18.11.22

Instruções ao Pensador III

Já se percebe nas produções filosóficas o pânico de exercer o intelecto em proveito de questões voltadas à metafísica, revelando não somente a liberdade intelectual como convenção enganosa, como o medo para qualquer presença ou incidência supra sensorial que desvele a limitação humana.
Ricardo I em Marcha para Jerusalém
Rembrandt. Anna e o Cego Tobit.
1. As reflexões em Instruções ao Pensador I e Instruções ao Pensador II subscrevem a singularidade do pensamento, cabendo aqui discorrer de maneira sumária a liberdade tão aclamada, sobretudo quando intelectual, embora não consiga escapar dos grilhões dos sentidos enquanto prisioneira. Mas por quê?

2. Porque a liberdade, mesmo utópica, continua limitada às formas de pensar. Se os pensamentos, assim postos nos outros dois artigos, resultam dos sentidos, logo todo universo se restringe ao sensorial. Porém, conforme as sensações de cada um. Se um deixa de sentir como um outro sobre coisa igual, ou inexiste o objeto sentido ou quem os sente.

3. Na verdade, ninguém deixa de existir ao discordar da tonalidade da folha verde, se mais clara ou se mais escura. Entretanto, dizer seu matiz não prova pensar, mas tão somente expressa uma convenção, sendo reação óptica unida ao reflexo falado. Assim é que a matéria acontece aos sentidos, motivo pelo qual reações não significariam pensamento.

4. Mesmo a liberdade no estrito âmbito da matéria se tornaria relativa, como o matiz da folha verde. Então um navio poderia estar liberto no oceano, verdade, mas não navega para onde quer, pois traça seu curso tendo em vista as rotas de portos, mesmo que de sua própria origem. Diferente disto é estar à deriva, livre à sorte ou azar para esta analogia.

5. Ancorado é a condição de um navio no ancoradouro, mas que se tal for destruído pela maré, então quem ancorou retorna à deriva, tornando-se produto desta situação. Assim é que a liberdade intelectual é condicionada a conveniências ou seguridades “portuárias” influentes, mas que nem sempre possuem a sensatez buscada no pensamento.
Aquilo que inspira não aprisiona, uma vez que advinda da liberdade de verdade não adquire um formato, apesar deste poder ocupar aquele.
6. As influências, diferentemente das inspirações, tendem a alienar os homens nos próprios conceitos, donde as falsas razões são vistas assim como as marcas que deixam os animais nos lugares que ocupam. Aquilo que inspira não aprisiona, uma vez que advinda da liberdade de verdade não adquire um formato, apesar deste poder ocupar aquele.

7. Liberdade só no ilimitado! René Descartes buscando Deus reconhece sua limitação e fundamenta o pensamento na porção advinda daquilo que não possui limites, portanto, proveniente duma metafísica não dimensional, que foi transformada por influências num pesadelo por ser justamente a liberdade incondicional impassível de objetificação.

8. Se há liberdade no imaterial e a maneira de acessá-la provém dela própria, significa que inclusive o intelecto também percebe do metafísico seu fragmento de inspiração, mas num mundo de domínio material não parece sensato aos que dominam afirmarem o intangível se dependem do tangível para dominarem, negando a Deus logo, pois d’Ele é tudo.

9. Então o medo se torna o motor da máquina material, tornando o homem sua engrenagem, limitado para ascender seus pensamentos por uma liberdade intelectual como convenção enganosa, que vai apenas se basear na matéria em proveito dela somente, mas não arrasa o divino eterno, intuito desse terror; só destrói os seres, como sendo meras peças.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Instruções ao Pensador III. Enquirídio. Maceió, 18 nov. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/11/instrucoes-ao-pensador-iii.html.

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