3.7.22

Os Três Reis Magos: Pagãos, Cristãos

Não queira dar uma resposta pagã ao pagão se és da Santa Igreja de Nosso Senhor, cobrando-lhe atitude cristã sem dar exemplo cristão – isso é mera hipocrisia! Jesus Cristo não falava e ficava sentado só mandando. Muito pelo contrário! Ele se fez ver e ouvir e jamais pregou aquilo que não fez.
Leopold Kupelwieser. A Viagem dos três Reis Magos.
1. No catolicismo a história do nascimento de Jesus Cristo, contada da mesma forma por dois milênios, nunca omitiu a satisfação profética na adoração de Melchior, Gaspar e Baltazar, quando, guiados pela Estrela de Belém, partindo das regiões próximas de Ur, Mar Cáspio e Golfo Pérsico, segundo São Beda, seguiram ao reconhecimento do Messias, oferecendo-lhe ouro, mirra e incenso enquanto o reverenciavam. Os Três Reis Magos talvez não tivessem reinado, muito menos envolvimento com aquilo que foi rotulado por magia, sendo certo possuírem conhecimentos que não são próprios do cristianismo como conhecido hodiernamente, mas que por motivos divinos lhes foram misticamente permitidos, apesar de religiosamente suas práticas serem desconhecidas – pagãos para todo efeito (apesar de terem recebido o batismo por São Tomé depois da Paixão de Cristo).

2. Se os Três Reis Magos, adorando Nosso Senhor mesmo antes de nascer naquele momento (motivo pelo qual reconheceram Ele por ser conhecido, esperado, aguardado, sobretudo pelos sinais celestes), jamais poderiam ter recebido Sua doutrina, embora tivessem fé na profecia e certeza no Messias – quantos não reconhecem Jesus Cristo de maneira semelhante, mesmo diante da escassez doutrinal, justamente pelas portas da Santa Igreja parecerem fechadas? As pessoas de mansidão não poderiam, querendo adentrar, expulsar aqueles que obstruem as passagens. Perceba: ser pagão não significa adotar o paganismo, muito menos é sinônimo de desonestidade, sobretudo à religião alheia, donde notam que uns pregam aquilo que nunca foi evangelizado, especialmente pela Tradição Católica. Melchior, Gaspar e Baltazar são exemplos de crentes no Salvador anteriormente ao batismo ou mesmo da concretização salvífica!

3. Se você se permitir refletir sobre o mistério dos Três Reis Magos, donde no tempo foram pagãos crentes no Messias, naquela profecia que conheciam e reconheceram sua concretização na Estrela de Belém, entenderá que ninguém está além daquilo que tem por predestinação. Todos estão predestinados a Jesus Cristo, mesmo não tenham ainda recebido o batismo. Talvez nunca recebam, embora somente Nosso Senhor possa julgar o destino dessas pessoas, assim como julgará quem, mesmo recebendo o sacramento, tornou-se descrente, pratique uma crença paralela ou realmente tenha aderido ao paganismo, sendo certa a condenação daqueles que recusam, repudiam e recriminam a existência de Deus.

4. Como seria possível acreditar no Messias sendo pagão? Os Três Reis Magos, sábios do oriente que observavam nos sinais celestes o momento de reconhecer o Salvador, certamente sabiam das profecias. Questiona-se se através dos documentos judaicos ou através de outras fontes. Anna Catharina Emmerich, freira agostiniana do século XVIII, beatificada por São João Paulo II em 2004, durante uma visão que tivera, relatava ao confessor a respeito de “Mensor”, “Sair” e “Theokenos”, confirmando suas origens orientais (qualquer região para além da atual Jerusalém) e explicando que nomes em latim lhes foram dados por não saberem ao certo os verdadeiros ou depois que foram batizados por São Tomé após a Paixão de Cristo. Assim é que o mistério de Melchior, Gaspar e Baltazar reforça a possibilidade do desconhecido ter tamanha inclinação a Nosso Senhor apenas por acreditar naquilo que fez e faz nos tempos atuais.

