10.9.23

Perenialismo é Hermetismo

Conforme publicado em Studiositas e o Legado Rosa-cruz, retomou-se um problema da “filosofia perene”, pois, agora, requer esboçar poderações sobre o livro “A Educação Segundo a Filosofia Perene”, mas sem pretensão de esgotar o assunto, uma vez que não caberia em um breve artigo.
Matthaus Merian. Opus Medico-Chymicum.
1. Talvez a melhor forma de situar o leitor a respeito do problema atrelado à “filosofia perene” consista em recorrer ao próprio trabalho mencionado, donde nem mesmo uma autoria se constate, embora seja atribuída a Antônio Donato Paulo Rosa. Então, qual é a intenção de “A Educação Segundo a Filosofia Perene” ou da mentalidade que concebeu sua proposta? Embora contenha imensas citações tomistas e evangélicas (no sentido do Evangelho – evitando confusão com protestantismo), incluindo diversas colocações que não necessariamente elevariam a compreensão dos católicos (recomendados à leitura por leigos e sacerdote), que sim, pode tirar algum proveito metafísico, mas não sem duvidar de questões já balizadas pelo Magistério da Igreja Católica, conforme inúmeros documentos emitidos com chancela da Santa Sé, especialmente versadas sobre a educação. Ao leitor do Enquirídio, perceba que toda uma preocupação compreende a forte crise eclesiástica do momento, mas por também entender de quem já obteve de dentro as instruções que culminam no perenialismo rosacruciano, há de se alertar o perigo da propagação de determinadas terminologias em grupos cristãos, pois elas não são apenas palavras, uma vez que carregam uma bagagem anterior, e o símbolo seja mais forte aos pagãos do que em círculos estreitos da cristandade, donde a força do primeiro suplanta a ideia do segundo por anterioridade de convenção, disseminada em literaturas herméticas – que por si só são uma grande ameaça para fé no mundo em distorção por atividades subversivas na procura de estabelecer uma religião universal anticristã.

2. Conforme a introdução geral constante no primeiro capítulo da versão on-line (para facilitar o acesso ao volume), “examinar os princípios básicos segundo a filosofia perene” quer dizer: averiguar os pressupostos e decorrências de um determinado tipo de amor ao conhecimento que sempre esteve presente no tempo e espaço, como posto na afirmação seguinte, quando explica “embora transcenda as circunstâncias históricas em que se desenvolveu”. Desta forma, trata-se de um tipo de emanação de sabedoria que pode ser acessada por católicos, judeus, muçulmanos, budistas, zoroastristas etc. Tudo bem com isso, mas até aqui. Afinal de contas, Aristóteles não era católico, obviamente, mas nem por isso São Tomás de Aquino deixou de utilizar as ferramentas do pensamento aristotélico, sobretudo ao consertar a deturpação islâmica de Averróis, já impregnada na Universidade de Paris em 1268, pela obra “A Unidade do Intelecto, Contra os Averroístas”. Não à toa, Antônio Donato Paulo Rosa tentou balizar tal concepção introdutória ao acrescentar na sequência como sendo “representantes mais conhecidos Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino”, mas que não são, como assim revela: “embora a ela pertençam, de fato, a maioria dos filósofos gregos, patrísticos e medievais [buscando remontar uma catolicidade cronológica verossimilhante], além de uma multidão de outros pensadores posteriores e mesmo contemporâneos” – e a colocação final é a única certa, como será explicado nos outros pontos deste artigo.
