24.9.23

O Papa, o Filósofo e o Erro de Lutero

No início, algumas pessoas ficarão insatisfeitas ao lerem este artigo, mas não continuarão com tal sentimento de insatisfação se desejarem compreender o problema de maneira católica, quando, finalmente, poderão entender o real teor e alerta naquilo que foi percebido e expressado nos próximos parágrafos.
Karl Aspelin. Lutero Queimando a Bula Papal Decet Romanum Pontificem na praça de Wittenberg.
1. Desde o anúncio do pontificado de Papa Francisco, diversos católicos no Brasil se mostraram reticentes com sua autoridade ou legitimidade. Contra sua autoridade, aceitam-no na Cátedra de Pedro, porém, desviam-se de qualquer pronúncia realizada por ele enquanto procuram, noutras fontes, melhores sustentos doutrinais. Já os contrários à legitimidade do Santo Padre, acabam elegendo uma apostasia para lançarem suas convicções contra a Igreja Católica, direta ou indiretamente, através do famigerado sedevacantismo.
2. No Brasil, muitas visões contra o romano pontífice acabam indicando uma única fonte: Olavo de Carvalho, quem trouxe ideias assim: “Creio que Deus permitiu que Bergoglio se tornasse papa para nos mostrar todo o mal que fizemos ao colocar a obediência acima da fé” – isto em 2015, podendo não refletir sua consciência posterior. Apesar da crise na Igreja Católica, Papa Francisco segue firme, afirmando-a diante de um mundo neopagão (dominado por uma mídia ateísta, que lhe imputa absurdos), como assim previu Joseph Ratzinger, embora, enquanto Chefe de Estado, infelizmente causa tremenda confusão ao se relacionar com figuras políticas de orientações anticristãs. Em verdade, algumas declarações acabam decepcionando as pessoas que desejam observar no sucessor de São Pedro um bastião da fé da maneira como imaginam, comparando-o a papas anteriores. Acontece que tais comparações não são sequer válidas, uma vez que não contemplam a incidência do Espírito Santo nas pessoas eleitas por conclave, donde cada qual reflete as necessidades de um tempo, mesmo assim, segundo uma permissão que não deveria ser questionada se há crença na sucessão apostólica – se não há, então não existe motivo algum à conversão ao catolicismo, uma vez que qualquer ideação evangélica, protestante, espírita poderia ser colocada como substituta. Contudo, confundir é a melhor maneira de diluir a cristandade.
3. Permita-se observar os indícios políticos de outros países e a paralaxe cognitiva causada em católicos brasileiros. Enquanto maioria acredita no milagre de Nossa Senhora de Fátima, sobretudo contrário à ditadura soviética e à ascensão do comunismo no mundo inteiro, parcela desses crentes também passam a admirar a conduta de Vladmir Putin, ex-membro do KGB, contra certas ideologias ocidentais, como corre na “identidade de gênero”, defendendo as posturas do presidente russo, apesar deste acreditar na prevalência da fé sobre a Igreja de Cristo, como disse em 2016, durante uma conferência com ativistas: “A ideologia comunista é muito parecida com o cristianismo. São belos ideais: a igualdade, a fraternidade, a felicidade; tudo isso está enraizado no Livro Sagrado. E o código do construtor do comunismo? É sublimação, é simplesmente uma interpretação simplificada da Bíblia”.
4. Ao certo, Vladmir Putin admitiu naquela ocasião uma religião inovada a partir dos ideais do Manifesto Comunista. Não à toa, diante da guerra na Ucrânia, Papa Francisco repudiou a aliança do Patriarca Ortodoxo Kirill, Vladimir Gundyaev, ex-espião do KGB, ao presidente russo, dizendo que aquele não poderia se torar “coroinha” deste.
Ou seja: basta mentir – e o mentiroso por excelência, qualquer católico o identifica de imediato, uma vez que se põe contra Jesus Cristo e Sua Igreja.
5. Mas eis que Vladimir Putin, naquela colocação aos ativistas, deixou um rastro dos ideais, que, com grande grau de miopia, enxerga em comum no Manifesto Comunista e o cristianismo: “igualdade, fraternidade e felicidade” – e é risível a desonestidade empreendida para até nisso subverter o subversor ao melhor estilo do KGB, como muito bem expôs Yuri Bezmenov ao delatar o modus operandi do método soviético de subversão. Os ideais do iluminismo são exatamente os mesmos, quais sejam, “igualdade”, “fraternidade”, porém, como o atual presidente russo não é pró-liberdade, substituiu “liberdade” por “felicidade” – daí ele convenciona a palavra da forma estatal que lhe for melhor e impõe aos russos como sendo algo feliz (pronto, resolvido). Ou seja: basta mentir – e o mentiroso por excelência, qualquer católico o identifica de imediato, uma vez que se põe contra Jesus Cristo e Sua Igreja.
Assim é que a guerra foi movida do campo de batalha à influência ideológica.
6. Na “história paralela” do mundo, aquela que professor do ensino médio jamais contou, uma vez que seu empenho se dá inserido e visando apenas um sistema de aprovação vestibular (não por ele querer, mas por ser imposto – aquela felicidade estatizada do presidente russo, sabe?), desde a origem divina do cristianismo que sua majestade vem sofrendo ataques constantes – e a maneira mais concreta aconteceu na Revolução Francesa (alguns anos antes de 1800), embora, ao invés de princípio de tudo, verdade é que era a própria culminância da investida planejada, especialmente pelos iluministas, responsáveis pela implementação da síntese “liberdade, igualdade, fraternidade”. Nisto feito, todos os Estados do planeta, especialmente os do Novo Mundo (américas), em maior ou menor intensidade, revolucionaram com guerras civis (EUA, Espanha, Brasil, Portugal) ou mesmo processos de independências (com ou sem conflitos), independentemente da ordem de ocorrência, visto que foram posteriores. Contudo, antes disso, precisaram diluir as bases dessas sociedades morais, alicerçadas em Jesus Cristo. Tentaram intimidar a cristandade através dos povos árabes que aderiram ao movimento de fundação do Islã, mas não deu muito certo – Portugal mesmo, que foi subjugada pelos muçulmanos por muitos séculos (sete ou oito ao todo), retornou aos portugueses sob proteção da Igreja Católica, incluindo apoio da coroa inglesa à época. Por fim, entenderam que era muito melhor atacar de dentro para fora. Assim é que a guerra foi movida do campo de batalha à influência ideológica. Não à toa, quando se discute tais problemas, existe uma grande complicação ao posicionar se esse plano de influenciar ideologicamente foi executado com imperfeição ou se teve total êxito. Ao que se vê, parece que foi exitoso sim e que, depois disso, todos os embates se tornaram necessários à erradicação do catolicismo – e a famigerada “reforma” protestante não foi, como se pensa, início, mas seu desfecho, que tem por base a total desobediência ao Magistério e à Cátedra de Pedro em proveito de uma fé umbilical, baseada na própria convicção.

