18.3.22

Caridade de Esquerda e Moral de Direita?

Seria ótimo poder aceitar um partidário do combate à miséria ou preservação da moral. Porém, quanto um ou outro se coloca contra o catolicismo, como fazer um juízo de valor sem levar em conta Nosso Senhor? Relativizar a Igreja Católica visando aderir a objetivos políticos anticristãos é realmente abandoná-la.
O Rico e o Pobre
Giovan Francesco Locatelli. O Rico e o Pobre.
1. Desde já se permita entender: inexistem espectros políticos no catolicismo! Portanto, ideias de católicos de direita ou de esquerda são vãs concepções forçosas de devaneios filosóficos que nem deveriam ser sustentados, sobretudo por sacerdotes. Porém, alguém pode alegar que somente os “católicos de esquerda” fazem caridade, enquanto outros afirmam que apenas os “católico de direita” guardam a doutrina. Verdade seja dita: aquele que faz uma coisa, mas não faz outra, equivoca-se na fé.

2. Aqueles que relativizam as Sagradas Escrituras para ressignificarem o milagre da multiplicação dos pães aos ideais sociais, seguem qualquer outra religião, menos a católica. Dizer que tal acepção deriva de levantamentos academicistas que não encontram nenhuma evidência científica deste ato divino é prova cabal da rejeição da fé. Pior ao dizer que dessa forma o Evangelho poderia ser melhor recebido socialmente, negando o evento milagroso para evidenciar as características meramente materiais do compartilhamento de alimentos. Questão que traz uma reflexão: mesmo sabendo do predomínio da caridade, donde a doação se torna indispensável, sobretudo por tantos terem tão pouco ou coisa alguma, por que descontextualizar uma passagem do poder de Deus ao saberem que também consta na Bíblia as determinações de Jesus Cristo sobre como amar o próximo?

3. Igualmente, aqueles que olvidam a Santa Igreja na missão fraterna em proveito de um moralismo exacerbado, capaz de amputar o próprio membro ao se tornar impuro quando estendido em assistência ao desvalido, conforme convicções pessoais provenientes de compreensões enviesadas da doutrina católica, pratica qualquer religião, menos aquela instituída por Nosso Senhor, quem no meio de pecadores se tornou visível a todos. Pensar em um paraíso na terra é negar a morada eterna. Relembra-se oportunamente que nos tempos de Jesus Cristo junto aos homens o mundo não era moralizado. Muito pelo contrário! Porém, Ele não demandava perfeição; contava exatamente com imperfeitos, decadentes, impróprios para mostrar o verdadeiro caminho da salvação. Assim é que a igreja Católica tem feito pelos séculos. Todavia, percebendo o puritanismo jamais praticado pelos santos, pergunta-se se querem certos leigos ou mesmo alguns sacerdotes criarem ambientes mais elitizados, donde a caridade não passe pela porta?

4. Se as atitudes de católicos lembram políticas de esquerda ou de direita, que bom, mas não são pertencentes aos respectivos espectros; apenas práticas católica, desígnios de Nosso Senhor. Nada mais do que dar ao Estado aquilo que lhe pertence, preservando para Deus aquilo que Ele determinou.

5. Negar a doutrina de Jesus Cristo é fácil, principalmente quando substituída por intermédios interpretativos como Karl Marx ou qualquer outro autor da pseudofilosofia revolucionária, quer seja socialista ou liberal, como as do Adam Smith, donde nesta o povo é escravizado pela crueldade industrial, enquanto naquela a escravidão é dada pela tirania estatal. Interpretar a infinitude de Deus através da limitação humana significa adotar uma religião com finalidades efêmeras, umbilicais e dissolutas.

6. Os católicos seguem o catecismo, oferecido graças aos provimentos da sucessão apostólica ao observar no mundo hodierno as condutas perante os estados, cada qual através de formas próprias de governo. Se um Estado, tomando como exemplo, aprova leis abortivas, ninguém de nossa gente dela usufruirá, mas sem protagonizar na política, outras regras sobre outros temas poderão ser impostas por omissão na fé. Assim é que a Igreja Católica, sacerdotes e leigos, precisam ser firmes na identidade ao afirmarem o Evangelho de Nosso Senhor. Significaria aderir a mutirões para doações ou discursos moralistas? Como dito: apenas uma coisa sem outra não forma uma posição catolicamente válida.

7. Quando se avalia a validade do catolicismo, trata-se apenas de verificar, dentro de um contexto, condições que são impossíveis de obliterar! Símbolos da fé de fato, de vida! Gestos, atitudes, posturas que identificam o católico. Ao contrário de afirmar “faço isso, pois isso é próprio da minha religião”, faz-se apenas e pronto! Qualquer um de nossa gente perceberá a Santa Igreja operando cotidianamente através de condutas, inclusive na política. Porém, catolicidade integral: com caridade; com moral.

8. Observe os vaishnavas: todos pintam a testa e adotam vestes apropriadas, embora possam flexibilizar diante de certas ocasiões ou ambientes, exteriorizam sua crença e moral não por vaidade, mas por identidade religiosa. No catolicismo as caracterizações são realmente próprias dos sacerdotes, embora o terço, o escapulário, o livrinho de orações pudessem integrar a indumentária leiga, porém, inexiste uma regra igualmente ao vaishnavismo, motivo pelo qual medir a catolicidade por tais estereótipos é equívoco, sendo o julgo do homem um pecado. Assim é que o ato daqueles que seguem Nosso Senhor são íntimos para com Deus, embora o exemplo necessário se exteriorize aos demais, corpo da Santa Igreja. Justamente por tal motivo que nossa gente precisa evitar se colocar onde a dúvida impere e a discórdia reine. Se os socialistas abortistas são caridosos com desvalidos, qual caridade pode perceber um cristão ao ceifar um bebê? Igualmente, quem pode moralmente defender a doutrina da Santa Igreja, mas sem prestar caridade aos desamparados? Hipócritas!
Olhar para cima ao orar para Deus
e para baixo para ajudar os caídos no chão.
9. Se você se afirma católico, mas não consegue deixar seu comitê de campanha com pautas abortistas, proteste, funde outra religião ou adira a qualquer outra existente, mas não queira tentar contra Nosso Senhor. Mesma coisa aos moralistas, defensores daquilo que acham ser Igreja Católica, desafiadores do papado por diversas vezes: caso não seja possível estender uma mão diante de um irmão caído, praticar a caridade para atingir o coração de Jesus Cristo naquilo que pregou e ordenou, deixe de amolar quem erra, mas que, ainda assim, tenha prontidão para encontrar o acerto! Esquerda? Direita? Centro? Meras orientações terrenas. Olhar para cima ao orar para Deus e para baixo para ajudar os caídos no chão.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Caridade de Esquerda e Moral de Direita? Enquirídio. Maceió, 18 mar. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/03/caridade-de-esquerda-e-moral-de-direita.html.

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