26.5.22

Maria, Corredentora? Leia Até o Fim!

Como um mero blog ousa questionar se há corredenção por parte de Maria? Verdade seja dita: quando tal conceito foi pesquisado inicialmente por desconhecimento desta titulação atribuída à Virgem, lógico que por devoção, impressionou a similaridade de outrora na elevação de deusas na antiguidade panteística.
Regina Angelorum
William-Adolphe Bouguereau. Regina Angelorum.
1. Primeiramente, cabe um curto aviso: àquele que foi consagrado pela intercessão de Nossa Senhora ou mesmo não sendo, mas que devota por ela sua própria vida, pede-se um mínimo de prudência, uma vez que não caberia discutir a consagração intermediada por seu Imaculado Coração, especialmente por sua validade ser inquestionável. Ressalvada tal questão, adianta-se explicar que tal questionamento está amparado por declaração pontifícia, que por sua vez tem profundo amparo teológico, doutrinal, dogmático etc. Também vale de logo apresentar uma preocupação recorrente, qual seja, elevação mariana ao equívoco endeusamento, às vezes em substituição do próprio Salvador. Trata-se de esclarecimento e denúncia ao mesmo tempo, tendo em vista o acentuado paralelismo de práticas que são substitutivas da liturgia por notória rejeição da nova missa, muitas vezes praticadas de maneira oculta – inaugurando no catolicismo o natimorto particularismo ritualístico pela total inobservância do Catecismo da Igreja Católica, também rejeitado por não ser condizente à mentalidade medievalista dos patronos modernos do intelectualismo, combatida desde o Concílio Vaticano I, mas que persiste na atualidade, sobretudo no âmago do laicato. Assim é que o zelo e o medo a Deus andam juntos, pois neste está a obediência e naquele o amor incondicional do fiel, motivo pelo qual segue abaixo algumas leitura recomendadas:
2. Obras antigas não são lidas ou tidas em vista da maior parte de nossa gente. Lógico: apenas os pesquisadores interessados vão buscar nessas fontes compreensões que talvez possam causar algumas reflexões ou trazerem razões ao presente contexto. Assim é que o interesse no passado se dá ao evitar incluir ou inovar, adulterando sua estrutura, visando dar proveito a hipóteses particulares. Tabletes com escritas cuneiformes revelaram aspectos de culturas passadas que idolatravam deuses, donde no panteão sumério-acádio também se encontravam deusas, doravante exaltadas em práticas neopagãs ou tradições ocultistas, conhecidamente pela hipervalorização do feminino em detrimento ilegítimo do masculino – somente por tais colocações é possível entender que jamais haveria uma utilidade católica nessas informações, exceto por existir uma correlação de aspectos que são passados por gerações. Daí vem uma preocupação que não poderia escapar: será que vão fazer de Maria uma Inana? Veja: existe na mitologia mesopotâmica uma divindade que simbolicamente é referenciada por aquela que pisoteia os bestiais, mas que nas titulações é exatamente o oposto de Nossa Senhora – lógico e evidente (observação até desnecessária). Porém, estudando o neopaganismo e desdobramentos seculares, observa-se na difusão do Tarô um sinônimo simbólico, representado pela carta “A Força” dos arcanos maiores, tanto da versão de Marselha (original), quanto na Rider Waite (derivada), justo por ser uma referência do domínio de criaturas pela mulher em referência arquetípica da preponderância do espírito materno, assim como a Virgem esmagando a serpente em cumprimento da profecia messiânica, sendo aquela que não permitiu a proliferação da maldição serpentiforme, que lhe alcançaria o calcanhar se primeiro não ferisse sua cabeça (Gn 3, 15). Isto para demonstrar como simbologias são repercutidas pelos séculos, mesmo que subjetivamente por aderentes do “sagrado feminino” presente em diversos segmentos culturais e passados por gerações. Entretanto, retomando a questão de Maria e Inana ou Ishtar, nota-se em ambas a presença da ação superior contra a baixeza e referências de estrelas octogonais. Significa dizer que imagens de Theotókos foram inspiradas em referências pagãs? Jamais. Todavia, entenda que não adianta endeusar alguém que não poderia ocupar um outro trono além de Jesus Cristo, sendo trágicas as ideias que viabilizam o endeusamento mariano com analogias que bebem em fontes perenes dos arquétipos e correspondências, mesmo que veladamente ou inconscientemente, intencionalmente ou através de influência – e a causa é certa: basta buscar em Guénon, Schuon, al-Alawi etc.

