24.4.24

A Enciclopédia Maçônica da Revolução Iluminista

Os maçons, em oposição à Igreja Católica, sempre permeiam a história, mas não declaram autoria sobre suas ações, o que não é estranho, pois qual católico poderia declarar “eu sou a Igreja”, percebe? Como, então, perceber o envolvimento maçônico nas revoluções? É o que vai ser visto agora.
Eugène Delacroix. A Liberdade Guiando o Povo.
1. Antes que uma revolução ocorresse, precisava-se estruturá-la para que fosse aceita em curto, médio e longo prazo. Não por acidente Léon de Poncins (1897-1975), em “As Forças Secretas da Revolução”, menciona os enciclopedistas e a relação existente entre estes e a maçonaria (indissociável do movimento iluminista).

2. Contudo, mostrar sua relação não é tão simples, embora a atenção ao assunto tenha, talvez, precipitado as intenções do alto ao destacarem dentre tantos outros, numa estante pouco frequentada, como ao acaso, um livro de Tzvetan Todorov (1939-2017), qual seja, “Teoria dos Símbolos”, dando razão às desconfianças nos enciclopedistas.

3. Entre esses enciclopedistas, destaca-se César Chesneau Du Marsais (1676-1756), relativista empregado pelo Jean le Rond d’Alembert (1717-1783), também membro da Royal Society de Londres (brevemente relacionada em Ocultismo: Contextos e Controvérsias), na edição da Encyclopédie (primeira da Europa). Nada pondo sobre este, firma Todorov sobre aquele: “dotado, antes de tudo, de qualidades de escritor — para não dizer de vulgarizador”.

4. E a vulgarização de Du Marsais não é tão difícil de se perceber, assim como é a intenção dos enciclopedistas que estruturaram concepções históricas, filosóficas e poéticas, capazes de suportar os impactos da Revolução Francesa de 1789 enquanto subvertem a realidade em oposição ao curso normal dos fatos por estes terem sido dados pela Igreja Católica no âmbito francês desde quase sempre. Apenas como mostra, observe o “systême figure des connoissances humaines” (sistema figurativo do conhecimento humano), conforme o primeiro tomo da “Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers” (Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, das Artes e das Profissões): a) no “entendement” (entendimento) há três colunas divididas em “memoire” (memória), “raison” (razão) e “imagination” (imaginação), relacionadas respectivamente as ramificações demonstradas em “histoire” (história), “philosophie” (filosofia) e “poesie” (poesia); b) apenas na ramificação filosófica, nota-se de longe a necessidade da relativização ao atingimento da estrutura de conhecimento imposta pelos revolucionários, colocando como “science de Dieu” (ciência de Deus) a “théologie naturalle” (teologia natural) e “théologie révélée” (teologia revelada) na pressuposição de um desfecho, anunciado na sequência, pela “religion, d’où par abus, superstitions” (religião, daí por abuso, superstições); c) na mesma concepção de “science de Dieu” (ciência de Deus) estão as “science des esprits bien et mal faisans” (ciência dos espíritos bons e maus), desmembrada em “divination” (adivinhação) e “magie noire” (magia negra). Verdade é que o iluminismo não era outra coisa além do neopaganismo estrutural, que por uma falsa liberdade, igualdade e fraternidade projetava na França e mundo a expansão do pensamento anticristão e indubitavelmente maçônico. Ora! Se mostrarem à alguém a ilustração interna, estampada ao menos na página inicial do primeiro volume dessa coleção enciclopédica, mesmo uma criança com uma mínima catequese observariam que nenhum símbolo cristão está presente, mas sim aqueles próprios das vaidades antropoteístas de pessoas descrentes (figura do homem alado, como se fosse um anjo puro, desnudo, jamais caído em pecado, donde sua cabeça tem uma chama pelo saber, iluminação que obtém por via instrumental, donde, sob ele, estão as referências do compasso, do esquadro, do martelo, da pá de pedreiro etc.). De fato, trata-se de excelente produção artística em hachuras, mas sem qualquer alusão a Deus, exceto aquele “da minha compreensão, do meu coração” — como expressam os rosa-cruzes para fazer o mundo caber na ideia de religião universal.
Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot. Sistema Figurativo do Conhecimento Humano.
Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot. Sistema Figurativo do Conhecimento Humano.
O que a mentira leva segundos para destruir, a verdade pode levar séculos para reparar.
5. Os significados relativizados de um modo geral por Du Marsais não partiram de um propósito iluminado, como assim é feita a venda do iluminismo nos cursos de história, filosofia e literatura, mas tão somente como cólera contra a tradição patrística de exegese bíblica, conforme flagrada em “Teoria dos Símbolos” — e o motivo da relativização tem seu indício no próprio sistema figurativo do conhecimento humano, pois como relativizar a certeza do passado sem construir um futuro de possibilidades? Vejamos se Poncins em 1928, quando publicou “Les Forces Secrètes de la Révolution” (As Forças Secretas da Revolução), estaria aquém da verdade. Para isso, sequer é preciso recorrer às diversas fontes que demonstram perfeitamente bem tais alegações, pois hoje os franceses estão sofrendo com aquilo que acentuou sua vaidade ancestral, desde o desespero pela expansão islâmica em próprio território e a inconsequente defesa do aborto como parte da constituição, que não tem nestes termos, exceto por milagre, formas de resistir ao poder da crença maometana. Todorov, ao longo do livro, expressa sempre com certo pesar as incoerências daquele enciclopedista, embora pareçam ser próprias da cultura francesa (na verdade, do próprio homem decaído que precisa de Deus para se salvar, pois, sozinho, está muito mais sujeito às tentações demoníacas). Se as ideias têm consequências (vale a pena conferir o trabalho de Richard M. Weaver sobre isso), eis que sem dúvida alguma causaram a “revolução das revoluções” na França, neste ponto chamada simplesmente por “tiro no pé” — e o que a mentira leva segundos para destruir, a verdade pode levar séculos para reparar (cá se tenta neste texto).

