exibição do que for vai da sabedoria ao subversivo, tornando a prática filosófica um princípio fechado em si mesmo.

6. Imagine São Tomás de Aquino largando a Santa Igreja por ter encontrado somente filosofando uma finalidade intransponível ao perceber que tal ato poderia ser uma ferramenta cujo fito é estar só nesta – consegue? Assim é que o iluminismo deu azo aos academicistas, sobretudo das disciplinas exatas, excluírem a importância da filosofia.

7. Embora através da filosofia os matemáticos tenham obtido razões insuperáveis do ponto de vista meramente materialista (alguns de maneira espiritual também), verdade é que o filosofar por si só foi repulsivo, tanto aos academicistas quanto aos religiosos, uma vez que ter razão sem ciência ou fé pouco ou nada pode significar.

8. Assim é que a ciência verdadeira e a fé genuína utilizam o conhecimento filosófico: igualmente uma ferramenta! Somente os iluministas da modernidade insistem no equívoco, pois amar a sabedoria é diferente do amor pela disciplina denominada filosofia. Trocam alhos por bugalhos!

Que não se vê é a finalidade em Jesus Cristo ser substituída por uma ideologia, mesmo que travestida de filosófica.

9. Lógico que vão insistir no equívoco, pois tudo que têm pode não ser certo. Acontece que não podem por uma filosofia, mesmo aristotélica ou já tomista, torná-la finalidade da fé em Nosso Senhor. Ela é uma ferramenta! Pode-se através dela fazer muitas coisas, inclusive estudar melhor as Sagradas Escrituras. Também é possível ter uma experiência mais próxima de Deus ao se valer da sabedoria obtida pelo e para o amor – que não se vê é a finalidade em Jesus Cristo ser substituída por uma ideologia, mesmo que travestida de filosófica.

    Para referenciar esta postagem:

ROCHA, Pedro. Trocando Alhos por Bugalhos. Enquirídio. Maceió, 18 mai. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/05/trocando-alhos-por-bugalhos.html.