3. Jamais os nomes citados representaram a “filosofia perene”, que por definição, também não passaria de convenção semiótica, ou seja, conceito formulado na adesão de alguma suposta aristocracia intelectual em um determinado momento, bastando ir ao tempo do surgimento dela para conhecer seus reais patronos – seria nada surpreendente identificar sua proliferação a partir da época do renascimento. Bingo! E o Padre Paulo Ricardo no programa “Studiositas” identificou o que é denominado por hermetismo através de filósofos como René Descartes e Isaac Newton, ambos rosa-cruzes. Então, como as mesmas pessoas, naquele mesmo período, poderiam disseminar conceitos diferentes, sabendo que são idênticos em essência ou mesmo na própria estética, consoante o recebimento por transmissão na mesma ordem iniciática que pertenceram com grandes honras e homenagens? Tratar-se-ia de um aproveitamento inconsciente ou intelectualmente inercial (senso comum) no intuito de corroborar uma estrutura mística apartada do Magistério e Tradição da Igreja Católica. Ao certo, Aldous Huxley, introduzindo seu extenso trabalho sobre o tema, explica que tal expressão foi cunhada por Gottfried Wilhelm Leibniz – e o assunto será continuado, mas que, neste ponto, lembrando do foco no trabalho do Antônio Donato Paulo Rosa, hermeticamente se encontram questionamentos já percorridos por tradições diferentes, desde as maçônicas até academicistas, como é o caso dos macro e micro cosmos, temas do saber em vários títulos da literatura hermética, como é o Caibalion, conforme o axioma “o que está acima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima”. Mas não apenas dentro de ordens iniciáticas é possível perceber a influência da sabedoria advinda de Hermes Trismegisto, pois, como será visto, seria preciso marcar influência nas crenças (religiosas, simbólicas, excêntricas etc.) e ciências (matemática, astronomia, biologia etc.), donde uma amostra se dá em Carl Sagan, judeu por etnia, que não possuía qualquer interesse no transcendental, aparentemente, mas que não conseguiu descansar sem revelar seu agnosticismo em sentenças como “nós somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo”, substituindo a compreensão abraâmica de divindade, evidentemente, por uma palavrinha mais universalista, qual seja, “Cosmos” (com uma capitular de nome próprio), mas que não comtempla em absoluto um Deus onisciente, uma vez que Ele conhece cada pessoa que existiu, existe e existirá. Assim sendo, observa-se um perenialismo filosófico que constantemente afasta das ideias uma mística salvífica, dada pela morte e ressurreição de Nosso Senhor, embora permita uma concepção mais pluralista, onde Jesus Cristo seja menos divino e mais humano – e o que é preciso diante da crise se dá no divino, no litúrgico, no sagrado!
Como um termo baseado em alquimia e ocultismo nunca poderia ter permeado os âmbitos acadêmicos e religiosos de uma vez só, melhor foi chamá-lo de outra coisa, surgindo o perenialismo filosófico [...].
4. Fechando essa Gestalt, Descartes (1596-1650) e Newton (1643-1727) contribuíram para influenciar o pensamento renascentista com uma ciência que possui seu paralelo baseado em conhecimentos e experiências herméticas, provenientes de instruções ancestrais que remontam o antigo Egito, transmitidas através duma ordem iniciática da herança rosa-cruz, donde Leibniz (1646-1716) também era membro – eureca? Não! Pelas datas de nascimento e falecimento, somente Newton e Leibniz poderiam ser contemporâneos. Como um termo baseado em alquimia e ocultismo nunca poderia ter permeado os âmbitos acadêmicos e religiosos de uma vez só, melhor foi chamá-lo de outra coisa, surgindo o perenialismo filosófico, ou seja, exatamente esta concepção de sabedoria transcendental que independe de qualquer doutrina, sobretudo se for da Igreja Católica. Afinal de contas, voltando ao programa “Studiositas”, Padre Paulo Ricardo talvez esteja percebendo que existe uma tradição paralela, antecedente à maçonaria, que fez com que homens educados por jesuítas, como é o caso de Descartes, adotassem uma maneira de pensar liberta da “tirania romana” ao ponto de compatibilizarem Jesus Cristo até mesmo com Maomé. Curioso foi perceber que Antônio Donato Paulo Rosa é membro fundador de organização para disseminação da cultura catalã no Brasil, donde a figura de importância para eles repousa no beato Ramon Llull, filósofo que combateu na época de São Tomás de Aquino o próprio Alcorão. E a compreensão do problema islâmico está na obra “A Unidade do Intelecto, Contra os Averroístas”, como foi posto no artigo Perenialismo Esotérico: Porta para o Islã? Assim é que “A Educação Segundo a Filosofia Perene”, sem que pudesse entender a profundidade da ideologia ocultada no conceito de contemplação como abstração das entrelinhas, legitima uma maneira de perceber a cristandade no tempo e espaço, porém, contrária à inversão que mesmo Aldous Huxley identificou naquilo que expressa por “cristianismo tradicional” ao tornar os esforços contemplativos não um fim, mas uma maneira intermediária para ação – gerando uma possibilidade de subversão que não precisaria ir muito longe para notar suas manifestações contemporâneas, pois está explícita no catarismo moderno.
