3.12.25

Bruxaria de Harry Potter em Provas Gráficas

Neste breve artigo, observaremos um panorama geral sobre aspectos da influência de “Harry Potter” na cultura jovem, tendo em vista que esta saga voltará ao cenário mundial em 2027 como série, verificando os interesses relacionados em pesquisas no Google ao longo de 10-20 anos.
William Holbrook Beard. Raio Atingindo um Bando de Bruxas.
1. Há quem diga que “Harry Potter” tem influenciado um determinado público a procurar por práticas de bruxaria ou religiões modernas atreladas, sobretudo a Wicca, embora uma coisa não condiga com a outra em termos de história concreta. No intuito de investigar essas colocações, utilizamos o Google Trends para medir o nível de interesse direcionado aos termos “Magia”, “Bruxa” (“Bruxo” não foi relevante nas medições), “Wicca” e “Bruxaria” em um período de ao menos uma década, começando em 01 janeiro de 2004, quando o Google (que já era, desde 2000, predominante enquanto ferramenta de pesquisa) começou a fornecer esses dados. Assim sendo, observe os gráficos e perceba, sobretudo os picos de linhas azuis, pois eles indicam as estreias dos filmes em cinemas brasileiros e portugueses:
2. O que é imediatamente correlacionado nas observações são interesses sobre “Harry Potter” e “Magia”, especialmente quanto em etapas desses gráficos as linhas azuis aludem alguma influência nas vermelhas (no caso do Brasil isto fica evidente nas estreias dos últimos filmes para esta saga) ou quando aquela cruza com esta (mais vezes no caso de Portugal), sendo dados interessantes se comparados: a) “Bruxa” (lembrando que “Bruxo” não foi relevante nas medições), que até revelou um discreto aumento nas pesquisas durante as épocas de lançamentos; b) “Wicca”, que não demonstrou qualquer relevância após 2004; c) “Bruxaria”, que, por fim, sequer deveria ser incluída como parâmetro ali nos gráficos por sua absoluta irrelevância. Entretanto, antes de tecer comentários mais direcionados, vale a pena registrar que uma geração inteira se tornou adepta do fenômeno originado na obra de J. K. Rowling, donde quem tinha na época da primeira edição do livro “Harry Poter e a Pedra Filosofal” cerca de 10-12 anos de idade em 1999 (Portugal) ou em 2000 (Brasil), assistiu “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” em 2004 já adolescente (14-16 anos), concluindo a filmologia em 2011 já na condição de pessoa adulta (21-23 anos). Embora as buscas no Google tenham diminuído depois desse tempo, “Harry Potter” e “Magia” continuam bem associados nas métricas que vão até 2014. Assim sendo, vejamos se os assuntos do próprio universo ficcional abordado são tão relevantes quanto aqueles da realidade:
3. Como se vê, seja sobre um vilão ou amigos de “Harry Potter”, todos, “Hermione”, “Voldemort” e “Weasley”, raramente foram pesquisados, conforme os gráficos para Brasil e Portugal. Significa dizer que muito do que se observa como influência mais repercute em pesquisas sobre ao menos um assunto de transição, como é o caso do termo “Magia”, do que os propriamente relacionados ao universo ficcional de J. K. Rowling. Pouparemos o leitor à exposição entediante às diversas comparações entre essas duas mais significantes palavras com tantas outras, como “Wingardium Leviosa” (feitiço), “Avada Kedavra” (maldição) ou mesmo “Abracadabra” (encantamento), expandindo um pouco mais essas possibilidades para além da ficção, no intuito de mostrar que poderiam ser relevantes, embora os resultados sejam quase sempre iguais: irrelevantes. Agora, sobre “magia”, o que é que preserva esse interesse sempre constante, conforme se nota em pesquisas no Google, ainda que não tão expressivo quanto os picos já observados? Precisamos, portanto, perceber o que é historicamente relacionado ao âmbito magista, como é o caso de livros como “Ritual e Dogma de Alta Magia”, de Éliphas Lévi (1810-1875), ou as práticas para criações de talismãs, mas que não fariam sentido sem que houvesse alguma condução, como uma ordem iniciática, escola esotérica ou mesmo religiões que exploram fenômenos preternaturais (ou parapsicológicos), movendo-nos aos que são amplamente conhecidos:
