28.7.24

Deus Reúne Aqueles que se Amam?

Sim e não. Existe o amor de Deus e o que é próprio do homem (decaído) por ele mesmo. Para este artigo, mais longo, uma vez que será uma análise, tratar-se-á de Edith Piaf, Celine Dion, Aleister Crowley e o Dicastério para Comunicação. Qual será o ponto: subversão do Evangelho por apostasia.
Jean Droit. Jogos Olímpicos de Paris 1924.
1. Em primeiro lugar, deve-se entender de onde esta questão aparece: advém da blasfêmia realizada por travestis ao encenarem “A Última Ceia”, baseada na pintura de Leonardo da Vinci, na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Na sequência e buscando destacar a insatisfação dos católicos, restou ao Vatican News, cuja prefeitura do Dicastério para a Comunicação é exercida pelo senhor Paolo Ruffini, ex-diretor da Rai 3, emissora pública italiana de radiodifusão tendenciada ao comunismo desde sua fundação (salvo pela atual presidente do Conselho de Ministros da Itália, Giorgia Meloni), publicar uma matéria na página principal e repercutir em todas as mídias digitais através da manchete “Bispos franceses deploram ‘cenas de zombaria do cristianismo’ na abertura dos JO”. Por fim, não é que existam defeitos na mensagem da Conférence des évêques de France — CEF (Conferência Episcopal da França — CEF); existe um só quesito que não poderia passar desapercebido, qual seja, aquele último parágrafo do texto da imprensa vaticana ao evidenciar a interpretação da canção composta por Édith Piaf, “Hymne a l'Amour” (“Hino do Amor”), pela cantora Celine Dion, cuja vida artística foi abalada por ser acometida pela Síndrome da Pessoa Rígida, deixando não só fãs, mas todos que conseguem ter compaixão por uma artista bastante talentosa, embora não professe fé em Jesus Cristo e rejeite a Santa Igreja enquanto adota uma forma de antropoteísmo, conforme constante em um artigo da estatal canadense Broadview.
Manchete sobre deploração de bispos franceses (Vatican News).
Mensagem da Conferência Episcopal da França (Église Catholique en France).
Artigo sobre a Celine Dion (Broadview).
2. Cobrar que pagãos respeitem o catolicismo é demasiadamente complicado, igualmente obrigar o estado francês, responsável por constitucionalizar o “direito” de matar bebês no ventre materno, tomar alguma medida para coibir aquilo que ele mesmo deseja silenciar — seria o mesmo que pedir para Adolf Hitler ir contra o nazismo ou Karl Marx contra o comunismo (ambos são proveitos das trevas, como se sabe). Superadas as questões blasfemas, volte-se, agora, ao comunicado da Conferência Episcopal da França — CEF. Ela não menciona absolutamente nada sobre Celine Dion para repercutir a mídia vaticana. Ao contrário! Enfatiza os objetivos do projeto “Holy Games”, relembra a missa da “Trégua Olímpica”, expõe as personalidades religiosas, políticas e esportivas que compareceram à belíssima celebração da Eucaristia (integralmente disposta na sequência desta publicação) e respeitosamente lamentou que tenham incluído na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 “cenas de zombaria e escárnio do cristianismo”, enquanto que agradece aos “membros de outras confissões religiosas que expressaram sua solidariedade conosco”. Também separa o respeito ao evento do ultraje exposto ao mundo inteiro: “queremos que eles [os cristãos] entendam que a celebração olímpica vai muito além dos preconceitos ideológicos de alguns artistas”.
3. Já através da mídia vaticana, o que é possível perceber é o vergonhoso posicionamento indiferente aos acontecimentos na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e a terrível indução à mensagem subversiva do verso final da canção de Édith Piaf, capaz de trazer diversos comentários (Instagram, Facebook, X/Twitter) concordantes com a ideia de um deus segundo as medidas humanas, como assim disse Celine Dion à Broadview, embora com palavras mais poéticas, das quais não poderia se valer este blog sob pena de cooperar com o mal. Desta forma, reservando-se ao direito de meramente reproduzir, mas sem objeções ou qualquer comentário dignamente católico ou minimamente solidário, restou ao Vatican News informar que Michael Aloisio, porta-voz do comitê organizador, supostamente “reagiu” na rádio estatal francesa, Franceinfo, dizendo: “assumimos que ultrapassamos a linha”. Significa que não discorda da zombaria e escárnio encenado por travestis, mas que foi realizado para além de limites habituais ou, na linguagem revolucionária, para fora do “lugar de fala”. Ao certo, abriu precedente e a investida foi bem-sucedida — encontra-se registrada na história, assim como “França, filha primogênita da Igreja, que fizeste de teu batismo?” (São João Paulo II em 1997, durante a Jornada Mundial da Juventude na França).

