22.11.22

Instruções ao Pensador VI

As provas de que no âmbito material tão somente se consolida o infortúnio da humanidade não são difíceis de alcançar e aparecem justamente na inclinação do pensamento àquilo que repara através dos sentidos, sendo mais objeto derivado de indução do que um proveito de inspiração ou intuição.
Jean-Baptiste Oudry. O Lobo e o Cordeiro.
1. Tomas Hobbes (1588-1679), observando no homem o ímpeto à extinção, donde a espécie supra-qualquer-coisa é colocada infra-ela-mesma, estabelece na necessidade de um estado-supra-humano sua preservação contra-ela-própria. Conceitos que vão ser pormenorizados apropriadamente na sequência.

2. Do ponto de vista no qual os homens se observam tal qual uma espécie supra-qualquer-coisa, nenhuma acepção metafísica lhes compete ou interessa, posto que já são maiores que qualquer existência: gente; bicho; coisa física ou etérea. Porém, quando esta criatura auto referida como métrica para tudo assim se coloca, colapsa.

3. Colapsa no sentido de que se alguém deseja se tornar a medida padrão para todos, então estes vão querer, cada qual pelas grandezas que lhes são imediatas, fazer-se por tal métrica no ímpeto de se basearem em si mesmos ao invés de em outros, dando ensejo ao caos como eixo da relação que conduz o homem ao estado bestial.

4. Assim é que o filósofo, disseminando uma percepção precedente ao conhecimento apresentado, afirmou homo homini lupus ou homem é o lobo do homem. Então, como na ciência, conforme colocada em Instruções ao Pensador V, também na política a ambição material humana é inclinada a resolver tal problema por concepções sintéticas.
Portanto, querendo o homem ocupar um espaço de eterna disputa, pois é tido como base do caos ou reino das bestas, deve, então, erigir um estado-supra-humano contra-ele-próprio.
5. Neste ponto, Thomas Hobbes vislumbrou o surgimento de um Leviatã, monstro relativo ao Antigo Testamento, como causa da fixação estatal. Portanto, querendo o homem ocupar um espaço de eterna disputa, pois é tido como base do caos ou reino das bestas, deve, então, erigir um estado-supra-humano contra-ele-próprio.

6. Como Deus está sendo exilado do arbítrio do indivíduo escravo da matéria em um universo sintético, donde as formas de pensar não aderem à realidade, mas a uma versão dentre algumas de um realismo inventado, concluem por convenção uma entidade que represente suas liberdades dentro de limites, conforme certa ponderação em Instruções ao Pensador III.

7. Havendo limites aos homens perante aquilo que abdica por outros contra-eles-próprios, mas por ele mesmo em busca do estado-supra-humano, também reflete na liberdade intelectual, que por sua vez não deixa de tocar na ideia de um pensamento autocontrolado, bastando que ele adentre no âmbito do Leviatã, que é a tal criatura dali emanada.

8. Neste ponto, parece que mesmo o estado-supra-humano somente deslocou o problema da dimensão encerrada no indivíduo como métrica para esta entidade concebida, mas que sua grandeza é idêntica às medidas humanas, sendo capaz de se fazer tanto como trono de homem como de lobo, sujeitando-se ao quão contra-ele-mesmo é o soberano.

9. Portanto, mesmo uma criação formal, como é a nação, quando erguida numa metafísica sintetizada, concebe não para uma demanda humana, mas para uma amparada por convenção que não necessariamente testemunha as necessidades baseadas na realidade, pois como estado-supra-humano, tende contra seu criador, assim como alguns seres para Deus.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Instruções ao Pensador VI. Enquirídio. Maceió, 22 nov. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/11/instrucoes-ao-pensador-vi.html.

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