4. No Brasil é nítida a relação de busca entre “Magia”, “Espiritismo”, “Maçonaria” e “Umbanda” (mantido para preservar os parâmetros da pesquisa), diferentemente de Portugal, que até o ano de 2006 os termos se relacionavam, mas que nitidamente se afastaram depois desse tempo. Somente em 2012, ainda assim por uma questão política, os maçons se tornaram expressivos enquanto interesse português, conforme esses dados no Google Trends, embora sejam muito influentes na realidade daquele continente. Embora o umbandismo não tenha adesão entre portugueses, estes terminam procurando mais pela cultura “Cigana” ou “Celta”, porém, sempre ligadas ao contínuo maçônico. Importa lembrar que Allan Kardec (1804-1869), fundador do espiritismo, também foi maçom, e que o precursor da umbanda, Zélio de Moraes (1891-1975), que por ter sofrido alguma rejeição dos espíritas (kardecistas), desenvolveu esse sincretismo, e que o seu nome hoje denomina uma comenda maçônica numa loja — o que não é coincidência. Então existe um intermédio que mantém certo esforço para sustentar alguns assuntos relevantes, ao menos na internet, motivo pelo qual parece importante observar essas métricas para além de 2014, estendendo-as para 2024, quando aquela geração, que não apenas leu, mas assistiu aos filmes de “Harry Potter”, tornou-se madura (31-33 anos):
5. Parece impossível não relacionar “Harry Potter” com “Magia” e “Bruxa”, sobretudo porque depois de 2014, ainda que outras produções originais de J. K. Rowling tenham sido lançadas, os filmes em si já haviam atingido seu fim enquanto novidade, passando para plataformas de exibição-contínua, como é a HBO (onde será relançado em 2027 como série), motivo pelo qual continua em reexibição constante. Em buscas feitas através do Google no período de 2014 até 2024, cada pico para “Harry Potter” indica outro mais leve para “Magia”, porém, significando outros tantos elevados para “Bruxa”, que por sua vez, observando os gráficos no Brasil, parecem se relacionar realmente ao universo ficcional (embora esta possa levar àquela, evidentemente) enquanto nas métricas de Portugal as linhas em amarelo mantêm alguma constância juntamente com “Wicca” (verdes) e “Bruxaria”, embora não indiquem que tal país está na iminência de se transformar em neopagão, conforme as informações dispostas na sequência:
6. Enquanto em Portugal o Papa Francisco se tornou a única autoridade católica a superar em pesquisas no Google os termos “Harry Potter” e “Magia”, no Brasil ele apenas fez sua voz ultrapassar os interesses neopagãos nessas pesquisas uma vez, enquanto uma disputa se tornou mais evidente através de “Frei Gilson” (no fim da pandemia de COVID-19), que por base tinha “Padre Paulo Ricardo” numa lenta ascensão, mas sem expressividade considerável, se colocado em comparação. Igualmente importante é a percepção brasileira e portuguesa para assuntos voltados aos sacramentos, que introduzem uma pessoa ao cristianismo:
7. Em ambos os países as pessoas parecem ter buscado se informar sobre “Batismo”, igualando-se ou levemente ultrapassando as buscas acerca de “Magia” em muitas etapas do gráfico. Em Portugal, talvez, os cristãos persistam mais, pois “Crisma” e “Eucaristia” geralmente se relacionam muito mais em face daquele primeiro sacramento, enquanto no Brasil as linhas amarelas, verdes e roxas nunca se tocam — o que é preocupante, pois, ao menos na perspectiva brasileira, parece haver sim uma maior inclinação às culturas neopagãs atreladas ao caráter magista. Portanto, “Harry Potter”, de certo modo, pode exercer certa influência, mas não apenas entre jovens, uma vez que estamos falando da manutenção de um interesse que ultrapassa gerações e possui seus adeptos originais de 1999-2000 ao momento presente, que não necessariamente se interessam por “Wicca”, “Bruxaria”, “Espiritismo”, “Umbanda” ou “Maçonaria”, embora evidentemente concorram ao neopaganismo — assunto que merece uma apreciação mais profunda, analítica, definitiva. Mas, por agora, onde será que está focada a atenção dos jovens de 10-12 (ou 14-16) anos de idade? Temos uma suspeita:
