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Eric Enstrom. Graça. |
2. Oferecimento de obras, por sua vez, quer dizer glorificar a Deus e, para isso, realizar aquilo que São Paulo diz: “Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Col 3, 17). Também significa santificar, pois, para fazer algo ao agrado de Nosso Senhor, deve-se fazer como Ele quer.
3. Então, seria possível oferecer a mortificação como obra a Deus? Sim e não. Conscientemente, alguém pode rejeitar um luxo ou prazer como oferta a Nosso Senhor no intuito de recusar a sobremesa ou horas de filme para estudar a Sagrada Escritura e, chegando o momento, cumprir com o que propôs, mas tal não seria uma promessa?
4. Não é uma questão simples e depende do coração de cada um. Quem pode sondá-lo senão apenas Nosso Senhor? Porém, se servir de reflexão, deve-se pensar se rejeitar um luxo ou prazer como oferta a Deus não seria uma maneira de prometer para si só os benefícios dessas recusas, tendo Jesus Cristo como testemunha desses esforços.
5. Ao contrário, certamente quem necessita da ajuda divina, ou seja, todo mundo a todo tempo, compreende o compromisso para com Deus, oferecendo mesmo o que é mortificação, motivo pelo qual, agora, cumpre refletir: seria isso mesmo mortificar? Observe o que é posto no ponto 173 de “Caminho” de São Josemaria Escrivá:
Essa frase feliz, a piada que não te escapou da boca, o sorriso amável para quem te incomoda, aquele silêncio ante a acusação injusta, a tua conversa afável com os maçantes e os inoportunos, o não dar importância cada dia a um pormenor ou outro, aborrecido e impertinente, das pessoas que convivem contigo… Isto, com perseverança, é que é sólida mortificação interior.6. Inclusive, antes que alguém pense numa ideia de mortificação extensiva: “Procura mortificações que não mortifiquem os outros.” (Caminho, 179). Padre Paulo Ricardo explica a mortificação como ativa e passiva, onde esta é como no trecho citado acima e aquela mais como oferecimento de obras enquanto necessidade de santificação. 7. Assim sendo, premeditar a mortificação pode ser parte ativa de quem, sabendo o que lhe é mortificante, dispõe-se a fazê-lo para santificar a si e ao contexto no qual se está, mas sem cair no ego, orgulhando-se de realizações extraordinárias, como quem se declara virtuoso ou mesmo um santo — o que tem a ver com um “eu” ao invés de Deus.
8. Porém, sendo ao certo um juízo deste Enquirídio, parece mais voltada à santidade a mortificação passiva, exempli gratia, dada pelo silêncio diante da injustiça contra si mesmo ou da ação feita contra vontade, quando se poderia ficar inerte, do que um ato de abdicação que pode não contribuir à santificação, embora implique em algum esforço.
9. Quem como Nosso Senhor se levanta ao amanhecer e constata “hoje serei cuspido e açoitado pelo amor de Jesus Cristo”, de fato se propõe à mortificação que aguarda todo cristão, mesmo que nas formas mais brandas, dadas pelas humilhações. Mas não diga que mata os maus ímpetos ao deixar de saborear um sorvete em nome da santidade.
10. Se as mortificações forem como estas, qualquer unha do pé quebrada por desatenção ao batente seria mortificar. Não! Dai graças a Deus em todas as coisas! Pede aos Céus para se livrar daquela tara política quase idólatra, premedita não ver noticiários inflamados, oferece como obra o fazer e evita o mal por devoção a Jesus Cristo.
11. Fazer por Jesus Cristo já significa mortificar se nisso for feito devotadamente. Devoção que implica negar-se a si mesmo, assumindo a medida de Nosso Senhor como único meio possível, pois, quantas vezes o simples querer pessoal se vê contra a vontade de Deus? Neste ponto é que a mente devota se vigia em mortificações passivas cotidianas.
Assim é que a mortificação requer premeditação: para glorificar na medida da ocorrência os desígnios de Deus.12. Na iminência do “eu” se revelar pelo mero capricho ou mesmo na legitimidade contra humilhações, mortifique-se para que Ele seja em ti ao invés de um ti por si sem Ele — mas não é algo fácil de fazer! Assim é que a mortificação requer premeditação: para glorificar na medida da ocorrência os desígnios de Deus. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Mortificação Premeditada. Enquirídio. Maceió, 15 fev. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/02/mortificacao-premeditada.html.
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