Qualquer concepção filosófica no catolicismo deve ser tida por ferramenta; jamais um fim em si mesma, donde o divino se tornaria produto desta pelos limites do que se chamaria de iluminação.
5. Neste último ponto, talvez tenha ficado um tanto difícil de compreender a informação pretendida, mas vai ser facilitada na sequência, pois está escrito naquela introdução referida que São Tomás de Aquino será usado como único representante da “filosofia perene” divulgada, porém, fazendo gravitar no entorno deste os textos de outros autores antigos e modernos para satisfazer uma necessidade explicativa, mas que, “entretanto, o que se deseja com isto é atingir os próprios princípios da educação segundo um modo de pensar que transcende espaço, tempo e autores” – e a pessoa tentou constantemente mostrar que não vai fazer outra coisa além daquilo que fizeram os alquimistas de outra época: transmutar! Esse tipo de pensamento sequer René Descartes no “Discurso do Método” teve condições de alcançar ao entender seu limite e a maneira de se manifestar a inteligência, advinda tão somente da única coisa eterna que existiu, existe e existirá, donde a sabedoria última ao católico faz parte de um todo em forma trinitária – e a ocorrência para isso se dá em Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo (quem pode infundir no homem, dentro dos limites humanos, parcela do saber divino). Adiante, demonstrando a abertura conceitual que permitiria ser mal explorada, poderia muito bem ter citado Paulo Freire e a “Pedagogia do Oprimido”. Afinal de contas, valendo-se de um conceito minimizado das Quaestiones Disputatae de Magisto, corroboraria facilmente ao ensino participativo do aluno no processo de educação libertadora, pois, como dito na obra, jamais o professor poderia ser causa principal do conhecimento, mas uma que fosse do aluno, auxiliando-o à ciência ao invés de infundi-la nele. Acontece que tal raciocínio é conclusão de entrelinhas, pois logo mostra uma citação tomista dizendo: “Assim como o médico é dito causar a saúde no enfermo através das operações da natureza, assim também mestre é dito causar a ciência no discípulo através da operação da razão natural do discípulo, e isto é ensinar”. Nenhum professor consegue transmitir um conhecimento sem que deseje receber, através do esforço cognitivo, experimental, analógico etc. quem figura como estudante. E o problema, onde está? Apenas que Magistério passou batido, uma vez que “A Santa Igreja, nossa Mãe, atesta e ensina que Deus, princípio e fim de todas a coisas, pode ser conhecido, com certeza, pela luz natural da razão humana, a partir das coisas criadas.” (CIC 36). Se Deus é o “princípio e fim de todas as coisas”, também o É da própria educação, donde uma “filosofia perene”, pretensa a abolir o “espaço, tempo e autores”, suplantaria a necessidade do próprio Cristo, Jesus, Senhor Nosso – e a eleição de São Tomás de Aquino como representante ao empreendimento dessa forma de educar é utilitarista e contraditória, pois sequer teve alguma vez tal pretensão. Qualquer concepção filosófica no catolicismo deve ser tida por ferramenta; jamais um fim em si mesma, donde o divino se tornaria produto desta pelos limites do que se chamaria de iluminação – e o desespero do autor em obter a ideia de um “admirável mundo novo”, perfeito, utópico, infelizmente converge ao paradigma anticristão rosacruciano, donde a elevação intelectual concomitante à excelência nas virtudes trariam para terra o próprio Paraíso prometido no Evangelho e repercutido nos Atos dos Apóstolos, Cartas Paulinas etc., embora não esteja explícito no trabalho verificado, mas que deu margem para quem desejou se equivocar nessa interpretação até plausível, uma vez que tudo está nas entrelinhas da contemplação – e o fato é concreto! Cria-se, daí, uma egrégora material, que nem mesmos os iniciados na coisa oculta concordariam. E o pior: detalha um leviatã, mas não nos moldes de Thomas Hobbes, que não engole ninguém; muito pelo contrário: vomita os impuros em um exílio ainda não criado ou imaginado no aglomerado de paradoxos presentes no exaustivo calhamaço ora ponderado – e é desgastante isso tudo, pois visa um além no além, inatingível ao pretenso modelo educacional que demanda eficiência pragmática.

