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| David Teniers the Younger. O Alquimista. |
2. Antes de tratar da questão em si, vale a pena expor que maior parte das preocupações no âmbito da religião católica relativas ao ocultismo, acabam sendo apenas estéticas e superficiais, atreladas tão somente à parte visível da coisa, que por sua vez, como foi posto, sequer é própria. Noutros termos, manifestações culturais, artísticas, literárias dentre outras, embora cumpram como utilidades à formação de um imaginário estereotipado, limitam a cognição sobre o oculto, criando uma camada ilusória, embora muito intuitiva, naquelas pessoas que acreditam ser mal uma pessoa ou objeto por sua aparência. Afinal de contas, maldades de verdade originam problemas verdadeiros – e a locução aqui utilizada poderia parecer repetida, mas se há uma diferença conceitual para Martin Heidegger (1889-1976), então não seria prudente rejeitá-la, embora pudesse ser explicada de forma diversa.
3. Os produtos ou resultados do ocultismo não são somente aparentes, embora as aparências enganem, assim como podem enganar os curiosos que acreditam estudar as verdades do oculto em livros para captação de adeptos em ordens ou escolas iniciáticas. Neste ponto, desapontando o leitor, talvez, efeitos de práticas ocultistas são tão imediatos que nem são percebidos, como é o caso da provocação da curiosidade (denominada por iniciados com outros nomes), que por si só poderia demover uma pessoa da certeza já revelada para compeli-lo em busca de enigmas secretos, mesmo que sequer existam – e a maldade do sujeito ao empreender tal manipulação, desviando indivíduos do verdadeiro ao imaginário subjetivo e individual, como se nota, nunca seria somente estética. Alguém vendeu a mentira como se fosse realidade e a confusão dos mitos com fatos é o grande feitiço ocultado.
4. Desviar a atenção é a principal ocupação daqueles que ocultam. Algo mais óbvio, impossível! Se aquilo que fazem não poderia ser revelado, acabariam sendo todos descobertos se realmente divulgassem aquilo que por séculos transmitem oralmente ou através de linguagens simbólicas – seriam apenas imbecis, imprudentes e incoerentes. Porém, existiu uma parcela de ocultistas que não necessariamente queriam realizar operações malignas ou coisas assim. Alquimistas de outrora faziam das coisas ocultas a ciência que não conseguiu a bruxaria, ou seja, descendo mais um nível em busca das causas para alguns efeitos. Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794), antes de ser o pai da química, estudou e praticou a alquimia, porém, diferentemente de Isaac Newton (1643-1727), alguém que foi também iniciado nos princípios alquímicos por roza-cruzes, sustentava-se integralmente na fé da Igreja Católica, motivo pelo qual, além de expor as pesquisas que realizava com expressões não ocultadas, assim como deviam permanecer entre alquimistas, infelizmente foi guilhotinado pelos iluministas na revolução francesa – um grande marco de obscuridades que tentam ocultar da história. E o ocultismo? Se as informações prestadas até então não lhe dissuadiram a curiosidade...
Então a ideia do ocultismo tem seu objetivo, como dito, mais como estratégia “maquiavélica” do que um mistério em si.5. Observe o Uroboro ou dragão que morde sua cauda, figura que contém alguns significados misteriosos, porém, apenas para quem desconhece as operações alquímicas oriundas da idade média ou mesmo sua origem egípcia mais remota – supostamente. Filosoficamente, referencia a finalidade em si ou retroalimentação, também correlata ao processo do fogo ou relativamente ao mercúrio enquanto elemento químico. Acontece que não ficou menos oculta a ciência da química. Não! Ela foi tão somente recodificada para algo mais facilmente transmissível, auxiliada por instrumentos tecnológicos que tangenciam a experiência dos alquimistas da modernidade, embora conhecê-la demande estudos e práticas à compreensão de símbolos, conceitos, restrições, como era antes. Então a ideia do ocultismo tem seu objetivo, como dito, mais como estratégia “maquiavélica” do que um mistério em si.
