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Arnold Böcklin. A Ilha dos Mortos. |
3. Um universal, como é a vida, existe no ventre da mulher grávida até que, por uma infelicidade, possa sofrer um aborto espontâneo, onde o bebê, de fato, já não tem os atributos do que se nota por vivo — motivo pelo qual, optativamente, este blog evita as teses sobre limbo na teologia católica (assunto para outro tópico).
4. Quando o debate a respeito dos universais se dá em planos de cores ou formas, parece frívolo, mas se são qualidades de algo, logo a vida é o máximo atributo ao homem, que sem tal, não poderia ser considerado como humano, mas uma coisa banal, como um copo de cerâmica, desprezível ao se espatifar no chão. Semioticamente, tratar-se-ia de um pensamento de primeiridade ou secundidade, ou seja, relativos às percepções primárias (cores e formas) e contexto de aplicação (vermelho e maçã), onde se nota as relações de causa e efeito que, por uma falsificada reverência científica, não são outra coisa além de meras probabilidades estatísticas, capazes por si mesmas de descreverem a realidade. Assim é que o embrião não poderia ser notado como vivo para todo ockhamista (adeptos da Navalha de Ockham como “princípio da parcimônia”), pois, embora probabilisticamente maioria destes se tornem bebés vivos, estatisticamente há margens para afirmar que ele ainda nasça sem vida, motivando teses jurídicas de que não se poderia conceder tutela para algo dúbio. Na França, aborto (infanticídio intrauterino) se tornou direito constitucional em 2024, ou seja, fundamental às estruturas de soberania daquele Estado, o que não é outra coisa além da pura burrice ou desejo de impor um suicídio nacional, uma vez que, precisando suprir demandas por mão-de-obra, importou isto através de um processo de imigração complexo, trazendo pessoas de outras nações, incluindo suas culturas e religiões, como é o caso de milhares de muçulmanos, que por manterem altas taxas de fertilidade, terminarão dominando aquela região em algum tempo. Afinal, “nada mais justo”, já que ao nominalista o que é nominalismo.
5. Em “Kosmos Toétos”, Ivo Assad Ibri, observando as implicações nominalistas ao abordar questões semióticas da terceiridade, diz que “Um mundo que não permite que o intelecto generalize é um mundo caótico, constituído por individuais por si e para si”, descrevendo já em 1992 as decorrências muito contemporâneas que são observadas numa sociedade eugenista (confira o artigo a respeito na sequência). Mas ele prossegue explicando: “A ausência de relações gerais e reais que têm permanência no tempo configura um mundo de existentes particulares de conduta imprevisível, no qual, sequer talvez, o nome das rosas tenha qualquer significado, pois planejar hoje dar amanhã uma delas a alguém, na intenção da homenagem, poderá ser presentear um objeto com o perfume do pior dos esgotos”. Conclusão brilhante, que não ousaria retocar sequer uma vírgula, mas que não poderia olvidar de relacionar às lições de Confúcio, por sua anterioridade indiscutível, neste exato ponto: “13.3 Zilu disse: ‘Digamos que] o governante do país de Wei esteja esperando o Mestre para que ele governe [o país]. O que o Mestre faria primeiro?’. O mestre respondeu: ‘Não seria necessário ‘Retificar os Nomes’?’. Zilu disse: ‘Como [é possível] o Mestre ser retrógrado [a esse ponto]! Por que haveria de se ‘Retificar [os Nomes]’?’. O Mestre disse: ‘Como You é tosco! O homem Nobre talvez deva ter uma atitude de reserva com relação ao que não sabe: se os nomes não estão corretos, o falar não é fluente; se o falar não é fluente, os atos não se completam; se os atos não se completam, os Ritos e a Música não surgem; se os Ritos e as Músicas não surgem, as penas e a punições não alcançam sua [justa] medida, o povo não [sabe] onde pôr os pés e as mãos. Portanto, o Homem Nobre, ao dar a algo, necessariamente deve ser capaz de comunicá-lo [a outra pessoa]. Ao comunicá-lo, deve ser capaz de agir de acordo. O Homem Nobre, com relação ao seu falar, não tem displicência alguma, e isso é tudo’.”. Trata-se de resposta à questão anterior, qual seja: “12.11 O duque Jing, do país de Qi, perguntou a Kongzi sobre [como] governar. Kongzi respondeu: ‘O governante deve ser como um governante, o ministro como um ministro, o pai como um pai, o filho como um filho’. O duque disso: ‘Bom! De fato, se o governante não for como um governante, um ministro não for como um ministro, o pai não for como um pai, o filho não for como um filho, mesmo que houvesse cereais, eu conseguiria comê-los?’