6. Independentemente de Antônio Donato Paulo Rosa, quem pode ser uma vítima do paradoxal perenialismo secularizado, desenvolver uma lógica coesa, interpolando diversos conhecimentos no intuito de obter a “pedra filosofal” da educação, avança mais para corroborar inicialmente uma metafísica necessária à equalização das religiões do que uma que se demonstre verdadeiramente católica, apesar de sempre utilizar fragmentos do monumento tomista – e o perigo é clássico! Se as concepções perenialistas, como se nota, tendem a abarcar qualquer derivação no tempo e espaço, pois seria como verdade primária, bastaria se imbuir dessa razão para legitimar absolutamente qualquer produção meramente humana como verdadeira ao nível maior, incluindo qualquer proveito ao islã, exempli gratia, que não diferiria em essência da soteriologia da Igreja Católica. Verdade seja dita: quem muito gostava do autor oculto de “A Educação Segundo a Filosofia Perene” era Olavo de Carvalho, que por sua vez foi admirado, enquanto professor de filosofia e política, pelo Padre Paulo Ricardo, quem, agora, começa a enxergar rosacrucianismo para todo lado! Se alguém pudesse dizer algo sobre isso, diria: parem com tal doidice! Os calhamaços que deveriam estar cotidianamente sendo lidos, como é o Catecismo, acabam sendo substituídos por uma obra sem autor, editora ou qualquer outra coisa que pudesse lhe conferir atributo minimamente público, sendo, talvez, mais oculta do que as instruções rosa-cruzes de agora ou antes. E a questão olavista era mesmo a suposta ausência da mística no catolicismo ou supressão desta pelos modernistas materialistas, donde uma vez lhe fizera mais sentido o sufismo islâmico e o pensamento perenialista, mas que, depois, foram paulatinamente abandonados no processo de conversão deste professor, apesar de alguns outros tropeços (como todo mundo), donde muito ainda se visava em concepções que confrontavam o Magistério da Igreja Católica, mas não necessariamente como forma de agredir, mas de se ter uma espécie de revolta normal contra as crises provocadas pelo modernismo – só que não se poderia excetuar do contexto apresentado sua influência por mentores intelectuais como Frithjof Schuon e Matin Lings, ambos islamizados e praticantes da notável escola da “filosofia perene”. Lembrando de um fato interessante, determinada produtora de conteúdos no YouTube, chamada Débora G. Barbosa, cujas lições acerca de sociedade secretas e agencias de espionagem eram recomendadas por Olavo de Carvalho (prematuramente, diga-se de passagem), que não aceitava suas inclinações ao islamismo, mas que este não conseguiu perceber que foi justamente sua influência doutrora que a fez enveredar por tal caminho, culminando no descrédito que hoje tem recebido por afirmar que existe uma verdade no “Alcorão” compatível com a “Bíblia Sagrada” (ao certo, de Maomé com Jesus Cristo, como visto). Esta demonstração de autodestruição “esquizotérica” (esquizofrenia por esoterismo) tem por causa inicial a simetria religiosa pelo perenialismo.

