Jean-Baptiste Debret. Aclamação de Dom Pedro I. |
2. Daquele montante geral de votos válidos, 3 milhões deixaram de computar a escolha do chefe do Poder Executivo no segundo turno em 2018, aumentando o número de brasileiros que se abstiveram, votaram em branco ou anularam suas votações. Assim sendo, de um total de aproximadamente 148 milhões de eleitoras, apenas 2/3 escolheram o presidente. Apesar da população brasileira possuir, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE, pouco mais de 213 milhões de habitantes, aptos ao exercício do sufrágio constam apenas 3/4 deste número, mas com poder de escolha, realmente, desce para 2/4. Noutros termos, apenas metade do povo estava votando naquele ano eleitoral, revelando uma situação alarmante e dando margem para algumas interpretações.
3. Ao menos 1/3 do eleitorado brasileiro em 2018 não acreditava nos candidatos que conseguiram chegar ao “duelo” no segundo turno, optando em maioria pela abstenção, seguida da anulação e votação em branco. Parece que boa parcela da população brasileira sabia ou pensava que nenhum dos opositores serviria como opção ao Poder Executivo do país. Conforme projeção populacional do IBGE, naquela época os eleitores se concentravam em jovens, homens e mulheres, entre 20 e 34 anos de idade, ou seja, maioria era composta por universitários, recém-formados ou em início de carreira. Para 2022, segundo dados do IBGE, este mesmo público, agora com idades entre 25 e 39 anos, representará a maioria que exercerá o sufrágio, porém, possuindo outras características, sobretudo em termos laborais e familiares, donde as preocupações recaem na empregabilidade e reprodução, modificando o paradigma das preferências dos brasileiros.
4. Portanto, no Brasil os eleitores são muito novos, pouco consolidados em termos laborais e familiares. Talvez as preferências atualmente nem sejam assim, mas uma necessidade de sobrevivência ou manutenção do mínimo indispensável, refletidas necessariamente no poder aquisitivo (dinheiro).
5. Apesar do baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH em 2019, donde o Brasil, dentro da escala global, ocupa a 84ª posição (embora esteja decaindo), superando apenas a China, continua tendo um Produto Interno Bruto – PIB elevado, consoante listagem realizada em 2020 pela Organização das Nações Unidas – ONU, posicionando-se em 7º lugar, abaixo apenas de países como França (26º no IDH de 2019), Alemanha (6º no IDH em 2019) e Estados Unidos (17º no IDH em 2019).
Carros de luxo e carroças de lixo disputam as pistas nos congestionamentos das capitais.6. Em linhas gerais, significa que apesar do Brasil produzir bastante, pouquíssimas pessoas aproveitam os benefícios de figurarem como sétimos entre os maiores produtores do mundo, sendo possível concluir sem muita ou quase nenhuma matemática que investimos na desigualdade dos nossos compatriotas. Contraste nítido entre aqueles que têm, mesmo que pouco, daqueles que quase ou nada possuem. Carros de luxo e carroças de lixo disputam as pistas nos congestionamentos das capitais. Todos trabalhando? Evidentemente que não. Alguns trabalham, mas uma parcela só consegue, ainda assim precariamente, sobreviver. Já os brasileiros que conseguem um salário-mínimo, sobrevivem, mas não passam nem perto dos benefícios de terem um PIB em ótimas colocações em comparação com países do mundo inteiro – e a maioria das famílias do país sobrevivem com pouco mais de mil reais. Parte significativa desse montante é consumido automaticamente na alimentação primária, formada por produtos para consumo, uma vez que uma cesta básica, contendo itens indispensáveis, custa até 3/4 do salário-mínimo a depender do tamanho da família – onde a conclusão apresentada no ponto quatro deste artigo recai na equação que somam questões laborais com familiares num resultado que envolve necessariamente o poder aquisitivo. Ou seja, constituir e manter uma família depende do valor de trabalho refletido no salário recebido.
