7.4.22

A César o que é de César

Primeiramente, visando entender a condição da postagem, separe o Estado e Igreja Católica (lembrando que também possui sua parcela estatal). Somente depois de entender que ambas as instituições são diferentes, mas que podem ter traços comuns, seria viável pensar no capítulo vinte um do Evangelho segundo São Mateus.
O Experiente Viajante César
Adolphe Yvon. O Experiente Viajante César.
1. Honestamente, aquele que não consegue encontrar plenitude e felicidade nas palavras de Jesus Cristo vai demorar buscando por frases soltas e conteúdos esvaziados. Porém, permita-se seguir na separação proposta, embora Nosso Senhor, através de poucas palavras, tenha resolvido toda questão há milênios.

2. Um Estado existe por conta do exército, constituição e dinheiro. Tome Roma da época do império como exemplo. Cabia aos imperadores a manutenção dos interesses da população ao mesmo tempo que influenciava no intuito de expandir os territórios em busca de riquezas. Trata-se de sobrevivência de independência cultural (apesar das inculturações sofridas pelo expansionismo), donde a estratégia somente serve para obter as melhores táticas para esta finalidade. Dessa forma, esses três fundamentos possuem dupla função, cabendo ao exército proteger as fronteiras e reprimir aqueles que destoassem dos interesses imperiais, representados por uma lei geral (constitucional), donde outras derivações surgiam, porém, sempre tendo aquela por máxima, preservando os limites estatais e garantindo sua inviolabilidade, inclusive regulando as questões mais monetárias através do câmbio, protegendo a economia, embora deficitariamente, quando o resultado disso foi justamente o declínio da sociedade romana daquela época.

3. Mesmíssima situação se aplica ao Brasil, China ou Estados Unidos da América, porém, dependendo sempre de um questionamento central: qual deles é considerado um Estado cristão? Brasil, embora historicamente se eleve ao patamar de Nação através da Igreja Católica, passou por tempos difíceis de negação cultural, vítima das influências externas, donde tentaram subverter a catolicidade do brasileiro através do programa de expansão do protestantismo para diluição da Igreja Católica. Evitando adentrar na política, embora a materialidade do tema seja de grande importância, pois, sem ela, prosseguir no assunto é explorar a subjetividade sem parâmetros.

4. Através do Estado os protestantes conseguiram se consolidar em grandes denominações, dentre elas aquela chamada de “Universal do Reino de Deus”. Resgatar o passado remoto talvez se distancie do ponto chave, qual seja, tratando-se de política, daquilo que pertence ao símbolo cesariano, observe como extremos são unidos por interesses umbilicais. Dilma Rousseff, presidente que sofreu impedimento do mandato em 2016, concedeu muito ates disso passaporte diplomático para Edir Macedo, proprietário daquela organização com características religiosas, através de um gesto claro de incentivo ao protestantismo (além de outras regalias). Lógico que pediu apoio à candidatura presidencial, prontamente atendida pelo autoproclamado “bispo” numa ação única e clara de concordância, contanto que mantivessem equidistância de assuntos polêmicos como declaração religiosa pela presidenciável, mantida em cativeiro eleitoral sobre pautas relativas ao aborto, donde evitando o assunto até parecia ser cristã.