7. Simetria é o fenômeno que acontece quando as coisas, quaisquer que possam ser, precisam ser harmonizadas, equilibradas, compatibilizadas no intuito de serem unidas ou paralelizadas, onde uma não altere a outra e possam ser mutuamente correspondentes. Talvez o leitor mais atento do Enquirídio já tenha notado nas pinturas, que são sempre utilizadas como capas para os artigos, motivos que corroborem o assunto. Aqui foi usada uma gravura de 1618, quando o hermetismo ressurgiu juntamente ao rosacrucianismo, que não expressa outra coisa senão “filosofia perene”, elevadíssima, pois qual operação alquímica não observaria o transcendente para transmutar suas substâncias? Logicamente, toda a arte somente é acessível aos inveteradamente interessados na verdade suprema. Assim sendo, qualquer instrução perenialista, por sua natureza ancestral, ignora sem medida qualquer limitação advinda de religião ou religiosidade (existe uma tênue diferença, mas, hoje, afirma-se que uma pessoa católica tenha religião, mas uma protestante, apenas a religiosidade), donde o dogma (catolicismo) ou abstração dogmática (protestantismo) incompatibilizaria a transcendência do poder secular, neste ponto, somente existente na hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana, embora seja misticamente transcendental: Santíssima Trindade, Nossa Senhora, Arcanjo Miguel etc. até chegar na porção terrena, qual seja, Papa Francisco, cardeais, bispos, abades, padres, monges, freiras, diáconos o laicato inteiro, de vida consagrada ou vívidos nos ofícios do mundo. Entretanto, nestas ideias de perenidade hermética (pleonasmo necessário), simetricamente deve haver correspondentes em qualquer lugar da terra, descentralizando o pontificado da universalidade transcendida em figuras como Gautama Budha ou mesmo Abul Al-Qasim Muhammad ibn Abd Allah ibn Abd Al-Muttalib ibn Hashim (sendo esse é o nome completo de Maomé). E o que fez a Débora G. Barbosa ser cativada pelo Islã está motivando o Padre Paulo Ricardo, ao menos até então, revisar os perenialistas na pessoa de René Descarte e Isaac Newton (talvez, quem sabe, inclua Leibniz) no programa “Studiositas” para chegar na trágica conclusão de que os dissidentes do Magistério da Santa Igreja rejubilam-se da infiltração que provoca toda essa crise hodiernamente – e o problema, longe da roupagem comunista ou socialista, que são segmentos por adaptação da coisa toda, está clara, pintada em afresco na denúncia de Dom Vital na Instrução Pastoral de 1975, quando a perfeição vislumbrada em “A Educação Segundo a Filosofia Perene” por Antônio Donato Paulo Rosa na monarquia foi suplantada pela república forjada pela elite maçônica em cumprimento do poder global. Como é que o sujeito pode trazer isto aqui de maneira resumida ou mesmo didática? Impossível, como dito, através de apenas uma publicação.
8. Que há uma “filosofia perene” é afirmação irrefutável. Que ela possua verdades, também é patente. Contudo, se dela os filósofos rosa-cruzes beberam e buscaram se libertar da Igreja Católica, contaminando o mundo inteiro com propostas anticristãs, parece (livrando-se de toda pretensão afirmativa tachável de arrogância) que sua incompatibilidade com uma educação pretendida por católicos é inquestionável. Poder-se-ia parar agora toda abordagem do tema, mas não! Como raios alguém deseja atingir “os próprios princípios da educação segundo um modo de pensar que transcende espaço, tempo e autores”, porém, trazendo ao mesmo tempo São Tomás de Aquino para transcendê-lo? Que não trouxesse! Removendo do extenso trabalho as citações tomistas ou mesmo o Evangelho, assim como textos de outros autores, restaria um moderado manifesto por uma educação que não comtemplaria necessariamente o Magistério da Igreja Católica, mas sim uma espécie de idealismo à pureza do educador que almeja atingir o “Paraíso Perdido” na linha de John Milton (autor que até foi constante do Index Librorum Prohibitorum, porém, abolido desde 1966 por São Paulo VI). E o pior de tudo é que o trabalho quer alcançar o próprio Deus, mas por uma via difícil (coisa que até Lao Tsé, lá na China, 500 a.C. quase, sabia ser impossível e que o homem que pronunciasse saber, pronunciava exatamente sabedoria nenhuma), pois pesa como catequese paralela ao revelar condições à santidade costurando, numa trama única, filosofia, política e teologia sem que prevaleça nem uma vírgula do Catecismo ou qualquer outra instrução proveniente da Sé Apostólica, como de fato se nota em grupos de adesão ao puritanismo santificante, mas que esnobam, alguns apenas, propostas como as de São Josemaria Escrivá, qual seja, de santificar no próprio ofício cotidiano: estudando, trabalhando e ensinando pelo exemplo e caridade aquilo que Nosso Senhor ordenou. O que é surpreendentemente absurdo é legitimar o perenialismo através da Tradição católica, sabendo que ele também é fonte de razão ao povo do ocidente em tratados espirituais como Bhagavadgita, que vai nas mesmas espécies fenomenológicas das causas material, formal, eficiente e final, advindas de Aristóteles, depositadas, identicamente ao processo utilizado por Antônio Donato Paulo Rosa, em figuras do panteão védico, donde adotar o catolicismo ou qualquer movimento Vaishnava daria na mesma coisa segundo uma concepção filosófica que transcendesse o tempo, espaço e autores.

