21.11.22

Instruções ao Pensador V

No campo da ciência, também as formas de pensar se estabelecem como consequências de convenções acadêmicas. Quanto mais empírica é a matéria, menor é a chance de sofrer relativização, excetuando-se as possibilidades já convencionadas, mesmo que não provadas, postas por poder dos pactos.
Ricardo I em Marcha para Jerusalém
Egbert van Heemskerck. Um Alquimista em Seu Laboratório.
1. De antemão, abordar tal assunto requer prudência no intuito de frustrar o senso comum, concorrente do pensamento, conforme colocado em Instruções ao Pensador I. Também é preciso advertir à negação da ciência já provada. Assim é que o empenho aqui realizado irá enveredar sem prejuízo de disparates.

2. Observa-se de imediato um assunto de imensurável gravidade, qual seja: vida. Incapazes de afirmarem o momento no qual se dá, porém, intentando convencioná-la, limitam-na conforme suas limitações ou reduzem-na às conveniências do materialismo nas formalidades acadêmicas, mesmo que sejam meras convenções ou burocracias.

3. Verdade que diversos atestados científicos dão possibilidade aos experimentos, gerando soluções, embora também originem prejuízos, pois como obra cética, acaba a ciência por ser freada dos ímpetos pelas éticas decorrentes de convenções, deslocando os assuntos da concretude para artificialidade, donde as formas de pensar já abstraem o que é empírico.

4. Percebe-se no estudo das flores, sobretudo pelas técnicas de dissecação, tratar-se de exames a respeito dos fragmentos inanimados que compunham organismos animados, mas que não resultam em estudar as vidas deles. Para isso, deve-se ir ao local onde vivem, perceber em conjunto com seu ambiente, mas que tal não impede os devidos exames laboratoriais.

5. Igualmente é testemunhado a necessidade de materializar a vida e convencioná-la academicamente, mas sem que consigam ou desejem empreender qualquer comprovação, cabendo ao pensador o empenho intelectual à validação das ambições científicas, sendo nítido o exílio ou ruína da metafísica e o pensamento por decorrência.

6. Como já posto em Instruções ao Pensador III, todo medo pela metafísica, observando-se os cientificismos convencionados, referem-se ao contraponto das superstições. Porém, quando a ciência se debruça em questões que não são prováveis no âmbito material, retorcem-na ao sintetismo relativista como novo plano metafísico.

7. Assim é que a ciência não apenas origina sua própria metafísica sintética, como a gere no meio de convenções supersticiosas, incapacitando o pensamento de atingir as causas, pois, para isso, somente lhe oferece seus efeitos, mesmo que apenas convencionados, ocultando do verdadeiro sua própria essência.

8. Vale a pena reconhecer a serventia das convenções, que nas linguagens permitem aos povos uma associação comunicativa, prelúdio ao diálogo. Porém, quando se convencionam questões que não existem, originam um universo paralelo, desgarrado da realidade empírica, embora esta também possa se abster do metafísico se for só materialista.
Temas vitais, removendo-se as capacidades metafísicas, tornam-se natimortas, donde o limite científico no material é superado por uma convenção, mas que não significa ser realidade.
9. Quando a vida é provada? Somente na existência? Se pensar é poder existir, quem não pensa não existe, logo não pode ser vivo. Silogismo já abordado em Instruções ao Pensador IV. Temas vitais, removendo-se as capacidades metafísicas, tornam-se natimortas, donde o limite científico no material é superado por uma convenção, mas que não significa ser realidade.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Instruções ao Pensador V. Enquirídio. Maceió, 21 nov. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/11/instrucoes-ao-pensador-v.html.

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