Utilização Zairense do Rito Romano

Na postagem Missa Afro e o Centro Dom Bosco, publicada no formato de podcast, algumas ponderações foram oferecidas sobre as celebrações realizadas pelo Padre Wanderson Guedes em homenagem ao Dia da Consciência Negra, demandando, conforme feito agora, complementações argumentativas.

Jacobus Hendrik Pierneef. Uma tarde de verão, Bushveld.

1. Acontece que não foi apreciado até ali nenhum documento relacionado a utilização zairense do Rito Romano, exceto uma mensagem do Papa Francisco, publicada na página do Vaticano, acerca da missa realizada em 1º de janeiro de 2019 adequada àquilo que foi por ele expressada como Rito Congolês, assim sendo a denominação vigente.

• Notitiae 264 (Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos).

2. Aquele que puder se esforçar para realizar uma leitura em francês, todas as informações sobre o Rito Congolês estão contidas neste documento, cabendo a partir disto, incluindo os exemplos das próprias liturgias em concordância com tal missal, observar sua aplicação, talvez servindo de modelo próprio, genuinamente africana, tanto em condições regionais (culturais), quanto em adequações às limitações (materiais), missa celebrada por Padre Jean-Claude Bafutanga na cidade de Isiro, capital da província de Haut-Uele, localizada na República Democrática do Congo.

• Registro de Missa Celebrada no Congo (Jean-Claude Bafutanga).

3. Existe lamentavelmente nas pessoas que insistem nas ideologias reacionárias uma postura insensível aos fatores socioculturais, quando, mesmo que grandes esforços fossem despendidos por certos povos, jamais conseguiriam obter um nível de excelência em pouco tempo aos moldes de outros lugares. Significa dizer que missas celebradas em capelinhas de taipa jamais poderão ser comparadas àquelas que são realizadas em catedrais de arquitetura barroca, embora a liturgia seja igual em ambas. Assim sendo, deixar de reconhecer o empenho daqueles que não dispõe de objetos litúrgicos em metais nobres, mas tão somente em latão ou barro, seria negar a própria autoridade do Evangelho ou da Santa Igreja instituída por Nosso Senhor ao preconizar o desapego material, lembrando as bem-aventuranças do Sermão da Montanha, incluindo as ponderações de Santo Agostinho.

4. Infelizmente, rumo ao pior para a Santa Igreja, continuam os padres que sustentam a teologia da libertação com inclinações marxistas, donde até mesmo a leitura do Evangelho é realizada segundo a ideologia que exorta a revolta de classes e ditadura do proletariado. Mesmo o São João Paulo II enquanto pontífice estava convencido da necessidade e utilidade da oportuna teologia da libertação, porém, condicionada as dimensões soteriológica e ético-sociológica nesta respectiva e permanente ordem.

• Carta do Papa João Paulo II aos Bispos da CNBB (Vaticano).

5. Naquele pontificado de São João Paulo II, escreveu o então Cardeal Joseph Ratzinger duas instruções sobre a teologia da libertação baseada no marxismo quando era Prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, deixando nítido aquilo que insistem deturpar, conforme visto, padres e bispos no Brasil.

• Instrução Sobre Alguns Aspectos da "Teologia da Libertação" (Vaticano).

• Libertatis Conscientia (Vaticano).

6. Mesmo Papa Francisco, mantendo sua maneira de discordar, embora concordando em dialogar, mesmo com marxistas, deixa claro a missão da Santa Igreja: pregar o Evangelho, mesmo aos que não acreditam. Verdade que Papa Francisco desagrada os reacionários, embora apenas por não conhecerem, talvez, sustentações realizadas por ele sobre as teses de São João Paulo II. Apenas para materializar a informação, bastaria uma leitura breve do prefácio escrito pelo Papa Francisco no livro Liberar a Liberdade de Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, quando na ocasião não mediu esforços no intuito de afirmar seu antecessor na Cátedra de São Pedro.

• Liberar a Liberdade: Fé e Política no Terceiro Milênio (Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI).

7. Verdade seja dita: esperar que algum pontífice dê exemplo de intolerância que contrarie a Santa Igreja é querer reviver um passado medieval, donde alguns Papas foram simplesmente deploráveis. Assim sendo, valeria retornar à celebração realizada por Padre Wanderson Guedes em 20 de novembro de 2021 no intuito de reavaliar a liturgia. Lógico que ele tem uma homilia alinhada à teologia da libertação, algumas vezes isentas de interpretações marxistas do Evangelho. Porém, quando explica o catolicismo baseado em serviço e amor, aproxima-se em parte do Sermão da Montanha, evidentemente que imperfeitamente, uma vez que aniquila as dimensões soteriológica e ético-sociológica ao colocar esta antes daquela, igualmente aquilo que São João Paulo II colocou como subversão e desnaturação da verdadeira libertação de Jesus Cristo!

• Registro de Missa Celebrada na Glória (Igreja Sagrado Coração de Jesus).

8. Tirando a subversão e desnaturação que poderá ser constatada na homilia do Padre Wanderson Guedes, parece que desta vez ele celebrou a missa em homenagem ao Dia da Consciência Negra com semelhança aproximada do Rito Congolês, embora o Centro Dom Bosco continue denunciando o sacerdote por gostar de sambar, tirar fotos e malhar em academia. Neste ponto, embora não condiga com comparação, mesmo Padre Paulo Ricardo, quem está contribuindo imensamente ao catolicismo brasileiro, além de praticar o estilo Shotokan de Karatê-Do, posou segurando uma espingarda (talvez de ar-comprimido) ao lado de Olavo de Carvalho, fundador de confraria esotérica islâmica, responsável por desferir ataques ao Papa Francisco. Tomara que não queira o Centro Dom Bosco policiar o catolicismo no Brasil de maneira ilegítima, perseguindo opositores políticos, porém católicos, promovendo uma suposta defesa do puritanismo religioso. Isto colocaria esta associação em descrédito e distante do cumprimento do Evangelho.

9. Ponderações que precisavam acontecer por motivo de fatos novos, sobretudo diante de documentos e argumentos que desfavorecem, tanto de um lado, quanto do outro, aquilo que nossa gente entende pela fé católica, sendo um problema a reaproximação da comunidade cristã na Terra, iniciando-se pela dificílima construção do diálogo. Para todo efeito, resta saber que Padre Wanderson Guedes não celebra com frequência a mencionada missa, reservando-a somente ao Dia de Consciência Negra, motivo pelo qual, procedendo dentro do Rito Congolês, tendo em vista mesma prática na Basílica de São Pedro em Roma, pouco ou nada pode apontar o Centro Dom Bosco, assim como jamais devesse qualquer católico sem que houvesse realmente um motivo grave como profanação, prevista tanto no Código Penal Brasileiro, quanto no Código de Direito Canônico. Nossa gente precisa ter humildade para escutar, verdade, mas não poderá jamais abandonar a coragem para falar, tanto ao laicato em associação o reconhecimento de esforços litúrgicos em benefício de comunidade católica, quanto ao sacerdócio para cumprir rigorosamente suas prerrogativas na Santa Igreja, devendo tratar os fiéis de maneira indistinta, sem que provoque desnaturações ou subversões na fé.

    Para referenciar esta postagem:

ROCHA, Pedro. Utilização Zairense do Rito Romano. Enquirídio. Maceió, 17 jan. 2021. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/01/utilizacao-zairense-do-rito-romano.html.