9. Se um dia São Tomás de Aquino se valeu de Aristóteles e este, pela filosofia que pareceu ter sempre existido, determinou diversas verdades nas formas de pensar, significa que pretenderam finalidades idênticas? Este, talvez, buscou uma divindade para além daquelas do próprio tempo e espaço. Aquele, como se sabe, apontava para Jesus Cristo, donde a Suma Teológica, monumental trabalho legado ao mundo inteiro, como se nota, providencialmente tratou das coisas da Igreja Católica imbuído da Tradição, do Magistério e das Sagradas Escrituras, indiscutivelmente inspirado pelo Espírito Santo, mesmo usando as concepções aristotélicas. Se as constatações do filósofo grego podem ser perenes, certamente não haveria objeções em empreender diversos estudos à compreensão. Todavia, buscar em um ou em outro provas da perenidade de um saber transcendental a ambos, como dito, significa tão somente instrumentalizar suas projeções ou conclusões para uma mais definitiva e imutável: um fim em si mesma. Aponte a Nosso Senhor, ao Paraíso prometido por Ele, eleve às alturas Nossa Senhora e evoque os nomes dos arcanjos, mas não use isso tudo para abordar uma “filosofia perene”, pois esta está disseminada mundialmente, exatamente com tal terminologia, por uma maneira muito própria dos iniciados ao hermetismo, donde a grande consequência educacional em um mundo em constante sintetização é a rejeição da Igreja Católica em proveito da religião global, que é uma afastada de Deus. Se as explicações em “A Educação Segundo a Filosofia Perene” pretendessem ser sal e luz, misturava-se; mas não: fomenta buscar pares em saleiros e candeeiros, conforme a primeira parte do texto, apesar de trazer uma piedosa reflexão sobre a parábola do joio e do trigo na segunda porção do escrito (contradição tal como pôde ser observada na história de Olavo de Carvalho, qual seja, inicialmente perenialista, capaz de notar filosoficamente no islamismo e cristianismo uma compatibilidade, embora não depois da conversão, assim como essa obra do “autor oculto” e amigo deste, que o pôs apelido de “São Moita”, que nos primórdios enaltece a perfeição e influencia pessoas, semelhante ao ocorrido com Debora G. Barbosa, buscarem isto tudo para alcançarem uma educação que não vem posteriormente atingirem o paradigma perfeito – e o exemplo do joio e trigo se desfaz ou se mostra desnecessário dentro da “quase seita” propensa a idolatria do perfeccionismo). E o perenialismo, por fim, antes de derivar da religiosidade, é o justo oposto! Nele é que a justificativa cognoscível ao catolicismo, judaísmo, islamismo, hinduísmo, budismo etc. se encontraria, pois é a famigerada transcendentalidade procurada por Antônio Donato Paulo Rosa, como propôs para si ou adeptos na introdução do livro, apesar de sequer ter chegado próximo; apenas arrodeou a metafísica grega e a teologia medieval. Isso seria até bom, uma vez que atesta que sua ideia tem limites na fé em um Salvador, mas que não entendeu o problema em homogeneizar água e óleo: se em constante agitação, certamente o resultado é satisfatório e a diferença das substâncias consegue ser bem disfarçada; se em repouso mínimo, somente uma ótica míope ou inegável cegueira põe como iguais coisas nitidamente diferentes. Se um diz que há um princípio que qualquer um poderia perceber em todas as religiões, isto logo se tornaria a finalidade do empenho e não o encontro da verdade, pois esta será ditada através da adesão ao qual um possa ter por uma crença – e o catolicismo, por uma comodidade, tornar-se-ia instrumento do conforto da mente do sujeito satisfeito em fazer parte de um sistema que ampara sua percepção umbilical (pessoal, como se sabe das práticas protestantes), sendo o motivo pelo qual tantas inclinações cismáticas passaram a coexistir nos últimos tempos em constante corroboração com a crise que desejam diminuir pelo modus operandi paradoxal. E o motivo disso tudo tem causa única, pois se dá no afastamento do Magistério em um processo catequético por promoção estritamente laical, muitas vezes advindas de comunidades e movimentos de cristandade transitória.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Perenialismo é Hermetismo. Enquirídio. Maceió, 10 set. 2023. Disponível em https://www.enquiridio.org/2023/09/perenialismo-e-hermetismo.html.

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