19.10.19

Limites da Co-Criação Quântica

Quântico agora virou adjetivo genérico para rotular produtos imateriais como palestras e tutoriais holísticos, principalmente na promoção de estados elevados de consciência para tomadas de decisões baseadas nas próprias realidades quaticamente criadas. Noutras épocas, fenômenos assim eram estudados discretamente, justamente para ninguém disto tirar qualquer proveito. Assim também agiram os cientistas por curto tempo, embora agora tentem explicar este fenômeno, talvez pela notável proliferação do assunto, apesar do estudo ainda estar sendo desenvolvido.

A Epítome Ontológica Universal
Entender o significado de quântico é complicado e requer estudos aprofundados em literaturas específicas das áreas da física. Livros intermediadores são alternativas que conseguem conduzir os leitores ao raciocínio necessário para compreenderem este fenômeno que ainda não possui conclusão definitiva.

Noutra postagem este Enquirídio tentará esmiuçar um pouco a teoria quântica, buscando agora alertar o leitor sobre aquilo que nem trisca na definição correta, começando pelos desserviços prestados pelos terapeutas holísticos ao prometerem realidades alternativas ou poderes sobrenaturais sem medirem possíveis consequências.

Dentre tantos produtos quânticos, talvez "Lei da Atração" seja o mais conhecido, principalmente por abstrair a realidade ao afirmar que pensamento e matéria são quase sinônimos. "Penso, logo obtenho" soaria apropriado para reduzir o conceito desta vertente criativa. Contudo, quando alguém visualiza aquilo que deseja, sabendo que pensar apenas não adianta, realmente co-cria sua realidade interagindo com forças latentes neste "recém" descoberto universo quântico?

Visualizar não implica em co-criar. Significa apenas que informações já convencionadas foram reproduzidas mais fielmente num determinado contexto, seja virtual ou real. Trazer à mente uma realização visual pressupõe conhecer os objetos daquela realidade. Noutros termos, ninguém deseja possuir determinado veículo sem conhecê-lo previamente. Tente pensar num "shigronix" e depois reflita sobre sua forma, cores, dimensões... Mesmo no Google você não encontrará nenhuma referência acerca deste termo pela simples ausência de convenção comunicacional.

Imaginar um automóvel vermelho pressupõe conhecer aquela cor. Igualmente, visualizar uma Ferrari (embora existam modelos em amarelo, roxo, azul etc.) requer ter visto ao menos um modelo deste veículo. Assim sendo, memórias são acionadas quando se pensa, sendo a ação criativa a partir dali mera deliberação mental, uma vez que dificilmente conseguirá reproduzir todos os aspectos visuais do objeto e contexto, incluindo a si mesmo como primeira ou terceira pessoa na realidade co-criada virtualmente - paradoxal!

Talvez o esforço meditativo seja válido e eficiente, principalmente para fomentar o intuito de busca pelo objeto desejado, embora disto devesse ser desencadeado um conjunto de ações necessárias à concretização ao invés da manutenção do estado inercial do desejo. Significa que imaginar e viabilizar sejam fatores co-criativos, capazes de estimular o universo a realizar vontades? Talvez não neste plano, principalmente se baseado na mecânica quântica, sobretudo quando revela fenômenos como estados de sobreposições ou múltiplas possibilidades sem maiores explicações.

Muita gente compreendeu que poderia ser criado uma realidade alternativa a partir da observação, justamente depois de conhecerem o famoso experimento da dupla fenda. Visualizar e criar, portanto, seriam sinônimos, uma vez que foi provado algo neste sentido através de experiências realizadas com elétrons, cujos comportamentos físicos variavam pelo simples fato de serem observados. Enquanto eram medidos, agiam artificialmente como partículas, agindo naturalmente como ondas na ausência de medição. Seria a vontade de ver motivo suficiente para criar corpúsculos?

Primeiro que medidores não possuem vontade (admitem aquilo que recebem como programação). Segundo que elétrons são apenas partes de coisas maiores, estudados e aplicados melhormente pela mecânica quântica, embora ainda prevaleça aquilo que pertine à física clássica, principalmente se tratando de objetos tangíveis. Apesar desta concepção descartar a visualização como ferramente co-criadora, permanece ciente da natureza vibracional que praticamente determina toda existência, passível de interferência inconsciente e subjetiva.

Inexiste, portanto, consenso a respeito da entidade que observa e consegue colapsar o estado de onda para matéria do quanta. Talvez o homem seja realmente egocêntrico demasiadamente para cogitar um observador superior, sendo fenômenos como aqueles do experimento da dupla fenda apenas um indício da existência de um verdadeiro criador que permite ser observado através destes paradoxos: "quando não olho, logo está em tudo, porém, olhando, parece estar bem ali". Dessa forma, ninguém, salvo por intermédio de potência supra-humana, consegue criar sua própria realidade.

Adiante, moralmente falando, conceber uma realidade própria implicaria necessariamente em verter, dobrar o universo em direção de apenas uma vontade. Imagine que todos agora quisessem o mesmo! Sinceramente, somente uma entidade superior teria capacidade para isso, uma vez que nenhum ser conseguiria se abster de desejos em função dos demais semelhantes. Justamente pelo fato de desejar, precisa o homem desse poder co-criador, pois está transbordando de vontades que gostaria de saciar rapidamente, colapsando o pensamento no objeto cobiçado.

Verdade seja dita: existem inúmeras belezas nas experiências quânticas. Também existem brechas para hipóteses que não são tecnocraticamente científicas, motivo pelo qual teóricos, pensadores, estudantes se desafiam a questionar, pensar e cogitar, porém, afastando-se de atalhos mentais deterministas que resumiriam suas indagações em perda de tempo. "Penso, logo obtenho" jamais será quântico, justamente pela ausência de esforços, falta de conhecimentos específicos e egocentricidade que olvida completamente a possibilidade do observador universal ser único criador.

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