6. No ocultismo do plano das ideias, certamente a curiosidade é saber se magia existe – e a resposta é sim e não! Se as preocupações forem causar danos em outras pessoas ou alterar a natureza de um determinado objeto através de fórmulas, recitações, diagramas, certamente as disciplinas científicas como a física darão subsídios melhores do que os estudos e práticas medievais. Agora, se as legítimas preocupações repousam sobre possibilidades manipulativas de membros iniciados para alteração da realidade em proveito de um menor grupo de indivíduos, embora pareça ser uma pretensão impossível, infelizmente é a verdade que poucos desejam perceber, uma vez que melhores são imposições alienantes prazerosas ao invés de um caminho para libertação, mas que condiciona certas obrigações que demandam abdicações, provações e evidentemente que uma exigência racional mais elevada e dolorida de se obter, donde o poder individual termina sendo obsoleto se pensado em proveito exclusivo ou em detrimento da humanidade. Perceba que aquilo que foi colocado no parágrafo anterior é plenamente sustentado dentro do próprio ambiente científico da mais alta importância internacional cultural e histórica, qual seja: Royal Society. Neste ponto, parece injusto não mencionar que Olavo de Carvalho já discorria a respeito da maquinação em sociedades como esta, ficando evidente o passado alquímico de diversos expoentes da ciência moderna. Entretanto, os ensaios já desenvolvidos acerca da questão não comprovam sua incidência como fato mensurável na historicidade relacionada, exceto quando pesquisadoras da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP encontram nos arquivos daquela academia inglesa as evidências do Alkahest, espécie de solvente universal, tido como hipotético, apesar de tratado por Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541), conhecido por Paracelso, importante personagem histórico deste contexto.
- A agenda secreta da química (Revista Pesquisa FAPESP).
- Brasileiras encontram pó alquímico em arquivo da Royal Society (Revista Pesquisa FAPESP).
- Uma incômoda pitada de magia (Revista Pesquisa FAPESP).
8. Paracelso, “médico” suíço de renome na Europa inteira, também foi alquimista e autor de um livro sobre “As Plantas Mágicas: botânica oculta” (dentre outras obras por ele feitas), donde lá se observa algumas considerações preliminares das características da atropa belladonna, mas sem ter qualquer instrução para utilização ou descrições de propriedades. Diferentemente, Santa Hildegarda de Bigen (1098-1179), Doutora da Igreja Católica, havia posto à disposição da Alemanha (onde vivia como abadessa beneditina), incluindo boa parcela do território europeu, informações muito relevantes, presentes no tratado “Physica” ou “Livro de Medicina Simples”, acerca da beladona, sobretudo no tratamento detalhado de úlceras, contendo orientações restritivas aos homens que desejassem ingeri-la na forma líquida ou comê-la in natura. Agora a mágica da informação acontecerá! Preste muita atenção: mesmo depois de cerca de quatro séculos e o quase certo conhecimento do trabalho da monja cristã, continuava a medicina dos iniciados tornando os saberes curativos já publicados e notoriamente repercutidos em propriedades ocultas, secretas, privadas, igualmente a problemática contemporânea da agricultura, encurralada pelo monopólio tecnológico patenteado da empresa Monsanto, adquirida pela Bayer no valor de 66 bilhões de dólares em 2018, sendo a maior e quase única fabricante de transgênero do mundo inteiro. Ao contrário das mentiras contadas por historiadores protestantes e/ou revolucionários desonestos a respeito da inquisição, que nos tempos das cruzadas, especialmente na segunda realizada (1147-1149), trabalhos científicos eram plenamente desenvolvidos, igualmente aqueles de caráter místico, como foram os da freira da Ordem dos Beneditinos, médica de verdade e cientista pioneira, donde seu ofício se voltava sempre para vida; nunca ao lucro. Portanto, como dito desde o início, ocultistas operam por uma causa muito lógica: poder.