4. Como dito, isto tudo, perto do que se perceberá a partir daqui, pouco ou nada significa. Quando o Vatican News encerra a redação no tópico de “unidade humana e fraternidade”, cita dois trechos do comunicado da Conferência Episcopal da França — CEF no primeiro parágrafo enquanto prossegue ao segundo com uma narrativa própria, mas que parece concordar com a anterior. Como isso se dá? Ao retratar as olimpíadas citando os bispos franceses como “movimento ao serviço desta realidade de unidade e fraternidade”, subverte sua essência ao descontextualizá-la e emendá-la com uma construção argumentativa ideológica que toma por empréstimo o último verso da canção “Hymne a l'Amour” (“Hino do Amor”), que diz: “Deus reúne aqueles que se amam”. O que é que Édith Piaf quis dizer com isso?

5. “Hymne a l'Amour” (“Hino do Amor”) teve sua letra composta por Édith Piaf e musicalizada por Marguerite Monnot, ambas artistas talentosas, sendo esta última reconhecida por prodígios em tenra idade, comparados até mesmo com Amadeus Mozart. Longe de ser um louvor, Deus é invocado nesta música como quem apoia um amor platônico no sentido de paixão não correspondida, onde quem sente faria de tudo para corroborar este sentimento, seja roubando, negando a pátria, amigos ou mesmo tirando a própria vida, como está presente nas estrofes. Embora uma coisa não esteja ligada de forma direta a outra, corrobora com a lei de Thelema, expressada por Aleister Crowley nas seguintes palavras: “Faze o que tu queres, há de ser o Todo da lei. Amor é a lei, amor sob vontade” — que podem ser melhor entendidas pelo link disposto na sequência. É o que a Celine Dion tornou público através da Broadview na ocasião do próprio 50º aniversário: “Eu digo que acreditar em si mesmo é acreditar em Deus. Para mim, Deus é a própria vida, os pássaros, o ar, o nascer e o pôr do sol, as crianças. Sim, é aí que encontro Deus. Não em uma igreja”. Segundo ela mesma, sua mãe estava sendo pressionada por um sacerdote a gerar mais filhos e a negativa foi suficiente à expulsão, certamente da paróquia onde frequentava — o que é lamentável e ilícito ao padre, especialmente por afugentar uma família e provocar o desespero em tantos outros. De certa forma, poder-se-ia dizer que ela não estaria errada naquilo que disse, vez que todos são convidados a perceber a presença divina na criação, porém, quando a cantora remete a si mesma como fonte de fé, certamente se fecha à infusão da virtude teologal verdadeira enquanto se aproxima da falsidade constatada no egoísmo esotérico. “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” (Jo 8, 31s), pois “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tende visto.” (Jo 14, 6s). Autoconhecimento não é uma questão colocada diante da inscrição “Conhece-te a ti” presente no Oráculo de Delfos, mas por uma via descrita por Santa Teresa d’Ávila (Santa Teresa de Jesus) na obra “Castelo Interior” ou “Moradas”: “Oh, e como é absolutamente necessário o conhecimento de si mesmo! Vejam se me entendem. Por mais que a alma tenha se elevado (refiro-me inclusive àquela que o Senhor já acolheu na morada onde ele está), não lhe cumpre fazer outra coisa senão buscar conhecer-se a si mesma. Nem poderia de fazê-lo, se quisesse, porque a humildade sempre fabrica o seu mel, como a abelha na colmeia. Sem isso, está tudo perdido. Tal é a abelha, que não deixa de sair para colher o néctar das flores, qual é a alma, no que se refere ao conhecimento de si mesma. Creiam-me que ela deve voar algumas vezes para refletir sobre a glória e majestade de Deus. Desse modo, reconhecerá a sua pequenez mais facilmente do que se ficasse o tempo todo olhando para si mesma. E estarás mais livre dos vermes que entram nestas primeiras moradas, onde ela dá início à tarefa de se conhecer a si mesma. É grande misericórdia de Deus que a alma comece a se exercitar nisso, pois tanto se peca por falta como por excesso, como se diz. E creiam-me que, com a virtude de Deus, podemos adquirir virtudes maiores do que se ficarmos presas a esta terra”. Certamente o que é sagrado para aquela artista difere da que é à Doutora da Igreja.
Todo Teólogo da Libertação é Thelemita! (Enquirídio).
6. Retornando à canção “Hymne a l'Amour” (“Hino do Amor”), “Dieu réunit ceux qui s'aiment” (“Deus reúne aqueles que se amam”) não é uma expressão referida a vontade divina, mas uma que consiga expressar as falsas uniões em um país tomado pela ideologia revolucionária, qualquer que possa ser sua manifestação, seja como permissão ao casamento homoafetivo ou mesmo a vindoura imposição de reconhecimento da Santa Igreja, que não fará e será mais perseguida por aquilo que sobrou do iluminismo. Afinal de contas, aquela zombaria e escárnio encenada por travestis, como dito, termina sendo apenas uma pequena amostra das intenções dessas pessoas, restando tentar entender o motivo do Vatican News ter feito tanta questão de encerrar sua redação sobre tal coisa com algo que nitidamente abriu espaço para equívocos interpretativos como estes:
“Não é por aí! Eles quiseram passar a mensagem, para o mundo todo, de igualdade e inclusão.” (fernandachagaschiconelli).
“Sou cristão, católico, e não me senti ofendido. A abertura das olimpíadas é uma obra artística e, enquanto tal, não cabe juízo de valor da Igreja.” (@luann.ferreira).
“Escárnio ou inclusão? O amor de Jesus não é sem fronteiras?” (@fraternidadedosamigosdesejus).
“Sou cristão e não me senti ofendido. Com certeza Jesus aceitaria uma drag queen em sua mesa, porque Jesus é Amor e não preconceito.” (@bfiuzaalencarararipe).
“Foi maravilhoso [emojis de coração branco] uma pena nossa igreja não olhar para fora dos muros do Vaticano.” (@brunocvs).
7. As citações foram extraídas de comentários na publicação relativa ao assunto no perfil do Vatican News no Instagram. Os “prints” estão salvos em arquivo pessoal do Enquirídio para o caso de excluíram os originais naquela mídia social. Dois usuários iniciam suas manifestações de maneira muito semelhante, igualmente as milícias de internet, donde, através de fonte comum, tendem a repetir motivos prefixados como este aqui: “Sou cristão [...] e não me senti ofendido”. Gatilhos escritos que indicam alguma pertença. Longe de querer seguir analisando esta constatação, verdade é que a mídia vaticana ao evidenciar o trecho daquela canção ao encerrar a redação daquela notícia, demonstra uma postura não condizente com sua atribuição e incoerente em termos de fé, sendo um infeliz flagrante de indiferença para com toda dor sofrida por sua Santa Igreja enquanto Corpo Místico de Jesus Cristo. Assim sendo, comentou este blog naquela postagem: aqueles que se amam, como Nosso Senhor amou, reúnem-se em Deus. Amar como Ele nos amou é amar a Deus sobre todas as coisas. “Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardarei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor.” (Jo 15, 10) e “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15, 12), pois “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando.” (Jo 15, 13s). Eis o que diz o próprio Cordeiro Imolado ao explicar a parábola do joio no campo: “O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno. O inimigo, que o semeia, é o demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. E assim como se recolhe o joio para jogá-lo no fogo, assim será o fim do mundo. O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes.” (Mt 13, 37-42).