5. Perceba que sendo pagãos, fazendo um paralelo com a história dos Três Reis Magos, aqueles sábios do oriente estavam convictos na Estrela de Belém, partindo de lugares distantes ao encontro do Menino Jesus (perseguido naquela época e região, assim como todas as crianças com até dois anos, pelo sanguinário Herodes, judeu convertido e vassalo dos romanos), enquanto aqueles que estavam próximos do Messias o repudiaram, promovendo perseguições e negando a profecia que tão bem registraram. Assim é que o paganismo pela ausência do batismo se realizou em Melchior, Gaspar e Baltazar: através da fé naquilo que receberam e guardaram. Muitos já avistaram, analogamente, aquele mesmo brilho celeste, sabem sobre Nosso Senhor, percebem que sua Santa Igreja, apesar dos pesares, nunca sucumbiu (muito menos sucumbirá) por dois mil anos, sendo aos mais céticos um fenômeno incrível, embora não consigam adentrá-la.

6. Contudo, basear-se na fé exclusivamente é próprio daqueles que não receberam as iniciações necessárias à compreensão dos mistérios de Nosso Senhor. Perceba que uma pessoa qualquer não poderia, conhecendo o Corão, afirmar-se muçulmano, muito menos budista por ter pleno saber dos ensinamentos de Gautama Buda. Assim é que o cristão precisa se valer da razão, porém, partindo do magistério da Santa Igreja, donde Jesus Cristo é Sumo Sacerdote. Sim, Pedro é a Pedra, conforme postagem publicada aqui no blog, embora os argumentos protestantes, igualmente aos dos pagãos, revelem uma racionalidade apartada, limitada ao pensamento secularizado, incluindo o tentador paralelismo ecumênico ou compatibilizante, valendo a leitura a respeito de Dom Henrique Soares e o Botão de Flor. Imagine professar um cristianismo cuja medida é o próprio homem – incabível!

7. Incabível também é perdurarem as perseguições contra os pagãos ou aquilo que utilizam de maneira instrumental à aproximação de Deus. Verdade seja dita: muitas pessoas até odeiam de todo coração os sacramentos, principalmente o batismo, apesar destas não serem necessariamente adeptas do paganismo, como é o caso de judeus e muçulmanos extremistas. Falando em extremismo, mesmo os protestantes em grande maioria rejeitam crisma, ordem, unção etc. Desta forma, aquilo que poderia caracterizar uma pessoa pagã parece bem complexo, mesmo dentro da Igreja Católica, sendo certo aquilo que falava Dom Henrique Soares: “não existe católico não praticante; o que existe é pagão batizado”. Apenas para ficar claro: no judaísmo há utilização da cabala; no islamismo se observa a prática do sufismo (favor não confundir com sofisma, relativa à falácia); no cristianismo existe a mística, praticada por Santo Agostinho, Santa Teresa D’Ávila, Beata Anna Catharina Emmerich dentre tantos(as), embora parte de nossa gente confunda o aprofundamento na fé, evidenciada pela transcendência na aproximação dos mistérios de Jesus Cristo, pasme, com uma espécie de bruxaria. Mesmo as potências do universo, divinamente permitidas, acabam se tornando objetos repudiáveis, mesmo sabendo que foi por uma previsão astrológica (alusivo aos astros, igualmente a Estrela de Belém) que conseguiram Melchior, Gaspar e Baltazar precisar o nascimento do Messias na certeza de poderem lhe homenagear. Muito do conhecimento ancestral anterior a chegada de Nosso Senhor foi utilizado com propósitos até proféticos, embora também tenham servido àqueles que desejam agourar, amaldiçoar, prejudicar, direta ou indiretamente, através da invocação de potências que nem entendem apropriadamente.