7. Longe de desenvolver qualquer tese sociológica ou econômica, os apontamentos em termos de PIB e IDH apenas mostram que enquanto os brasileiros não tiverem acesso aos recursos financeiros, apenas andarão em círculo, demandando sempre do Estado um assistencialismo perpétuo para suprirem aquilo que não conseguem por engessamento das oportunidades de trabalho, associadas em grande parte aos monopólios oligárquicos ou multinacionais que dominam o mercado interno, aliado ainda ao pouco investimento em negócios locais, mesmo que apenas desonerando a carga tributária. Mesmo quando o governo resolveu proporcionar maior adesão às faculdades, pouco do paradigma foi alterado em termos de IDH, quando em 2000 avançava para 0,726, estagnando em 0,765 em 2019. Somente no período de 1991 e 2000 houve um avanço visivelmente considerável, quando o IDH do Brasil saiu de 0,613 para 0,726. Portanto, no início da década de 90 os recursos pareciam ser pouco mais acessíveis ao povo em pelo menos 10 anos, quando na entrada do século XXI o país desacelerou esse crescimento, deixando-o quase estacionado a partir de 2014. Porém, conforme o IBGE, nesta época de estacionamento de IDH, iniciada no segundo trimestre de 2014 e terminada somente no final de 2016, houve uma resseção e a retomada desse avanço foi praticamente interrompida por questões eleitorais, quando o governo caiu novamente, através de um processo de impedimento da presidente, oscilando o PIB a partir disso e travando o IDH até regredir em 2019. Assim sendo, política e economia andam em paralelo, mesmo que não queiram.
8. Nas eleições presidenciais de 2014, dentro do segundo turno, pouco mais de 105 milhões de votos válidos elegeram para o segundo mandato a presidente, impedida dois anos depois, porém, cerca de 37 milhões de brasileiros se abstiveram, votaram em branco ou anularam suas votações. Significa que aquele eleitorado desistente de exercer o sufrágio tem aumentado, restando claro que apenas 2/3 do eleitorado do Brasil realmente participa da escolha do chefe do Poder Executivo do país. Naquela época de 2014, os jovens também figuravam como maioria dos eleitores. Disto, percebe-se claramente que quando se fala em política, fala-se primeiramente de jovens, abrangendo idades entre 20 e 40 anos em números arredondados, mesmo assim, apenas 2/3, significando que, para eleger um presidente no Brasil, basta convencer metade dessas pessoas, ou seja, cerca de 55 milhões de brasileiros, uma vez que um pouco menos da metade votará no oponente vencido – lembrando que 1/3 historicamente do povo já não tem intensão de votar. Assim sendo, caso seja candidato(a) a presidente, foque em tão somente 1/4 da população do Brasil.
9. Como as eleições modernas estão sendo decididas por influenciadores digitais em mídias sociais, basta que Neymar Júnior, que tem 161 milhões de seguidores no Instagram (embora não seja possível determinar quantos brasileiros existem no montante, uma vez que ele tem fãs por todo o mundo), indique seu candidato de preferência. Porém, como a mídia social mais utilizada no Brasil é o YouTube, abaixo apenas do Facebook, certamente os influenciadores de peso serão, para 2022, Winderson Nunes e Felipe Neto, ambos com aproximadamente 43 milhões de inscritos cada em seus respectivos canais. Significa que sozinhos estas pessoas irão persuadir o eleitorado brasileiro? Evidentemente que não, mas torna claro que ninguém vencerá uma eleição sem montar estratégias com tais influenciadores digitais, motivo pelo qual é interessante ao lobby manter a supremacia do eleitorado do país entre jovens de 20 40 anos de idade, que igualmente ao mercado de consumo, formam a camada populacional mais segmentável e influenciável que existe – e economia e política, novamente, continuam juntas. Nestes últimos tempos, bastou aos políticos e empresas do lobby criarem duas falsas vertentes no país para dominarem a política e o comércio, tornando o processo eleitoral em um cabo-de-guerra entre time “A” (metade de 2/3) e “B” (outra parte de 2/3), embora existam ainda os times “C” (1/3 dos que não querem votar) e “D” (dos que não podem votar). Ou seja, apenas duas grandes narrativas (campanhas políticas e marketing) são necessárias nas eleições: uma que agrade os interesses de “A” e outra que agrade os interesses de “B”. Narrativas sempre antagônicas e que mobiliza a máquina estatal a excessos de processos e procedimentos que buscam amenizar ou acabar com boatos para evidenciar os fatos, embora estejam sempre contra o tempo das informações, que se espalham muito mais rapidamente do que as investigações ou os julgamentos. Portanto, este afunilamento do público eleitoral brasileiro é uma das táticas que corroboram com uma estratégia muito maior que somente serve a poucos senhores, uma vez que, eleições após eleições, sempre um núcleo forte se consolida no poder, enquanto o resto da população deixa amplamente de ser atendida por aquilo que acreditam estar votando. Não existe solução fácil para isso, mas deixar de conhecer essas informações apenas perpetuará o mesmo cenário político degradante que se instalou no Brasil. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Curral Eleitoral: Política e Mercado. Enquirídio. Maceió, 18 nov. 2021. Disponível em https://www.enquiridio.org/2021/11/curral-eleitoral-politica-e-mercado.html.
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