7.5.24

Uma Heresia Persistente

Às vezes as raízes de um arbusto qualquer são tão profundas que parecem pertencer à alguma árvore muito maior — é o caso de tudo aquilo que pode ser chamado de anticristão, conformemente o martinismo, erigido no século XVIII sob uma fundação herética já revelada neste blog.
Gabriel Atencio. Lois-Claude de Saint-Martin.
1. Martinismo é a tradição derivada da Ordem dos Elus Cohens, que por sua vez foi fundada por Martinez de Pasqually (1727-1779) no âmbito da franco-maçonaria em meados do século XVIII, que tem por obra base o “Tratado da Reintegração dos Seres” de caráter teúrgico e teosófico.

2. Teosofia, consoante a apresentação daquele tratado, observado como sendo um “midrash” ou investigação (talmúdica, rabínica e cabalística), origina-se no oriente, de início judaica e depois cristã, donde surge a conjunção “judaico-cristã” na percepção dos teurgistas e teosofistas da tradição martinista.

3. Diante do “Tratado da Reintegração dos Seres”, perceber-se-á a relação entre o então “judaico-cristão”, nestes termos sempre na perspectiva teúrgica e teosófica, e o ebionismo, onde este contém àquele em termos de causa e efeito. Agora, resta saber o que faz o ebionita e onde se situa no tempo e espaço.

4. Em Adventistas: Modernos Ebionitas é possível entender a necessidade da conjunção “judaico-cristã” no intuito de preservar a heresia da irreligião denunciada por Eusébio de Cesareia (265-339) em “História Eclesiástica”, que não via divindade em Jesus Cristo, tampouco aceitava a Santa Igreja, muito menos o Novo Testamento.

5. Isto pelo ebionismo, registrado em “Contra as Heresias” por São Irineu de Lion (130-202), ser não mais do que um judaísmo com sabe-se-lá-o-quê de cristão, mas que não difere muito do martinismo, donde o “Tratado da Reintegração dos Seres” é texto de fundação nessa tradição, como vista, derivada da Ordem dos Elus Cohens.

6. Quase cem anos após surgir a Ordem dos Elus Cohens, Gérard Encausse (1865-1916), conhecido pelo pseudônimo Papus, funda a Ordem Martinista, que não significa adesão ao “Tratado da Reintegração dos Seres”, mas tão somente a apropriação imagética de um legado que não lhe pertencia — e qual a importância disso tudo?

7. Se os martinistas são percebidos para além de Lois-Claude de Saint-Martin (1743-1803), membro da Ordem dos Elus Cohens e discípulo de Pasqually, perde-se de vista a prova cabal da perpetuação do ebionismo na modernidade pelas ideias maçônicas e iluministas, amplamente direcionadas ao empreendimento anticristão.

8. Neste ponto, enquanto “midrash” ou investigação, é o “Tratado da Reintegração dos Seres” uma das referências que interliga o laicismo moderno à irreligião do passado, especialmente pelo incontestável fluxo de ideias semelhantes que trespassaram o tempo e espaço no afastamento de tantos povos da Igreja Católica.

9. Portanto, aprofundar-se na historicidade de um determinado quesito é deveras forçoso, porém, estritamente indispensável, cuja pena na inobservância disto é a perda da verdade histórica (ou realização da subversão), donde o que é visto como causa aparente ao certo é decorrência concreta.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Uma Heresia Persistente. Enquirídio. Maceió, 01 mai. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/05/uma-heresia-persistente.html.

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