16.2.22

Motu Proprio e a Polêmica Desnecessária

Todas as vezes que alguma alteração é realizada no Código de Direito Canônico, dúvidas começam a surgir. Como seria diferente a respeito da Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio “Atribuição de Algumas Competências”? Dentre várias, estaria o Papa Francisco diluindo o poder da Santa Igreja com tais alterações?
São Basílio, o Abençoado, o Milagreiro de Moscou
Vitáli Grafov. São Basílio, o Abençoado, o Milagreiro de Moscou.
1. De início, basta dizer que não: jamais o Papa Francisco diluiria o poder da Santa Igreja, sobretudo ao modificar o Código de Direito Canônico para possibilitar o benefício de nossa gente e a estrita obediência a Nosso Senhor. Porém, mudanças são sempre difíceis ao católico, aquele que conserva, preserva, mantém até que sinta confiança em novidades.
2. Resumidamente, Papa Francisco “deseja observar” a atuação das conferências episcopais regionais (brasileira, portuguesa, angolana etc.), quando deixa de “aprovar” para “confirmar” em matéria de gestão dos seminários, formação sacerdotal e redação de catecismos. Nisto, seria importante a percepção que demandas ocidentais são diferentes das orientais, noutros termos, Brasil tem necessidades que não necessariamente o Japão possui, motivo pelo qual esta descentralização tende a cumprir uma função maior.

3. Porém, ao menos no Brasil, parte de nossa gente não confia na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB na totalidade, elencando posicionamentos de bispos que não estariam em concordância com a Santa Igreja. Lógico que estariam votando por desconfiança de Dom Orlando Brandes ao se dirigir ao presidente da nação, Jair Messias Bolsonaro, quando apelou naquele 12 de outubro de 2021 dizendo “para ser pátria amada não pode ser pátria armada”. Antes, falou sobre um Brasil enlutado por conta das mortes causadas pela pandemia de Covid-19, lembrou do abraço às crianças, pobres e autoridades “para que juntos construamos um Brasil pátria amada”. Fora de contexto, parece que foi apenas um discurso político, mas era sim uma homilia estruturada e evangelicamente amparada, exceto por uma falha de colocação que não compromete em absolutamente nada o teor proferido, qual seja, excluir do amor as necessidades de proteção, incluindo a posse de recursos para legítima defesa. Bastariam duas observações: primeiro, mesmo o catecismo instrui a utilização de armas em condições severas, conforme já explicado na postagem Fiódor Dostoiévski e o Agente da Mentira; segundo, valeria mencionar ao arcebispo daquele Santuário Nacional que Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, também é Generalíssima do Exército Brasileiro, donde parte a soberania necessária ao cumprimento daquele amor apelado pelo sacerdote em questão.
4. Ocorre que existe um fenômeno de segregação na Igreja Católica, donde os conservadores se tornam reacionários pelo progressismo daqueles que desejam uma religião mais compatível com agendas globais. Entretanto, existe uma enorme diferença entre recear as mudanças da Santa Sé e divagar em teorias que somente se concretizam nas mentes já em vias de segregação, conforme postagem Puritanismo Católico no Século XXI, donde a leitura poderá facilitar a compreensão daquilo que está sendo posto nesta publicação.

5. Através do Motu Proprio de 11 de fevereiro de 2022, Papa Francisco não estaria fornecendo corda aos bispos disputarem como cabo de guerra, quando reacionários e progressistas passariam a dividir o catolicismo brasileiro em disputas radicais, como já existem atualmente. Portanto, inexistiria incidência do Espírito Santo nas decisões do sumo pontífice? Quando o Santo Padre deixa a cargo das conferências episcopais regionais certas atribuições, também cobra ao mesmo tempo as devidas condutas, donde, havendo deslizes, prontamente conhecerá no processo de confirmação, tendo o poder de corrigir ou mesmo anular, motivo pelo qual seria desnecessário pensar na CNBB como sendo antagônica ao Vaticano ou qualquer outra possibilidade. Problema mesmo são posturas cismáticas, derivadas do reacionarismo, percebidas por movimentos de ruptura como denunciado na postagem Bispo Sedevacantista no Brasil? Sorte termos um jesuíta em proveito da Unidade da Cátedra Petrina, alguém que não tem receio de utilizar o instrumento da excomunhão se necessário.

6. Verdade seja dita: descentralizar tais competências da Santa Sé significa um avanço, donde uma Igreja Católica em processo de reedificação do laicato, sobretudo pelos esforços de nossa gente, leigos e sacerdotes, individualmente ou em associação, lembrando ainda as iniciativas que culminaram em cursos e clubes de leituras, precisará de dinâmica que sustente essa celeridade, amparando as necessidades regionais em proveito de todos, mesmo para suportar o crescente conservadorismo no país e mundo!

7. Também é necessário lembrar que nossa gente deixou a inércia e está muito mais vigilante, participativa e consolidante. Fé e razão estão novamente se conciliando e a caridade sendo reestabelecida. Para isso, tanto é necessário aquele padre que tem uma abordagem moral, dogmática, intelectual, quanto outros que acolhem os desabrigados, criam o diálogo e remove barreiras que são colocadas, muitas vezes, pelos próprios cristãos em nítida comunhão com fenômenos segregacionistas.
Investimos na limpeza, adquirimos ornamentos importados, confeccionamos fardamentos pastorais em proveito da melhor organização para, agora, virem sujos e mal-amanhados?
8. Apenas para ilustrar, em determinada paróquia, donde no estacionamento próprio (da associação de leigos) se visualizava nas marcas e modelos dos carros o nível de posição social dos frequentadores, observava-se pelas janelas algumas pessoas humildes, daquelas que somente possuem a roupa do corpo. Convidadas por alguém a participarem da missa dentro da igreja, olhares retorcidos e caras amarradas acompanhavam a situação, certamente com insatisfação. “Investimos na limpeza, adquirimos ornamentos importados, confeccionamos fardamentos pastorais em proveito da melhor organização para, agora, virem sujos, mal-amanhados?” – situação verídica! Scott Hahn em Razões para Crer contou uma situação parecida, donde um pastor protestante, cuidando da população local desamparada e promovendo o comparecimento destes nos cultos, encontrou resistência das pessoas que estabeleceram o estereótipo da assembleia, sendo até mesmo ameaçado. Hoje, segundo o autor do livro, converteu-se (pela graça de Deus) ao catolicismo.

9. Neste momento, embora as reflexões trazidas sejam apenas para motivar o pensamento em compreensão das diversas necessidades da Igreja Católica, seria muito mais prudente aguardar os desdobramentos destas “Atribuições de Algumas Competências” do Papa Francisco em comunhão com ele; não com mentalidade segregacionista. Procurar entender as diferenças e ensinar aqueles que não conseguem sozinhos compreender a promessa de Nosso Senhor. Isto seria o mínimo diante da oportunidade que se fez recentemente.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Motu Proprio e a Polêmica Desnecessária. Enquirídio. Maceió, 16 fev. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/02/motu-proprio-e-polemica-desnecessaria.html.

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