7. Assim protestou Lutero: “Sola fide, sola scriptura, solus Christus, sola gratia, soli Deo gloria” (“somente a fé, somente as escrituras, somente Cristo, somente a graça, glória somente a Deus”). E o Olavo de Carvalho: “Creio que Deus permitiu que Bergoglio se tornasse papa para nos mostrar todo o mal que fizemos ao colocar a obediência acima da fé”. Em ambos há rejeição ao Magistério e à própria Igreja Católica, que tem por seu sinal visível de unidade o romano pontífice, mesmo que aparente não condizer com aquilo que lhe coube, embora uma questão se baseie nas relações diplomáticas, exercidas por ele enquanto chefe de Estado, e a outra sobre o norte da fé, que não tem como evitar a Tradição. Não à toa, tratando-se de diluir os costumes católicos, primeiro alvo para subversão é a liturgia, uma vez que, perdida ela, aos poucos o resto de esvai – e o motivo pelo qual Papa Bento XVI legou numa obra póstuma tal informação.

8. Assim como Papa Francisco (certamente com uma compreensão imperfeita, formada pelos dados passados por representantes ideológicos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que não representa a totalidade episcopal em um país, vale entender isso) formulou opiniões sobre certos políticos de maneira equivocada (feitas sobre Lula e Dilma, conforme destacado no tempo 41:25 do vídeo da sequência, porém, apenas como chefe de Estado), também se equivocou Olavo de Carvalho ao expressar um pensamento desalinhado, que não encontra qualquer amparo no âmbito católico, mas tem fortes traços de heresia luterana. Poderia, daí, condenar o Santo Padre de comunista por ser mal informado pelo clero brasileiro, que lhe deve ter ocultado os interesses daqueles políticos ao fomento do aborto no Brasil? Caberia, desta mesma forma, declarar herética a totalidade da pessoa daquele filósofo por sua formação religiosa incompleta ou contaminada por resquícios do perenialismo, ao qual se imbuiu na busca por uma mística que achou não existir dentro da Igreja Católica?
9. Deixar de saber dessa “história paralela” é a maneira mais eficiente para corroborar a crise na Igreja Católica, que não tem, jamais, deixado de contar a versão oficial no Magistério, apesar de Hollywood e a Reuters falarem mais alto. Ao certo, Olavo de Carvalho, falecido católico, quem sabia os pormenores da subversão soviética, através do legado literário e audiovisual, continua sendo um referencial de propriedade em assuntos sobre geopolítica e filosofia, assim como Papa Francisco, escolhido por conclave (implicando a sucessão apostólica pela incidência do Espírito Santo – e a mística toda da coisa), continua exercendo sua dificílima função de pastor em um mundo já neopagão, gostem ou desgostem (para ambos os casos, cada qual na devida dimensão). Assim é que a nossa gente deve lidar com erros: combatendo-os ao invés de atacar seus cometedores. Já sobre os acertos, deve-se elevá-los, mesmo que advindos de um sujeito errante, mas tão somente se na orientação dos desígnios de Deus, pois todo ateu pode se tornar um grande cristão – e a esperança é a virtude para este caso.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. O Papa, o Filósofo e o Erro de Lutero. Enquirídio. Maceió, 24 set. 2023. Disponível em https://www.enquiridio.org/2023/09/o-papa-o-filosofo-e-o-erro-de-lutero.html.

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