14.4.24

Protestantes e o Problema com o Sol

Os protestantes, reféns das ilusões causadas pelos sentidos em proveito de convicções, embora não sejam tão próprias quanto lhes pareçam, acostumaram-se em replicar falácias sobre a Igreja Católica, mas sem saberem que mesmas imputações cabem à religião de Israel que veneram.
Ernest Karl Eugen Koerner. As Pirâmides de Gizeh.
1. Usando um excerto da homilia de São Jerônimo, In die Dominica Paschae homilia: CCL 78, 550 (PL 30. 218-219), protestantes de algumas denominações, principalmente os adventistas e correlatos, referenciam o texto na intenção de mostrarem a influência pagã na Igreja Católica. E o que diz tal conteúdo?

2. Explicando o motivo da guarda do domingo, diz São Jerônimo na mencionada homilia: “Se os pagãos lhe chamam dia do Sol, também nós, de bom grado o confessamos: porque hoje se ergueu a luz do mundo, hoje apareceu o sol da justiça, cujos raios nos trazem a salvação” — não é que o santo “confessou uma heresia”?

3. Trata-se de questão semântica no processo de inculturação. Se, de fato, chamam-no de “dia do Sol”, certamente há mais um motivo aos cristãos para esse nome, pois, como disse o santo, “hoje se ergueu a luz no mundo” — Jesus Cristo! Belíssima analogia, incompreendida pelos protestantes ou deturpada de má fé.
Porém, o que é possível afirmar da religião de Israel, praticada por Nosso Senhor, em um processo de inculturação bimilenar, multicultural e inter-regional desde sua origem quando nem nome tinha?
4. De Jesus Cristo até agora, diversos registros confirmam a Igreja Católica, que por sua vez confirma as Sagradas Escrituras. Porém, o que é possível afirmar da religião de Israel, praticada por Nosso Senhor, em um processo de inculturação bimilenar, multicultural e inter-regional desde sua origem quando nem nome tinha?

5. Observe a sequência histórica da religião de Israel: iniciada na Babilônia com Abraão, atravessa os fenícios e estagna no Egito por pouco mais de dois séculos até Moisés levar seu povo ao Sinai, em um processo que demorou quatro décadas no deserto, chegando finalmente em Canaã, mas sem ficar livre das aculturações e inculturações.

6. Enquanto aculturação está para “formação sincrética de nova cultura”, inculturação se relaciona com o “processo pelo qual culturas assimilam o cristianismo”, embora aqui seja abordada a religião de Israel. Canaã viveu o tempo dos juízes por 410 anos, da monarquia por 433 anos, dos babilônios por 48 anos, dos persas por 206 anos...

7. Até que Alexandre Magno em 333 a.C. expandisse o helenismo, realizando um “mix” de culturas neste período, embora a religião de Israel tenha se mantido íntegra — e a prova disto é Jesus Cristo, claro. Porém, nesse processo todo, será que algo não foi aproveitado culturalmente da monolatria (culto a um deus, mas sem negar que existam outros)?

8. No Livro dos Provérbios está escrito “Inclina teu ouvido e escuta a palavra do sábio e aplica teu coração para atendê-lo” (Pr 22, 17s), assim como na Instrução de Amen-Em-Opet egípcia “Aplica teu ouvido e escuta o que se diz e prepara teu coração para atendê-lo” — também em Pr 22,22; 23,10; 15, 16s; 22, 24; 12, 22; 27, 1.

9. Se os protestantes se escandalizam com São Jerônimo pela analogia do “dia do Sol”, avalie o pânico ao saberem que sua “bíblia” (aspas por ser incompleta) possui trechos literais de textos de um faraó da XXI dinastia egípcia (1070-945 a.C.), sumo sacerdote de Amon, “deus do Sol” (também do ar).
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Protestantes e o Problema com o Sol. Enquirídio. Maceió, 14 abr. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/04/protestantes-e-o-problema-com-o-sol.html.

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