Verdade que havendo São Tomás de Aquino, procurar nos volumes não específicos de teologia essas colocações é praticamente buscar uma agulha no palheiro.9. Finalmente, encontra-se no calhamaço “Três Livros de Filosofia Oculta” um capítulo no mínimo curioso: “Qual é a verdadeira e mais ortodoxa fé a respeito de Deus e da Santíssima Trindade”. Antes de trazer à tona o teor revelado no terceiro volume escrito por Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim (1486-1535), expõem-se em tempo que ele poderia ter sofrido com uma suposta inquisição liderada pelo Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, católico ao ponto de ir em Roma bater na porta do “Vaticano” (ainda não existia) para tirar do Papa Clemente II qualquer inclinação de concessão para anular o casamento de Henrique VIII da Inglaterra (responsável pela reforma inglesa) com sua tia, Catarina de Aragão. Porém, apesar da nítida bravura e defesa da fé, terminou aliviando por piedade a passagem para Lutero iniciar suas traduções da Bíblia ao alemão (leia-se início da maquinação protestante) ao ponderar o Édito de Worms de 1521 pela Dieta de Espia em 1526, motivo pelo qual toda anedota de perseguição da Igreja Católica aos ocultistas da época só revela o empenho ardiloso para envolver o catolicismo em qualquer conflito que possa ter existido, para isso, utilizando-se da verossimilhança na influência de conclusões precipitadas. Ao contrário, partindo da reforma luterana, milhares de católicos e anabatistas foram trucidados muito antes de iniciar a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Na verdade, aquele ocultista sofrera perante os luteranos, uma vez que até foi conselheiro e historiador a serviço de Carlos V, conforme memórias de um rosa-cruz contemporâneo. Isso tudo para chegar no ponto de revelar um excerto, escrito por alguém que foi próximo o suficiente de padres, bispos e cardeais, contendo a seguinte explicação: “Os doutores católicos e o povo fiel de Deus decretaram que devemos acreditar e professar que só existe um único Deus verdadeiro, incriado, infinito, onipotente, eterno, Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas, coeternas e iguais, da mais simples essência, substância e natureza. Esta é a fé católica, esta é a religião ortodoxa, esta é a verdade cristã: que nós adoramos um Deus em trindade, e trindade em unidade, não confundindo as pessoas e não dividindo a substância”. Pouquíssimos filósofos ou teólogos conseguiriam alcançar tamanha precisão com os recursos literários da época, exceto por uma experiência verdadeira com tal realidade. Continuando: “O Pai gerou o Filho a partir de toda a eternidade e lhe deu sua substância e, no entanto, a conservou em si. O Filho também, sendo gerado, recebeu a substância do Pai, mas não assumiu a pessoa apropriada do Pai; pois o Pai não a trasladou ao Filho; pois são ambos da única e mesma substância, embora de pessoas diferentes. Esse filho também, embora coeterno com o Pai, gerado da substância do Pai antes do mundo, também nasceu no mundo a partir da substância de uma virgem, e seu nome foi Jesus, Deus perfeito, de uma alma razoável e carne humana, quem em todas as coisas foi homem, exceto no pecado”. Verdade que havendo São Tomás de Aquino, procurar nos volumes não específicos de teologia essas colocações é praticamente buscar uma agulha no palheiro, porém, prossegue-se: “Por isso é necessário que acreditemos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem, uma pessoa, duas naturezas; Deus gerado antes do mundo sem uma mãe, de uma virgem pura, antes e depois de seu nascimento; ele sofreu na cruz e morreu, mas na cruz restaurou a vida e destruiu a morte com sua morte; foi sepultado e desceu ao Inferno, mas libertou do Inferno as almas dos Pais, e ressuscitou por seu próprio poder; no terceiro dia subiu aos céus e enviou seu espírito