8. Veja: os pagãos, diante desses instrumentos, muitas vezes se perdem na busca de Deus, caindo em desgraça ou achando ser possível adivinhar o futuro ou modificá-lo, apesar de sequer compreenderem a finalidade daquilo que utilizam, quando é muito melhor dar uma utilidade efêmera, descabida, enganosa ao ludibriar pessoas com pouco ou nenhum discernimento sobre a realidade. Acontece que uma adepta de culturas pagãs observa nas orações, liturgias ou mesmo manifestações inspiradas, algumas semelhanças com aquilo que fazem, motivo pelo qual podem acreditar ter acesso ao divino, sentindo que tal fenômeno é plausível, tanto por questões de fé quanto ao se valerem da razão através de sistemas que não são voltados à adivinhação ou manipulação, embora também não possuam qualquer regramento que impeça o praticante de utilizá-los com fins perversos – concluindo-se desta forma os motivos que afastam os cristãos dessas coisas. Porém, entretanto, todavia... Se qualquer conhecido, amigo, parente seu for praticante de magia ou artes ocultas (terminologias que variam bastante), insista no exemplo! Raios de cristãos ao se esquivarem da oportunidade de evangelizar. Pregar o Evangelho não significa converter – somente Jesus Cristo é capaz disso! Deixe de rogar méritos que são exclusivamente de Nosso Senhor! Firme sua identidade católica para Misturar-se com Fé. Se jogarem búzios, reze o terço; se tirarem cartas, medite os versículos; se mapearem o zodíaco, contemple a Via Sacra. Deixe de coisa e mostre que ser católico é justamente ser sal e luz num mundo tão insosso e sombrio. Quantos não dependem desse serviço que compete ao Corpo Místico do Filho de Deus chamado Igreja Católica Apostólica Romana?
Não queira dar uma resposta pagã ao pagão se és da Santa Igreja de Nosso Senhor, cobrando-lhe atitude cristã sem dar exemplo cristão – isso é mera hipocrisia!
9. Relembre que mesmo os Três Reis Magos somente foram batizados depois da Paixão de Cristo! Respeitar o pagão, aquele que ainda não recebeu o batismo, realmente não significa endossar o paganismo: ir ao terreiro de macumba; tendas de cartomancia; grupos de astrologia. Entretanto, subirá no mesmo ônibus e sentará contigo, mesmo que sem sinais característicos (roupas, objetos, marcas no corpo etc.), uma macumbeira, uma tarotista ou um astrólogo e terás a oportunidade de servir ao Nosso Senhor. Como? Evangelizando! Mostrando-lhe sinais de Deus ou pregando Sua Palavra? Quem quer evangelizar, evangeliza-se primeiro! Aproveita o tempo e medita os salmos, reza um terço, lê um conteúdo edificante de portas abertas, expressa-se cristãmente na utilização de pertences devocionais etc. Todavia, olha quem está do lado e trata de ouvir, conversar, oferecendo uma palavra amigável se possível, sugerindo condutas de sabedoria diante da aridez no trato diário, sendo cristão. Tornar-se exemplo não significa apontar a falta do outro. Mostrar-se de maneira exemplar consiste na realização das coisas que são próprias da fé. Para isso o fiel deve orar, frequentar a Santa Missa, empenhar-se no cristianismo, para leve, pacificamente, ser sal e luz, sendo recomendável a leitura da postagem Bispo Sobre o Sal que Não Salga. Como é que o povo, inserido numa cultura globalizada e neopagã, encontrará a possibilidade de vislumbrar uma maneira de perceber a própria passagem neste plano se os membros da Nova Aliança se ocultam ou se mostram apenas aos pares? Maçonaria? Não queira dar uma resposta pagã ao pagão se és da Santa Igreja de Nosso Senhor, cobrando-lhe atitude cristã sem dar exemplo cristão – isso é mera hipocrisia!
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Os Três Reis Magos: Pagãos, Cristãos. Enquirídio. Maceió, 02 jun. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/06/os-tres-reis-magos-pagaos-cristaos.html.

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