6. Du Marsais, como quem desejasse resolver problemas de significados, inaugura uma semântica de “resultados deploráveis”, conforme Todorov, em despeito da essência das palavras na hermenêutica cristã desde o tempo de São Tomás de Aquino, sobretudo para abstrair, subverter e extinguir seu sentido espiritual (técnico, porém existente)

7. Não à toa o equívoco trabalho de Du Marsais influenciou Nicolas Beauzée (1717-1789) à concepção do “sentido adquirido”, pouco importando a significação da palavra no dicionário, uma vez que seu significado dependerá do contexto — e o progresso disso originou a própria relativização da linguagem para fins revolucionários.

8. Assim sendo, lembrando o sistema figurativo (ponto de crítica na obra de Todorov) do conhecimento humano e pensando naquela enciclopédia, que foi responsável por influenciar a Europa inteira do século XVII em diante, basta contextualizar “religião” pelos próprios interesses revolucionários para que esta, imputada “por abuso”, torne-se “superstição”, merecendo o supersticioso ser guilhotinado — voilà! Sem ser grotesco, embora sem evitar também, as incoerências na França pelo iluminismo são tão absurdas, que, como já dito aqui no Enquirídio em Ocultismo: Contextos e Controvérsias, jamais seria parâmetro para desavenças ideológicas alguém ter feito algum ritual de magia negra ou adivinhações; mas não interessa se naquela época viveram gênios da ciência, da química, por exemplo, pois, sendo católico, toda guilhotina seria pouca. Quem afirma isso é a cabeça decepada de Lavoisier, “pai da química moderna”, assim considerado pelos descendentes dos iluministas, porém, “morto por ser burguês” — e o que é ser isto para esta gente incoerente, vulgarizadora, relativista, donde, para esta, se as informações não conseguirem convencer, mudam a narrativa até que funcione? Se Poncins tivesse errado, certamente o ateísmo de d’Alembert e Denis Diderot (1713-1784), editores daquele “dicionário racional”, jamais poderia ter prosperado, uma vez que dependia de veículos de comunicação, circulação em universidades, aceitação social e a influência do poder político, que não precisaria de nenhuma outra linha de texto aqui para relacionar a Revolução Francesa como marco fundamental do neopaganismo no mundo inteiro. Entretanto, mesmo que a Santa Igreja, para não falar dos documentos oficiais, através do aval ao livro “A Conjuração Anticristã” de Monsenhor Henri Delassus (1836-1921), citado sempre em “As Forças Secretas da Revolução”, exponha uma realidade irrefutável, parece que chegamos no tempo de ter que provar que a grama é verde. Atribuem a Confúcio (551-479 a.C.) a seguinte reflexão: “quando as palavras perdem o significado as pessoas perdem sua liberdade”. Como estão mesmo os europeus diante da ascensão islâmica no próprio território? Há informações pertinentes à situação no artigo Obscuridades Judaicas: Fragmento A, para quem desejar realmente se aprofundar, mas aos poucos, pois esse assunto é muito denso e desgastante.

9. Aquilo que sabem, mas não provam de imediato, torna-se conspiração quando exposta, mas tão somente porque a razão é vítima, chamada de mentirosa por aqueles que tornaram as provas ocultas, pois eles, como Voltaire, mentem ao temerem aquilo que não podem conter, que é a verdadeira liberdade, igualdade e fraternidade em Jesus Cristo.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. A Enciclopédia Maçônica da Revolução Iluminista. Enquirídio. Maceió, 24 abr. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/04/a-enciclopedia-maconica-da-revolucao-iluminista.html.

Postar um comentário

Botão do WhatsApp compatível apenas em dispositivos móveis

Digite sua pesquisa abaixo