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| Uma Jovem se Defendendo Contra Eros. William-Adolphe Bouguereau. |
2. Foque no termo “racionalidade”, embora não nos debrucemos sobre ela agora. Neste ponto, vale a pena perceber que Marcuse entende “liberdade” como derivada da “ordem de abundância” não repressiva, possível apenas em “civilizações amadurecidas”, motivo pelo qual, como se fosse um enigma, resta entender este conceito socialista/anarquista.
3. As “civilizações amadurecidas”, portanto, supririam toda necessidade básica de um povo, dispendendo o mínimo de energia física e mental, ainda assim em um menor tempo, que é uma espécie de vislumbre da sociedade contemporânea, na qual as gerações digitais se tornaram menos inteligentes do que as analógicas.
4. Miguel Nicolelis, cientista de carreira, reservadas as divergências políticas para com este Enquirídio, têm feito uma abordagem sobre “inteligência artificial” que desagrada os entusiastas, sobretudo em termos de interface cérebro/máquina, cujo dado que mais importa no momento, revelado por ele, é o seguinte: “o cérebro humano não é digital”.
5. Naquilo que Marcuse pensou a respeito das “civilizações amadurecidas”, certamente a “inteligência artificial” seria uma ideia derivada, orientada à “liberdade”, dada pela “abundância”, pois “O necessário labor ou trabalho esforçado é um sistema de atividades inumanas, mecânicas e rotineiras [...]”, como torna claro no final do nono capítulo.
6. Enquanto a máquina pensaria os problemas, os humanos, “libertos” desse “sistema”, atingiriam a individualidade tanto como um valor em si, como um fim em si — que é uma prerrogativa do hedonismo. Como obter pleno prazer, gozar duma “liberdade” sem trabalho, se ainda existe a razão para impedir isso tudo?
7. “A des-sublimação da razão é justamente um processo tão essencial, na emergência de uma cultura livre, quanto a auto-sublimação da sensualidade”. Sublimar, noutros termos, significa converter impulsos (sexuais) em qualquer proveito (assexual) socialmente reconhecido — e aqui é que o “pulo do gato” acontece!
8. Na verdade, um “pulo do gato” já ocorrido, dado pelo próprio Marcuse: “Mas a ideia de uma civilização não-repressiva, com base nas realizações do princípio de desempenho, deparou com o argumento de que a libertação instintiva (e, consequentemente, a libertação total) faria explodir a própria civilização — que é o que acontece atualmente.
9. Nisto que faria explodir a própria civilização, fala que esta “[...] só se pode sustentar através da renúncia e do trabalho (labuta) — por outras palavras, através da utilização repressiva da energia instintiva. Livre dessas repressões, o homem existiria sem trabalho e sem ordem; retrocederia para a natureza, que destruiria a cultura”.
10. Daí por diante, ele interpreta tudo isso como "símbolos até concluir que “liberdade” e racionalidade são antagônicas — mas que gênio (ironia). Yuri Bezmenov (1939-1993), ex-agente do KGB, embora não responda a Marcuse diretamente, demonstra que seu psicologismo em “Eros e Civilização” comunga com a subversão ideológica soviética.
11. No estágio de “desmoralização” de um povo, algo que leva 15 ou 20 anos, “liberdade” se transforme em um pseudo conceito que tendencia tudo à luta de classes, também forjada, fazendo corromper a percepção da realidade, sobretudo para diminuir sua produção ao ponto de colapsá-la através de visões democráticas frágeis.
12. Não à toa, enquanto os regimes totalitários da Rússia, China e Coréia do Norte se veem em vantagem produtiva, democracias fragilizadas se encontram em processo de declínio civilizatório, sobretudo por perderem suas identidades nacionais, como é o caso da Alemanha, França e Reino Unido, alvos prioritários de campanhas subversivas.
13. Evidentemente que os EUA, na lista de prioridades à subversão, estiveram sempre em primeiro lugar, posto que desde o término da Segunda Guerra Mundial sua história foi marcada por conflitos culturais, incluindo a segregação racial, feminismo (de segunda onda) e a própria revolução sexual, dando origem às fissuras nacionais recentes.
14. Enquanto alguns teóricos da subversão procuravam respostas em Antonio Gramsci (1891-1937) para toda questão voltada ao primeiro estágio, qual seja, de “desmoralização”, os acontecimentos no Brasil ao longo da história recente (1988 até então) já bastam para concluir que Marcuse foi quem deu balizas para isso.
15. Através da hiperssexualização, especialmente nas universidades, cumpriu um estágio crucial, fazendo com que disciplinas enfatizassem distrações como “sexualidade”, conforme apontado por Bezmenov, demovendo a atenção dos estudantes do uso da razão para algo mais instintivo, “libertário”, individual.
16. Hiperssexualização que não foi projetada tão somente em universidades, mas nos entretenimentos populares, massivos, sobretudo na televisão e música, donde, daí por diante, seguiu seu curso influenciando demais setores organizacionais, até que atingisse os vulneráveis, que são adolescentes e crianças de todas as idades.
17. As temáticas sexuais inibem o empenho racional, fazendo substituir o pensamento pelas reações mais imediatas, ainda que sejam tratadas de maneira equivocada, como se elas fossem próprias dos esforços intelectuais, quando na verdade são instintivas. Novamente: não à toa, agora, cada vez mais crescem problemas nesta ordem.
18. Crianças, adolescentes e adultos jovens (especialmente se universitários) são justamente os que se prejudicam mais perante essa engenharia social, responsável por projetar pessoas ansiosas, depressivas (dentre outros fatores), levando ao aumento de suicídios numa faixa etária que vai desde os 10 aos 24 anos de idade no Brasil.
19. Resultado: população dependente de recursos estatais; ausência de produção nacional; desvalorização da educação como nunca antes visto; diminuição de postos de trabalho; altos níveis de corrupção no governo; criminalidade desenfreada; adoecimento mental precoce... Ora, mas se tudo isso não for “explodir a própria civilização”, o que é? Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Eros e o Assédio à Civilização Brasileira. Enquirídio. Maceió, 27 dez. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/12/eros-e-o-assedio-civilizacao-brasileira.html.
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