.”. Ambos os trechos, tirados de “Os Analectos”, da Editora Unesp, revelam que tal problema não era novidade aos chineses quando surgiu primeiramente para Al-Ghazali com “seu” asharismo, para depois chegar ao Ockham com “seu” nominalismo. 6. Quando Kongzi (Confúcio) diz que uma coisa deve ser como uma coisa, quer dizer que existe uma forma para a qual algo deva corresponder. Se um vivente deve ser como um vivente, significa que condições precisam ser cumpridas para que algo seja por esse modo reconhecido. Evidentemente, as atribuições de um soberano, ou de assessores na regência de um Estado, partem sempre de convenções formuladas, motivo pelo qual, embora soem como atributos e contenham verdades universalizadas evidentes (como é a ordem ou mesmo a virtude), diferem do que se entende por universais. Todavia, se as palavras perdem significado, os homens perdem liberdade, corroborando o esclarecimento de Ibri ao revelar um mundo caótico, composto por particulares (individuais) autocentrados, onde cada qual, nestes termos, encontrar-se-ia autorizado a observar em si mesmo as medidas próprias aos demais, embora isto já tenham um nome agora, qual seja, hedonismo, caracterizado pela declaração “fugir da dor em busca do prazer”. Depois, se há “atitude de reserva” em face do desconhecido, corroborar-se-ia bastante se afirmada tal questão aos cientificistas do presente ao postularem um relativismo (não confundir com relatividade) acerca de um particular conta um outro, capaz de destituir da aparente verdade aquele primeiro. Assim é que o autor de “Kósmos Noétos” expõe: “Centrar no intelecto o poder de organizar os individuais é destituí-los, enquanto fenômeno, de seu traço experiencial básico — a alteridade”. Ou seja, alteridade, capaz de negar representações (fórmulas matemáticas equivocadas), e a generalidade, “que a faz extensa do tempo e predicado da multiplicidade de individuais” (equação gravitacional), corroboram as características da realidade. Infelizmente, conforme Charles Sanders Peirce (1839-1914) sabia, contra os nominalistas, “Se os fatos não concordam com a Teoria, pior para eles. São maus fatos. Isto soa-me infantil, confesso. É como uma criança que agride um objeto inanimado que a machuca”, conforme seus escritos de Semiótica (aferível pela coleção Estudos, da Editora Perspectiva). Friederich Nietzsche (1844-1900), em um mesmo século, disse que fatos não existem, mas tão somente interpretações. Também afirmou algo como “Deus está morto”, que era uma maneira de implantar a forma de pensar niilista para acabar com o que é absoluta verdade, prosperada pelo cristianismo (leia-se Igreja Católica), embora a gravidade se mantenha firme e forte. Alguém poderia afirmar que não foi Deus que criou essa força, enquanto procura arrumar na mente uma teoria de causa e efeito, baseada em eventos de bilhões e bilhões da anos atrás, porém, convergindo sempre a algum outro (evento) original e singular (como um tipo de marco inicial), enquanto se distancia da filosofia natural, que não rejeita o que é divino, daquele que descreveu um fenômeno que relacionou tanto a queda da maçã na própria cabeça, quanto a órbita de luas em Júpiter. Também, tanto o nominalismo quanto o niilismo, separados por séculos de distância, mantêm uma premissa equivalente contra uma única coisa, que é uma moral geral. Afinal, quem pode imputar ao mero cair da pedra como sendo algo imoral? Porém, o que é anterior a essa queda, se de causa espontânea ou intencional, torna-se predicável na medida em que um fato se relaciona com um ato: se isento de vontade, confirma-se espontaneidade, ainda que advinda de um animal, posto que não possui racionalidade, porém; se advinda do homem, afere-se intencionalidade, donde o direito já se complica em demasia para determinar se culposo ou doloso no caso de algo factual condizer com uma conduta descrita na legislação de um país, mesmo que esta não seja baseada na verdade, mas tão somente na convenção por maioria. Assunto extenso, diga-se de passagem, mas que não pode gerar intimidação e ausência de tratamento.