8. As pessoas de fé, vamos trazer nesses termos, preocupadas com “Wingardium Leviosa” ou “Avada Kedavra”, têm realizado um combate de trouxa mesmo, lembrando a expressão em “Harry Potter” para aqueles que não são bruxo(as). Os jovens de agora “são” ninjas, capazes de “jutsus” variados (“Naruto”), ou se notam por piratas com poderes especiais (“One Piece”). Também há aqueles que preferem os super-heróis clássicos como Homem-Aranha (“Marvel”) ou estão em busca de mistérios mais profundos do “mundo invertido”, incluindo seus fenômenos paranormais (“Stranger Things”). Tanto no Brasil, quanto em Portugal, existem fãs bem fixados ainda nos livros e filmes de “Harry Potter”, onde essa manutenção do interesse, revelados pelas buscas no Google, pode estar sendo gerada até mesmo pelo público que atualmente já incentiva seus filhos a lerem e assistirem as aventuras que acontecem em Hogwarts. Existe uma preocupação legítima sobre o termo “Magia” estar muito associado à “Maçonaria”, direta ou indiretamente (quando se vê maiores expressões em “Espiritismo”, “Umbanda” e “Wicca”), mas não significa que mantém relação direta com coisas da ficção criada por J. K. Rowling, que, por sinal, não tem adesão total aos rumos atuais daquilo que ela mesma inventou, como é o caso de personagens que vão sendo subvertidos por diversos lobbies ideológicos ou mesmo as aspirações da Warner Bros. Discovery, responsável por materializar a criação da autora em longas metragens, séries, jogos, parques temáticos etc. Verdade que ela, para quem afirma ser cristã, certamente precisa amadurecer mais na fé, já que se solidariza com mulheres que desejam praticar o aborto — um ponto que torna explícita a relação entre universo ficcional e realidade quando o assunto é bruxaria para os dois, pois em ambos as inclinações são exatamente direcionadas para este: matar bebês. Observe:
9. No Brasil, aquela geração, que hoje tem 31-33 anos de idade, buscou no Google por “Aborto” sempre nas mesmas épocas em que as pesquisas pelo termo “Bruxa” foram feitas. Em Portugal, como matar bebês ainda no ventre é algo legal, amparado por lei, somente em junho de 2022 os portugueses procuraram mais pela palavra correlata, ainda assim sabendo que ela foi ressignificada para Interrupção Voluntária da Gravidez — IVG, pois, naquele momento, haviam divulgado uma baixa nas ocorrências. Interessante é compreender que “Magia” tem volume de procuras estável e entrelaçado com questões que são realmente mais próprias da bruxaria ao invés de “Feminismo” (“Feminista” não foi tão relevante enquanto parâmetro), que não tem expressividade sequer comparável, embora esses assuntos se relacionem.

11. Existem críticas sendo feitas ao mundo de “Harry Potter”, sobretudo por ser obviamente uma homenagem ao universo da bruxaria, porém, conforme o imaginário ficcional ao invés da realidade histórica, que por sua vez também merece tratamento específico, uma vez que termina virando um assunto enviesado (especialmente por causa dos processos de inquisição e a omissão por historiadores modernos dos malefícios causados por feiticeiras, sendo parte bruxas, mas outra não). Contudo, o que é possível apreciar no universo de J. K. Rowling é totalmente desconectado da abordagem ideológica de “Jovens Bruxas”, filme escrito e dirigido pela judia Zoe Lister-Jones, que teve sua estreia em 1996 e que é, além de um deboche clássico ao cristianismo (contextualizado em colégio de freiras, cuja maior vilã está sempre com muitos terços pendurados no pescoço, apesar das roupas curtas, provocativas de um modo geral, além de fazer leituras de cabala no momento da celebração eucarística em certa cena), realmente atrelado à literatura relativa, como é o livro “Aradia: O Evangelho das Bruxas”, do maçom Charles Godfrey Leland (1824-1903) — realmente blasfemo, satânico, diga-se de passagem: “Quando o nobre e o padre disserem / Que deves crer no Pai, no Filho, / E em Maria, tua resposta há de ser sempre: / “Vosso Deus, o Pai e Maria / São três demônios... / Pois o verdadeiro Deus-Pai não é vosso”. Em Hogwarts, apesar de conter certas ambiguidades, o que é moralmente condenável, bem e mal são colocados como elementos antagônicos e a tirania é repudiada sem qualquer sombra de dúvida, diferentemente daquela outra produção que, por sinal, tem uma extensão mais recente (2020) chamada “Jovens Bruxas: A Nova Irmandade”, escrita e dirigida pela mesma pessoa do original.

