23.11.22

Instruções ao Pensador VII

Ao longo dessas instruções ao pensador, observa-se de maneira reincidente os assuntos que são relacionados às convenções, sobretudo na ciência e política. Porém, parece sensato ao pensamento se permitir questionar se também na religião há decorrências convencionadas ao invés de incidências metafísicas.
Salomon Koninck. Um Filósofo.
1. Primeiro é preciso explicitar o que é uma convenção em nível de produção humana. Trata-se de um pacto, mas que não necessariamente acontece planejadamente, donde a escrita ou mesmo a matemática são decorrências do tempo e espaço sem que fossem inteiramente convencionadas, como pode ser uma constituição de um país.

2. Na ciência, lembrando das Instruções ao Pensador V, há convenção quando convém explicar sem existirem evidências suficientes à comprovação, geralmente disto pouco ou nada significando à vivência ou utilização prática, donde sua função devia ser meramente hipotética para fins acadêmicos, embora por sua publicidade a sociedade seja inteiramente influenciada.

3. Na política, consoante Instruções ao Pensador VI, as convenções ludibriam a sociedade ao passo que movem ou transferem os problemas de convivência inerentes ao homem em conjunto ao estado-supra-humano que vai contra-ele-mesmo, justamente por ser aquém das necessidades da humanidade, pois está acima de tudo e abaixo de nada.

4. Agora é o turno da religião. Poderia ser ela uma convenção? Diz-se que não, mas que têm em si, diferentemente das seitas ou ordens iniciáticas, que são totalmente convencionadas, geralmente convenientes a grupos sociais ou mesmo uma pessoa apenas. Difere da ciência e política por não ser própria do homem, mas das incidências metafísicas ignoradas pelas duas.

5. Assim é que a religião não é uma convenção, mas uma obra de Deus, quem René Descarte apresenta em Instruções ao Pensador II como detentor singular do pensamento cedido em parcela aos homens quando unidos a fonte, religando-se ao princípio da própria existência na forma de pensar primordial e perpétua, donde o cogito ergo sum dimana da verdade.
Evitando a metafísica verdadeira, qual seja, Deus, sintetizam uma que estaria sob domínio, mas que por sua concepção ter uma finalidade superior aos homens enquanto indivíduos, mesmos seus criadores, coloca-os abaixo sob sua dominação.
6. Observe que ciência ou política, enquanto produções humanas no âmbito da matéria, subvertem-se por convenções. Evitando a metafísica verdadeira, qual seja, Deus, sintetizam uma que estaria sob domínio, mas que por sua concepção ter uma finalidade superior aos homens enquanto indivíduos, mesmos seus criadores, coloca-os abaixo sob sua dominação.

7. Thomas Hobbes chamou tal sequela de Leviatã, referindo-se ao Estado, mas por sua extensão, qualquer coisa que exerça domínio sobre homens é também um monstro que vai acabar por engolir aqueles que lhe atribuíram uma finalidade por justamente ser passível de subversão, convencionada ou imposta por uma espécie de tirania.

8. Portanto, ciência e política, enquanto decorrem de convenções por metafísicas sintéticas, afastando-se daquilo que lhes são determinadas por finalidades, transformam-se em um Leviatã. Igualmente a religião, que por querer chegar na fonte da forma de pensar capaz do existir, aniquila-se ao se contrariar, não por sua origem divina, mas por seu destino humano.

9. Tendo quem em busca de Deus se perde, causa ou adere convenções pactuadas na religião, mas não por seu genuíno intento, decaído ao desejo humano, como na ciência ou política, originando uma metafísica sintética revestida de divindade como meio para projetar convicções, mesmo advindas pelos sentidos mais imediatos, desprovidos de pensamento.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Instruções ao Pensador VII. Enquirídio. Maceió, 23 nov. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/11/instrucoes-ao-pensador-vii.html.

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