[...] um ideal de ficta particularização em detrimento da veracidade da real universalidade, corrobora um só ponto, qual seja, de que as simplificações impregnadas no occamismo implicam quereres pessoais, relativizáveis por desregramentos sistemáticos, contra o que é verazmente existente, de que as coisas não teriam significados inerentes, mas tão somente atribuídos pelos indivíduos.7. Ockham não pensava que inexistiam os universais; apenas não queria que algo não mutável e etéreo pudesse afirmar verdades concretas. Se um árabe, um chinês e algum grego se encontrassem, talvez na Idade Média ainda, diriam, respectivamente, “نبات (nabat)”, “植物 (zhíwù)” e “φυτό (fytó)”. Verdade que poderiam se estranhar antes disso, ainda mais pelos conflitos regulares naquele tempo, porém, ao apontarem todos ao objeto pronunciado através dos próprios idiomas, certamente perceberiam que comunicaram um só ente: planta. Se os três tivessem que descrevê-la, por uma perspectiva, ainda iriam tratar de partes iguais de coisa única, bastando a tradução para resolver a questão — feitio que não era fácil durante o medievo. Entretanto, um poderia realizar descrições acerca do vegetal por uma memória climática, talvez de um outono regular, quando as folhas, ao invés de esverdeadas, observam-se muito secas, amareladas ou em tons de terra. Neste ponto, podem confundir aspectos com essência ou acidentes com substância, mas não perante um desenho, onde os olhos, apropriados por uma experiência que contemplou aquela “versão” de “nabat”, “zhíwù” ou “fytó” pela passagem das estações, identificariam a verdadeira natureza daquilo que foi descrito pelas cores e formas, o que já não é possível conceber em termos de embrião ou mesmo de Deus. Como seria possível ilustrar um bebê em um estágio muito inicial de formação sem que uma representação embrionária fosse feita? Também, sem que Jesus Cristo tivesse sido revelado, como tratar de maneira objetiva aquilo que é uma onipresença, onipotência, onisciência constante na eternidade? Mas não é pelo fato de haver algum limite descritivo que não exista o que a mente não possa conceber e reproduzir verbalmente. Assim é que a vida e o que lhe confere vivência são excluídos pela Navalha de Ockham, pois como tudo, perante a “ciência” (leia-se cientificismo), precisa ser testado e provado pela “raça humana”, ainda assim probabilisticamente e através de estatísticas (enviesadas e tabuladas equivocadamente em diversas pesquisas, vale dizer), este não faz por outra coisa além das próprias limitações, motivo pelo qual tornou o mundo de agora em um lugar menor e hostil, beirando o inóspito — o que não é nenhuma novidade para pessoas de fé. As palavras expressam o que é próprio da realidade. Se representam concepções individuais, precisarão ser convencionadas e memorizadas coletivamente. Ainda que sejam feitas em grupo, alguém deve lançar ideias e outros tantos, pela mera adesão, podem e/ou devem colaborar com ajustes, adicionando melhoramentos ou removendo imperfeições, porém, segundo o propósito desta invenção, material ou etérea, seja como liquidificador ou ideologia, ainda assim limitada à função e à inteligência no tempo e espaço, mesmo que perdure. Destarte, embora uma pessoa do sexo masculino se descreva por características de mulher e conste estas informações em biografia, na autópsia restará evidente que era homem por sua estrutura óssea conter elementos que não existem numa ossada feminina, concluindo-se que um ideal de ficta particularização em detrimento da veracidade da real universalidade, corrobora um só ponto, qual seja, de que as simplificações impregnadas no occamismo implicam quereres pessoais, relativizáveis por desregramentos sistemáticos, contra o que é verazmente existente, de que as coisas não teriam significados inerentes, mas tão somente atribuídos pelos indivíduos.
8. Não é que uma explicação não precisasse ter que passar por uma simplificação até ser possível alcançar a fruição daquilo que foi percebido e descrito. Noutros termos, Isaac Newton (1643-1727) não inventou a gravidade, mas por descrever esta força gravitacional, entidade já existente para além daquilo que poderia conceber, permitiu a produção de foguetes séculos depois, o que é científico. Porém, o que a história moderna faz questão de ocultar é a pesquisa metafísica deste cientista (dentre outras coisas), que, embora se encontrasse entre protestantes, possuía genuína inclinação aos enigmas divinos, mas que não seria tema para agora. Interessava-lhe compreender o espaço e tantos corpos quanto fosse possível, motivo pelo qual conclui em “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural” serem “As forças pelas quais os satélites de Júpiter são continuamente desviados dos movimentos retilíneos e mantidos nas suas respectivas órbitas são dirigidas para o centro de Júpiter e são inversamente proporcionais aos quadrados das distâncias das suas posições àquele centro.” (página 659 da edição da Fundação Calouste Gulbenkian), concluindo-se, desde lá, aquilo que ficou conhecido pela equação F=G.(M1.M2)/R2, mas que isto, esta composição de letras, sinais e números, não é o que efetivamente se compreende por algo que realmente acontece, sendo, como se vê, mera descrição da realidade, mas sem que, desta forma, diminua-se importância ou eficiência de projetos, fabricações e operações de aeronaves.