8. Então todos “Deus reúne aqueles que se amam”? Certamente, mas não pelo teor da letra da canção, mas por aquilo que foi falado por Ele: “Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.” (Mt 19, 5s). Certamente, conforme um comentário posto acima, travestis que zombam de Deus, escarneia seu mistério, poderiam ter sentado à mesa junto ao Nosso Senhor, posto que Judas estivera com ali também. Ou seja, há quem se ame mais ao ponto de negar o amor de Deus, quem negue o Evangelho e coloque sua vaidade como regente de si mesma. Portanto, “aqueles que se amam”, como amam? Como Aleister Crowley disse? Isto não é amor. Amor é caridade e “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.” (1Cor 13, 4ss). São nos termos já expostos que preocupa as colocações do Vatican News, para que não seja mais uma dentre tantas mídias.

9. Se os católicos perdem a confiança em um canal oficial da Santa Sé, nada mais, exceto as comunicações diretas do Santo Padre, pode fazer sentido sem antes ser objeto de dúvida. Ser luz, senhor Paolo Ruffini! De trevas já basta o mundo. Ser sal, mas sem alterar o sabor. Preserva o verdadeiro que tudo que for falso cairá por si só.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Deus Reúne Aqueles que se Amam? Enquirídio. Maceió, 28 jul. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/07/deus-reune-aqueles-que-se-amam.html.

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