3. Noutros tempos, aspectos que não necessariamente são próprios da hierarquia da Igreja Católica, mas das famílias supostamente austríacas que cultuavam o “sagrado feminino” e viram em Maria igual possibilidade, permeando por gerações a cultura cristã através da influência que possuíam, sobretudo em determinadas comunidades monásticas, donde poderia ter surgido a titulação de corredentora – neste ponto, qualquer afirmação seria apenas equívoco, uma vez que não existem suportes fáticos plausíveis, exceto por histórias que são distantes em contexto. Acontece que dos austríacos de Habsburgo até recentemente, parece que tem prevalecido a insistência na corredenção mariana, especialmente na influência exercida no catolicismo além-mar a cultuá-la em primazia, embora, novamente, absolutamente nada disso deva proceder, exceto que uma profunda investigação seja empreendida para traçar o lastro dessa hipótese, principalmente para realizar uma defesa da fé cristã em plena união com sua hierarquia, incluindo o Santo Padre. Neste ponto, pede-se ao leigo (também ao ordenado, caso possam estar lendo esta postagem) que recite a Oração do Credo, símbolo dos apóstolos. Agora reflita: perante a Santíssima Trindade, protagonista da realização salvífica, todos são coadjuvantes, incluindo Nossa Senhora, que tem que ser reconhecida como colaboradora, mas não redentora, pois, diferentemente, não tem por ela mesma qualquer autonomia que não advenha justamente do Nosso Senhor, quem pode ao lado de Deus – Amém.

4. Quando um cristão escuta termos que elevam a santidade da Mãe de Nosso Senhor, pouco notam o significado, contanto que não diminuam sua majestade concedida pelo mistério. Acontece que tal expressão, qual seja, corredenção, implica na concorrência redentora e como se sabe, somente Jesus Cristo é o redentor, aquele que veio para nos salvar. Repare nas palavras de São Paulo aos colossenses quando explica: “Ele nos arrancou do poder das trevas e nos introduziu no Reino de seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.” (Col 1, 13s). Isso é dito em virtude também do Evangelho segundo São João: “Disse-lhe Tomé: ‘Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?’. Jesus lhe respondeu: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto’.” (Jo 14, 5ss). Observe a dificuldade de entender naquele momento as palavras do Cordeiro de Deus: “Disse-lhe Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta’. Respondeu Jesus: ‘Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai... Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras. Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa dessas obras. Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo que pedires ao Pai em meu nome, vo-lo varei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Qualquer coisa que pedirdes em meu nome, vo-lo farei. Se me amais, guardeis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco’.” (Jo 14, 8-16). Continue a leitura dos versículos, pois tudo começa e termina no Salvador, quem pede seu amor por guardar sua doutrina. Qualquer contrariedade é recaída naquela incredulidade filipense.
As palavras de Nosso Senhor jamais criaram brechas que pudessem ser preenchidas com concorrências, incluindo o intermédio.
5. As palavras de Nosso Senhor jamais criaram brechas que pudessem ser preenchidas com concorrências, incluindo o intermédio. Perceba que Ele não diz “ninguém vai ao Pai”, pelo que fala “ninguém vem ao Pai”, pois como dito, Deus permanece em Jesus Cristo, desde aquele tempo. Ninguém poderia ser tão próximo do Criador, sendo n’Ele mesmo. Veja o que foi a Moisés ditado por Ele: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de minha face.” (Ex 20, 2s). Parando aqui, tornar-se-ia qualquer judeu; passando-se disto, ler-se-á as profecias e restará convencido do mistério que importa, qual seja, Paixão, Morte e Ressurreição do Filho de Deus, que com Ele e o Espírito Santo formam uma mesma unidade. Aqui cabe o aprofundamento teológico, pois o risco judaizante pela retenção testamentária baseada na Torá pode vir a ser enorme tentação. Assim é que a Igreja Católica, sendo o crente firme na promessa messiânica, detém na sucessão apostólica as Chaves do Reino dos Céus.