9. Poder-se-ia negar a força gravitacional? Não, mas não porque ela foi descrita, mas por, antes disso, sempre ter existido. Os nominalistas diferenciam isto de Deus não por uma necessidade de confirmação, mas de uso. Como o que é divino não causa fruição na orientação hedonista, inibindo-se inovações quanto aos dogmas da fé, donde a moral nunca se altera em proveito de qualquer produção humana, mantem-se constante em Jesus Cristo. Trata-se no nominalismo de imperativos excludentes, mas de quê? Se os universais não interessam, o que é desinteressante é a regra geral, donde cada qual, agora, resta livre para fazer aquilo que deseja, impondo suas próprias condições — o que é não somente anárquico, mas uma insanidade generalista de todos contra todos. Se dizem que matar é pecar (no sentido de indicar um desvio à ordem das coisas como foram divinamente posicionadas) contra quem criou os seres, antes de ser um crime contra outrem, vê-se na conduta criminosa não apenas uma atitude sórdida, hedionda, mas uma complexa sucessão de acontecimentos cujos regramentos não conseguem solucionar um problema que prejudica corpo, mente e alma generalizadamente, donde o que é passado pela vítima poderá ocorrer com qualquer outra pessoa, motivo pelo qual, embora exista uma lei muito clara sobre conduta socialmente indesejada e a punição possível para tanto, matar ainda é ação contra algo maior, que não poderia ser particular, mas tão somente universal, resvalada em individuais.
10. Não é que exista óbice ao individual, mas uma forma de pensar nominalista tende adotar uma postura psíquica centrípeta, baseada em limitações individuais e distantes de figuras maiores, transcendentes. Não à toa, apresentam-se imanentistas para além de extremos políticos, o que é próprio do niilismo, derivado de um patente hedonismo.
11. Vale dizer que toda essa questão também excedem os limites da filosofia e deslizam em aspectos políticos, motivo pelo qual alegam inexistir uma solução para essa tema do realismo contra nominalismo. As sociedades, cujo seus pensadores acreditam que sobre tal objeto exista qualquer disputa, deveriam já produzir seus atestados de óbito. Afinal de contas, certas nações, só de questionar a realidade, invertendo a disposição da observação, que descreve um fenômeno, pela conjectura, que relativiza um fenômeno, encontram-se em simulações que não conseguirão se sustentar por muito tempo — como é o caso da França, assim como países influenciados pela mentalidade hedonista, pois esta, agindo de mútua forma, tanto é causa, como se torna consequência pela persistência na sociedade.
12. Por fim, posições como as de Ockham, Nietzche, Fadden, sendo este último autor dor livro “A Navalha de Ockham”, colocam teologia contra ciência, mas que não passam de ateísmos plenamente refutáveis, donde até Gregor Mendel (1822-1884), frade agostiniano e considerado precursor da genética, terminou com sua biografia relativizada pela suposição infundada de que muito sofreu ao inferir que a sua descoberta (através de exames em ervilhas para compreender suas variações) poderia ser contrária aos dogmas da fé. Ninguém poderia duvidar, ao menos um católico firmado na Santa Igreja e ciente da realidade moderna, da existência de sacerdotes realmente descrentes, inclinados às maldades, porém, apesar do ativismo ateísta, atualmente habemus papam que tem seu bacharelado em matemática e é, como foi o “pai da genética”, membro da Ordem de Santo Agostinho, que, por sinal, tal santo muito bem pode ser tido por “pai da semiótica” sem qualquer problema, embora Peirce tenha, pelo real rigor científico e empenho em não se distanciar da realidade, aprofundado esta ciência dos signos com bastante prudência, sobretudo contra as origens e causas nominalistas. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Entendo o Nominalismo. Enquirídio. Maceió, 07 set. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/09/entendo-o-nominalismo.html.
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