12. Em linhas gerais, “Harry Potter” poderia influenciar as pessoas à bruxaria? No tocante ao aborto, as opiniões de J. K. Rowling endossam uma prática própria já avistada, mas que, por sua obra, isto não faz nenhum sentido, pois o amor materno é reforçado ao longo de toda saga, uma vez que ele foi resultado de um sacrifício para salvação do protagonista da morte certa. Indiretamente, certamente poderia aguçar curiosidades a respeito de um universo espiritual perigoso, incluindo aspectos do ocultismo, conforme os interesses pesquisados no Google muitas vezes se relacionarem em algumas épocas, embora outras influências concorram para isto, como é o caso de determinadas “sociedades discretas”. Um cristão (leia-se católico bem formado) compreenderá os valores morais, ainda que num ambiente de bruxos(as), podendo fazer daquilo que for minimamente virtuoso um exemplo para outros mais, porém, alguém que possa ser suscetível às influências de um mundo isento de Deus pode, infelizmente, interessar-se pela suposta “Religião Antiga” e procurar algum “coven” na Wicca Gardneriana ou qualquer outra possibilidade mais independente. Ao certo, as reflexões oferecidas neste artigo não são conclusivas do ponto de vista em que as buscas, embora apontem alguns insights interessantes, precisariam ser mensuradas levando em consideração muitas outras variantes, como momentos políticos, repercussões televisivas, influências expressas, além de dados que incluem as métricas do YouTube, já que há quem, antes de recorrer ao buscador na web ou diretamente em aplicativos no computador ou celular, prefira encontrar vídeos relativos nesta plataforma. Finalmente, acreditamos que importa entender que não poderiam ser feitiços ou maldições fictícias como “Wingardium Leviosa” e “Avada Kedavra” os problemas que atormentam a sociedade minimamente preocupada com práticas danosas, do ponto de vista espiritual, mas, sem dúvida alguma, com sua gravidade prática constatável, no tocante aos feitiços e maldições realizadas na realidade, redundantemente falando, que não são aquelas do universo de Hogwarts, uma vez que tanto uma coisa como a outra são ruins, relacionadas com fenômenos indesejados e que a ciência não consegue explicar, motivo pelo qual terminam dando causa, para quem se mantém na fé, às intervenções de exorcistas. Também, mediante os gráficos apresentados, ignorar a relação de proximidade que certos jovens e alguns adultos conservam sobre essa saga, sobretudo pela capacidade de diálogo que envolve desde os nomes de personagens até situações simbólicas já convencionadas sob uma multiculturalidade internacionalizada, será um erro irremediável, inclusive pela franquia encontrar uma maneira de se perpetuar por mais dez anos através da série que vai estrear em 2027. Isto tudo, desde quanto houve o sucesso literário até ganhar as telonas dos cinemas no mundo inteiro, tornou-se um negócios bilionário, que de lá até agora, soma, juntando os volumes publicados em diferentes formatos, longas metragens, documentários, jogos, brinquedos, dentre outras coisas, um montante de 25 bilhões (USD) ou 133 bilhões (BRL) no presente momento. O que a HBO (Warner Bros. Discovery) deseja através desse empreendimento, que vai resistir, talvez, uma década inteira, consoante suas pretensões, é a coisas mais nítida de todas: realizar a manutenção do interesse em um público existente (se tivesse sido adquirida pela Disney, responsável por introduzir pautas de lobbies revolucionários nos produtos que adquiriu ao longo do tempo, como é o caso de “Star Wars”, isto poderia ser duvidoso), e; angariar uma geração para encontrar uma sobrevida aos produtos da marca, motivo pelo qual rejeitar o diálogo com tais espectadores será desastroso, ou seja, pela mera repetição de que se trata de coisa do Diabo, pecaminosa, mas sem buscar correlacionar ao que há de minimamente virtuoso para, daí, levar para assuntos mais importantes, como é a firme moral cristã, somente o distanciamento intergeracional acontecerá. Por fim, procurando antecipar um problema entre ficções que envolvem conteúdos parecidos, dado pelo teor magista, mesmo se juntasse “O Senhor dos Anéis” (que vem sofrendo certa gourmetização entre católicos) e “As Crônicas de Nárnia” (geralmente inferiorizado por aqueles que gourmetizam aquele outro), como único parâmetro de comparação, sequer teriam a metade da relevância que tem “Harry Potter”, pelos dados do Google Trends, em um período de duas décadas, apesar dos fãs deste demonstrarem interesse por aqueles. Desta forma, tentar trazer ao debate popular questões que envolvam o Frodo Bolseiro e Cia. Ltda. enquanto a pontuação de Grifinória é abalada pelos males causados por Voldemort é ignorar a audiêcia mainstream verdadeira para tratar, quem sabe, de um espantalho qualquer.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Bruxaria de Harry Potter em Provas Gráficas. Enquirídio. Maceió, 03 dez. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/12/bruxaria-de-harry-potter-em-provas-graficas.html.

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