27.8.21

Parábola da Lama

Muitas lições podem ser retiradas da natureza e a parábola da lama reflete a infeliz circunstância da indecisão, seja ela por ausência de atitude ou comodidade declarada, onde nesta usamos a incerteza como desculpa para tramas ardilosas e naquela esquecemos o caráter, evitando as obrigações do cotidiano.
Rua Meridian, Tempo de Descongelamento
Theodore Clement Steele. Rua Meridian, Tempo de Descongelamento.
1. Numa certa vila havia um ancião muito observador, que não deixava nenhum detalhe passar despercebido. Afinal, pouco havia para fazer naquele lugar pacato.

2. Na frente da casa dele existia uma estrada de terra às margens de um pequeno açude muito raso. Sempre que iam por ali, observava o ancião que confiavam as pessoas na terra seca para passearem, assim como na água para se lavarem. Contudo, quando chovia, açude e estrada se misturavam num tremendo lamaçal.

3. Nisto que chovia, ninguém mais sentia confiança para passear ou se lavar, uma vez que, agora, tudo era lama. Então, observou o ancião:

4. Quando a terra da estrada está firme, todos nela confiam em passear. Quando a água do açude está contida, todos nele conseguem se lavar. Porém, avançando o açude na estrada ou misturando a terra na água, um meio termo surge, nem sendo firme, nem mesmo contido. Apenas incerto.

5. Diante disto, percebera aquele ancião que nem sempre o intermédio é apropriado, que não é sempre que ser mediano significa ser equilibrado.

6. Na lama as pessoas não passeiam. Simplesmente atolam! Andam sem saber onde seria melhor pisar. Mesmo quem está na frente não consegue sequer deixar suas pegadas para os próximos saberem qual trajeto realizar, pois, em pouco tempo, logo a água se mistura na terra, apagando os rastros daqueles que passaram. Também não adianta se lavar! Apesar da água estar lá, muita terra já se misturou, pois o raso açude acabou transbordando enquanto chovia.

7. Apesar de tudo isso, nenhuma chuva durou para sempre onde morava o ancião. Logo toda a gente já podia passear pela estrada de terra, lavando-se no pequeno açude, apesar de muito raso. Era uma situação passageira, apesar de desagradável. Assim o ancião conseguiu concluir sua observação:
Sendo o caráter da terra a rigidez, que seja rígida. Sendo o caráter da água maleabilidade, que seja maleável.
8. As pessoas confiam naquilo que conhecem. Se rígidos ou maleáveis, pouco importa, sabendo que possuem características definidas. Desta forma, cada qual consegue cumprir uma função, servindo conforme as necessidades. Porém, quando tais coisas se perdem em essência, misturando-se ao ponto de se desfigurarem, tornam-se duvidosas, tanto para elas mesmas, quanto aos demais. Sendo o caráter da terra a rigidez, que seja rígida. Sendo o caráter da água maleabilidade, que seja maleável.

9. Portanto, aquele que mantém sua verdadeira essência, responsabilizando-se por seu próprio caráter, certamente será reconhecido, aproveitado pelos melhores propósitos. Porém, permitindo-se misturar com aquilo que não lhe condiz, deixando se abalar pelas adversidades passageiras, torna-se, assim como a lama, incerto, indigno de confiança, causando problemas a outras pessoas. Entretanto, quando a chuva passa, surge o sol, trazendo oportunidade para água virar água e terra virar terra.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Parábola da Lama. Enquirídio. Maceió, 27 ago. 2021. Disponível em: https://www.enquiridio.org/2021/08/parabola-da-lama.html.

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