6. Dom Estevão Bittencourt, OSB, realizou uma análise a respeito do posicionamento da Santa Sé na questão da corredenção mariana suscitada, inclusive pelos vários bispos do mundo inteiro, oferecendo a sucessão apostólica, então, resposta que não deixaria jamais de guardar as palavras de Nosso Senhor. Adiante é possível acessar o excerto da Revista Pergunte e Responderemos, embora o resumo seja este: poder-se-ia tratar Maria por Mãe de Deus (Theotókos), também dos homens, substituindo o conceito ambíguo de corredentora por cooperadora (tendo em vista o termo indicado, qual seja, cooperação, especialmente empregada no vigente catecismo de São João Paulo II enquanto sumo pontífice).
7. Claro que Padre Paulo Ricardo, através da equipe do CNP (Christo Nihil Praeponere), apesar de trazer o termo “cooperação” ao se referir ao ofício de Maria, que não foi encerrado, uma vez que continua, portanto eterno, vai lá no fim e diz que ela é corredentora – isto em 2016. Evidente que tal sacerdote estava na inércia de um pronunciamento mais terminativo da Santa Sé, trazendo sua devoção mariana sem qualquer intenção de desvirtuar a Igreja Católica. Muito pelo contrário! Quem mais trouxe aos cristãos verdadeiros tesouros da mensagem salvífica, incluindo os protestantes que frequentam os cursos na plataforma on-line, foi ele, conforme prontamente exaltado na postagem Evangelização: da Fantasia ao Diabo (donde o título é apenas uma provocação para aguçar a vontade do leitor ao conteúdo publicado). Todavia, atualmente essa ambiguidade (prevista) deixaria de preocupar – depois de escrever estas últimas linhas, lembrou-se da Homilia Diária do vigário de Cuiabá e a reincidência da terminologia na contramão daquilo que foi analisado por Dom Estevão Bittencourt, OSB.
8. Inclusive, ouvindo a referida Homilia Diária, percebe-se de longe uma analogia empregada no perenialismo esotérico, donde a fruta de determinada árvore seria esta mesma, porém de outra forma: nesse caso, apresentada de maneira não tão escandalosa, sendo Maria a macieira e o dom da vida a maçã, ambos dados por Deus, evidentemente. Assim é o entendimento reafirmado de Padre Paulo Ricardo pelo que tem por corredentora diante do silogismo apresentado. Contudo, extensivamente, Santa Ana poderia ser terreno e São Joaquim as sementes – onde se pára isso tudo? Preocupa no sentido de elevarem a Santíssima Virgem ao nível de Jesus Cristo! Assim é que o conceito de corredenção poderia ser difundido, mesmo que ingenuamente por ausência de conhecimento, lembrando que mesmo o Concílio Vaticano II jamais adotou a titulação mencionada, muito menos os pontífices da Santa Igreja de lá para cá. Seria prudentíssimo, como dito, analisar o pensamento que vem lá da filosofia perene, sustentada por Guénon, Schuon, al-Alawi, incluindo seus descendentes, especialmente pela desobediência de comandos pontifícios ou omissão da doutrina. Agora, através do Papa Francisco, quem é alvo constante de ataques, como se pode notar em Escrever Certo por Linhas Tortas, todo o tema é finalmente encerrado ao pronunciar as seguintes palavras: “Fiel ao seu Mestre, que é o seu Filho, o único Redentor, jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se apresentou como corredentora. Não, discípula!”. Acontece que jesuítas incomodam, aparentemente. Verdade seja dita: sempre foram perseguidos, expulsos, assassinados! Agora se permita pensar sobre aqueles que detestam a Companhia de Jesus, diga-se de passagem fundada por São Inácio de Loyola. Lógico: empreender o pensamento requer subsídios, motivo pelo qual bastaria apenas indicar o iluminismo e todos seus simpatizantes, mesmo aqueles que não acreditam ser, mas que não arredam do intelectualismo meramente filosófico em benefício da fé em Nosso Senhor, conforme seu Evangelho – facilmente identificados por recomendarem catequeses, mas sem que trisquem no Catecismo da Igreja Católica.
9. Diante das leituras realizadas em homilias e catequeses do emérito Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, também não foi possível encontrar a titulação atribuída à Maria, que nos volumes Ser Cristão na Era Neo pagã, deixa claro sua visão justa, alinhada ao Concílio Vaticano II, sobretudo ao Evangelho de Nosso Senhor. São João Paulo II enquanto pontífice não poupou mariologia no Catecismo da Igreja Católica, dando à Virgem seu devido lugar de pleno destaque na comunidade dos cristãos batizados no catolicismo pela colaboração no trabalho salvífico de Nosso Senhor. Dom Estevão Bittencourt, OSB, dispensa comentários, assim como Padre Paulo Ricardo, alguém que poderia até cometer equívocos, mas tão somente pela enorme devoção que se faz incompreensível do ponto de vista material, mas não espiritualmente. Assim sendo, repete-se: àqueles que são consagrados a Mãe de Deus, conservem-se! Mesmo quem escreve aqui nesse Enquirídio jamais poderia deixar de prestar as devidas homenagens e devotar àquela que lhe trouxe de volta do mundo ao Caminho, à Verdade e à Vida. Exatamente por tal motivo que obedecer é o mínimo ao leigo diante da Santa Igreja, guiada pelo Espírito Santo e preservada por Ele mesmo aos apóstolos contra as portas do Inferno, donde no início foi confiada as Chaves do Reino dos Céus a São Pedro, mas que agora são depositas no Papa Francisco através da sucessão apostólica. Dito isto, Maria participa, mas não correaliza a redenção – apenas Jesus Cristo é redentor. Quer dizer, então, que não vai qualquer um de nossa gente pedir a intervenção de Nossa Senhora, quem subiu em ascensão nítida ao Reino dos Céus? Lógico que vai – aliás: deve! Consagração? Também, evidentemente. Mesmo em rituais de exorcismo, segundo os manuais que somente os bispos e padres devidamente qualificados podem utilizar, determina a colocação da imagem de Nossa Senhora, quem pisa na cabeça da serpente – e isso é a mais pura verdade, seja pela razão ou pela fé (melhor quando juntas), tanto profetizada, quanto vivenciada na Obra da Redenção! Porém, que não subverta a linguagem ao ponto de abstrair o conceito de meio pelo de finalidade, dando brecha aos subversores que continuam rasgando a doutrina por paralelismos radicais que não vão ajudar a estabelecer a identidade católica.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Maria, Corredentora? Leia Até o Fim! Enquirídio. Maceió, 26 mai. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/05/maria-corredentora-leia-ate-o-fim.html.

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