consolador, e virá para julgar os vivos e os mortos; e quando ele vier, todos os homens ressuscitarão em carne e prestarão contas de suas obras”. Claro que quem compilou esses textos, ainda mais numa editora deveras tendenciosa, recheou o trabalho alheio de notas desprovidas de provas ou mesmo de contextualizações que pudessem sustentar a necessidade do autor em transcrever quase literalmente o Credo dos Apóstolos tão somente para conseguir publicá-lo em um período extremamente conturbado. Mas ele continua: “Essa é a fé verdadeira, da qual, se qualquer homem duvidar, e não acreditar com firmeza, estará longe da esperança da vida eterna e salvação”. Aliás, hoje, muitos autores praticamente escrevem “parasitariamente” um livro todo como “prefácio” ou “comentários”, justamente por não conseguirem promover seus próprios pensamentos sem que escalem os de outros, revelando um método de subversão constante até mesmo nas edições mais modernas da Bíblia de Jerusalém. Assim sendo, muitos autores do “oculto” na Idade Média e Renascença mais eram inclinados à medicina ou trabalhos metafísicos do que os famigerados rituais de magia negra ou manipulação de corpos sutis. Evidência sobre a obra de médicos de outrora, herdada ou repassada a pessoas de confiança, é a adoção do Cajado de Esculápio (Asclépio) como símbolo da arte da cura, cujo significado seria: a) bastão como Árvore da Vida ou reinado do espírito sobre o corpo; b) serpente como renovação (dado pela alusão à troca de pele), “adivinhação” (semiologia, dada pela leitura dos sinais, porém, conforme a “antiga crença”) e a morte ou remédio (posteriormente à atenuação do veneno). Tudo isso se relaciona com alquimia, menos como a forma imaginativa da atualidade e mais como realização científica anterior à convenção compulsória da pretensa elite intelectual da Royal Society e Cia. Ltda. Entretanto, para todo caso, observa-se presente nesta simbologia sua referência não apenas aos antigos deuses gregos, donde o juramento até determinada época era prestado pelos bacharéis ao tomarem tais divindades por testemunhas, mas uma claríssima correlação às instruções de Deus para Moisés, constantes no versículo oitavo do capítulo vinte e um no livro de Números. Portanto, aqueles que buscam salvar vidas e cuidar dos doentes não podem ser considerados magos, bruxas e satanistas. Mas se uma atividade maquina contra a humanidade, removendo-lhes as portas do conhecimento ao oferecer uma estreita chaminé para adentrar aos mistérios dos homens em associação, sabe-se lá em favor de quem, resta dizer que sua operação foi concluída sob auspício de forças das trevas. São João da Cruz, Doutor Místico da Igreja, no sexto ponto do vigésimo segundo capitulo do segundo livro de “A Subida do Monte Carmelo”, opera a “magia branca” que somente os humildes vão entender: “Se queres que eu te manifeste alguns assuntos ou coisas ocultas, põe unicamente os olhos n’Ele e encontrará mistérios, e sabedoria, e maravilhas de Deus, segundo o testemunho do Apóstolo (Cl 2, 3): O Filho de Deus, no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento de Deus. Esses tesouros da sabedoria serão para ti muitíssimo mais elevados, saborosos e úteis do que tudo que poderias desejar conhecer. E por isso o mesmo Apóstolo se glorificava, quando dizia (I Cor 2, 2): Porque julguei não saber coisa algumas entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E se também queres outras visões e revelações divinas ou corporais, olha-O também, feito homem, e nisso acharás muito mais do que pensas, porque também diz o apóstolo (Cl 2, 9): Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Ocultismo: Contextos e Controvérsias. Enquirídio. Maceió, 21 out. 2023. Disponível em https://www.enquiridio.org/2023/11/ocultismo-contextos-e-controversias.html.
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