31.10.21

Misturar-se com Fé

Quem nunca pensou ser teimoso por ser católico? Porém, essa “teimosia” significa apenas estar em conformidade com aquilo que determina a Santa Igreja que, diante do mundo, não adota aquilo que qualquer homem pode ditar, mas tão somente aquilo que foi confiado aos apóstolos por Nosso Senhor.
Ruínas com Cena do Apóstolo Paulo Pregando
Giovanni Paolo Pannini. Ruínas com Cena do Apóstolo Paulo Pregando.
1. Entretanto, tornou-se comum católicos exortarem o puritanismo, como se outras pessoas não fossem humanas, passíveis de convivência com nossa gente. Pensamento que extrapola nas mídias sociais, sobretudo o Instagram, obrigando padres e bispos no país todo a desmentirem a falsa doutrina da segregação espalhada.

2. Incansavelmente, Dom Henrique Soares, homem santo, falava a respeito da necessidade do diálogo. Única coisa que alertava sobre a possibilidade de se evitar essa abertura para conversar, “veja”, relacionava-se apenas aos que pedem que possa ser negado Jesus Cristo em proveito da linguagem, do acordo, da aproximação. Neste ponto, dizia o bispo: “ao inferno”. Ora! Como alguém quer dialogar condicionando, limitando, impondo regras, sobretudo a negação de Deus, como se ofensa fosse?

3. Quem deseja dialogar, quem realmente quer conversar, aceita conhecer o outro verdadeiramente. Concordar é outra questão, mas não tem qualquer possibilidade de haver uma humanidade sem tempero ou iluminação, motivo pelo qual Jesus Cristo falava no sal e luz na Terra. Queria Ele salgar ou ofuscar o mundo?
Por que nós temos que dialogar com protestantes, mesmo eles nos ignorando ou dizendo que adoramos imagens?
4. Muito triste quando perguntam, por exemplo, “por que nós temos que dialogar com protestantes, mesmo eles nos ignorando ou dizendo que adoramos imagens?”. Em primeira análise, parece lógico se afastar dessas pessoas, mas não tem tal pensamento qualquer validade perante a Santa Igreja, muito menos conforme o Evangelho. Acontece que manter o diálogo é a maneira mais fácil e cristã de evitar o conflito. Entenda que mesmo diante dos manuais de estratégia, romper o diálogo significa entrar em guerra. Assim sendo, temos que manter o diálogo sempre aberto, mesmo quando nossos irmãos não querem nos ouvir ou levantam falsos testemunhos a respeito de “adoração de imagens” que somente existe na visão dos falsos profetas, sendo certamente motivo de muita oração por eles.

5. Essa maneira nada católica de se comportar no mundo, buscando a segregação, enaltecendo o puritanismo, adorando falsas glórias, infelizmente tem repercutido demasiadamente nas mídias sociais, conforme dito anteriormente, através de perfis devocionais no Instagram. Verdade que até têm intenções cristãs, preocupações a respeito do desdobramento religioso no mundo, inclusive, buscando defender o Papa Francisco das alegações realizadas por grupos católicos reacionários ou mesmo membros de sociedades discretas que sequer conseguem ouvir o nome da Santa Igreja. Contudo, precisam observar o todo e adotar a teimosia que foi por dois mil anos condutora da Igreja Católica, ou seja, necessitam firmar a identidade que creem para poderem permitir o diálogo.

6. Adiante, mesmo um Sumo Pontífice conseguiria dialogar com academicistas inveterados na tentativa de estabelecer um mundo melhor. Algumas pessoas se chocam quando o Papa Francisco, para não dizer Papa Bento XVI (quando não era emérito), visita países comunistas, como Cuba. Quer dizer que ali não têm católicos que precisam de acolhimento? Afinal, Jesus Cristo falava muito daquele pastor que buscava por uma única ovelha apartada. Para onde foi aquela ovelha? Será que foi parar em Cuba? Quem sabe foram duas ou talvez um pequeno grupo. Certamente procriaram se conseguiram um lugar para ficar. Então, deveria deixá-las sozinhas, permitir que encontrem outro caminho? Se eu as esquecer, sabendo que Nosso Senhor é o Caminho, condenarei todas e a mim.

7. Essa é a teimosia do católico. Cada prática teimosa se torna algo diferente a depender do contexto: coragem; esperança; caridade etc. Portanto, alguém teimoso na fé se mistura, transporta o Evangelho e o pronuncia sem hesitar. Quantos mártires não fizeram justamente isso, mesmo sabendo iriam morrer?

8. Outra coisa que também precisa ficar absolutamente clara: quem converte quem? Certamente um santo teria essa capacidade, pensam, mas não. Santos não convertem; apenas orientam – e o fazem melhor que alguém não canonizado. Apenas Nosso Senhor converte através da experiência pessoal. Imaginar que homilias, palestras ou conversas podem converter é esquecer que receber Jesus Cristo é próprio da fé ou da razão, porém, fundada Nele mesmo e consoante a Igreja Católica.

9. Misturar-se faz parte do catolicismo. Vira monge quem assim desejar! Isolar-se, mesmo para monges católicos, pouco resultaria, sabendo que Jesus Cristo queria o Evangelho acessível a todos. Misturar-se, porém, com teimosia! Teimosia na Bíblia, no Catecismo da Igreja Católica, naquilo que diz o papa, nas obras dos santos, nos exemplos dos irmãos e, acima de tudo, em Nosso Senhor. Ou seja, permitir o diálogo, mas não sem antes fazer a afirmação da identidade católica.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Misturar-se com Fé. Enquirídio. Maceió, 31 out. 2021. Disponível em https://www.enquiridio.org/2021/10/misturar-se-com-fe.html.

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