5. Jair Bolsonaro, apoiado por organizações declaradamente católicas e militantemente ativas, ascendeu ao poder ao vencer as eleições presidenciais no Brasil em 2018, porém, desde então busca alianças sólidas com membros da maçonaria e protestantes, inclusive com Edir Macedo, novamente agraciado com aquele famigerado passaporte diplomático, também concedido a demais protestantes como Valdemiro Santigo ou Silas Malafaia, quem disse em 2019: “se os Bispos Católicos são representantes do Estado do Vaticano, quem tem que dar o passaporte diplomático é o Vaticano, não o Brasil. O barulho do visto do [Edir] Macedo é só para atingir Bolsonaro”. Evidentemente que também foi incluída no rol de benefícios ao protestantismo o perdão de dívidas entre outras coisas. Questiona-se se qualquer dos presidentes do país deverão manter essa engenharia de substituição religiosa nas próximas legislaturas ou se podem os eleitores confiar em alguém que realmente possa fazer valer a cultura nacional, irredutivelmente formada pela Igreja Católica.
Honestamente, aquele que não consegue encontrar plenitude e felicidade nas palavras de Jesus Cristo vai demorar buscando por frases soltas e conteúdos esvaziados.
6. Deixe de teimar e entenda: imaginar um Estado totalmente católico é impossível se continuar essa confusão entre cara e coroa. Nosso Senhor não pediu uma nação cristã. Ordenou que nossa gente fosse pelo mundo apresentando seus ensinamentos. Somente aceitando a verdade salvífica em Jesus Cristo é possível a união dos povos, mas até tal unificação, segue-se através da fraternidade, mas sem inocência! Dom Henrique Soares sempre lembrava o Evangelho segundo São Mateus naquilo que Jesus Cristo dizia: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas” (Mt 10, 16). Quem conhece o comportamento destes animais entende perfeitamente bem aquilo que foi colocado aos apóstolos e evidentemente à Igreja Católica. Também desconfiou Nosso Senhor, embora manso e pacífico, quando questionado pelos favoráveis das políticas romanas de Herodes sobre a permissão para recolher o imposto do imperador. Observe como isso aconteceu: “Enviaram seus discípulos com os herodianos, que lhe disseram: ‘Mestre, sabemos que é verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens. Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César?’. Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: ‘Por que me tentais, hipócritas? Mostrei-me a moeda com que se paga o imposto!’. Apresentaram-lhe um denário. Perguntou Jesus: ‘De quem é esta imagem e esta inscrição?’. ‘De César’ – responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: ‘Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’.” (Mt 22, 16-21). Honestamente, aquele que não consegue encontrar plenitude e felicidade nas palavras de Jesus Cristo vai demorar buscando por frases soltas e conteúdos esvaziados – e a repetição daquilo que já foi colocado é redundantemente necessária.

7. Agora se pergunte e realize uma reflexão: se um Estado é a manifestação militar, legislativa e econômica, onde está Deus nisso? Alguém poderia dizer pouco ponderando que está nas pessoas de fé ocupadas da política. Porém, significaria dizer que tais fraquejaram na crença quando permitem ou simplesmente não conseguem vencer os opositores diante de legislações anticristãs aprovadas no Congresso Nacional? Assim é que a separação de Estado e Igreja Católica no Brasil é fundamental, uma vez que tanto expõe a nítida diferença das relações quanto obriga nossa gente a pensar nas possibilidades de permearem os cenários políticos em elevação da catolicidade da sociedade (ao invés de esperarem um falso messias). Atualmente, pense que uma lei sobre aborto pudesse ser aprovada, permitindo o extermínio de embriões ou mesmo bebês já formados no ventre. Embora lamentável do ponto de vista estatal, seguirão os católicos as leis de Deus, podendo, inclusive, serem perseguidos, julgados, presos ao contraporem tal abominação – e o Evangelho estará mais concreto!

8. Veja: nossa gente pode pensar em ocupar a política nacional para levar os desígnios de Nosso Senhor ao país, porém, aqueles que não puderem, farão cotidianamente nos próprios ofícios, firmando a identidade católica. Agora isso requer coerência para evitar malícias como aquelas dos herodianos. Então, pensar no Brasil e entender que ele precisa ampliar sua catolicidade significa necessariamente expandir isso para além das igrejas, durante as oportunidades diárias, comprando, vendendo, trabalhando, estudando ou mesmo no descanso. Assumir que vai errar, mas que também vai corrigir esses erros visando cumprir a missão de evangelizar em todos os lugares.
Oponha-se se algo contraria a Santa Igreja, porém, tenha cuidado com excessos ou desmedidas que podem acabar contrariando-a também.
9. Dê ao Estado o que é do Estado! Dê a Deus o que é de Deus – e assim a coisa se resolve naquele que tudo pode! Mas não busque se eximir de se expressar, dando testemunho daquilo que lhe foi próprio da fé. Oponha-se se algo contraria a Santa Igreja, porém, tenha cuidado com excessos ou desmedidas que podem acabar contrariando-a também. Além disso, vale a pena procurar entender mais questões estatais, sejam militares, legislativas ou econômicas, sobretudo em época de eleições, prestando atenção e ponderando sobre propostas sempre tendo por objetivo a caridade. Medite o Catecismo da Igreja Católica e o Evangelho de Nosso Senhor. Leia as vidas dos santos e busque uma educação cristã válida.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. A César o que é de César. Enquirídio. Maceió, 07 abr. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/04/a-cesar-o-que-e-de-cesar.html.

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