11.9.24

Investigação Cartesiana VII

Definitivamente, Padre Paulo Ricardo, através do programa Studiositas, encontra um primeiro subversor do pensamento cartesiano, mas não somente, posto que tinha por objetivo remover as concepções de René Descartes (1596-1650) na constituição da ciência isenta de Deus.
Imagem por I.A. René Descartes e a "Rosa-cruz" de Baruch Espinoza.
1. Primeiramente, questionar-se-ia se poderia uma ciência ser convencionada se ao menos as Instruções ao Pensador V não dispusessem do estritamente superficial acerca do assunto para afirmar sua validade. Neste ponto é que o crítico de Descartes ganha terreno ao deturpar sua metafísica imperfeita, como dita pelo autor.

2. Resumidamente, para evitar o pseudodebate academicista, Baruch Espinoza (1632-1677) em “Princípios da Filosofia Cartesiana e Pensamentos Metafísicos” procura traduzir o trabalho de Descartes, ao que se observa a subversão do original intento cartesiano no “Discurso Sobre o Método”, que, inclusive, expõe o pudor do autor sobre sua obra.

3. Descartes acreditava que sua experiência, sendo por ele compartilhada, pudesse chamar a atenção de colaboradores dispostos a continuarem observando seu método, mas que encontrou em Espinoza justamente o ímpeto de deturpar, donde aquilo que conclui ao analisar o cartesianismo não é o que foi concluído orginalmente.

4. Como foi posto por Padre Paulo Ricardo no programa Studiositas, Espinoza, advindo da tradição judaica e certamente influenciado pelas concepções talmúdicas, cabalísticas dentre outras, difere-se de Descartes desde o início, uma vez que este teve educação católica, mesmo que não fosse lá grande cristão, porém, melhor pessoa que aquele.

5. Ao menos em carta ao Padre Marin Mersenne (1588-1648), Descartes confirma continuar católico, sendo capaz de chegar a "conclusões catequéticas" em “Meditações Metafísicas” como “pela natureza [...] agora não entendo outra coisa a não ser o próprio Deus, ou então a ordem e a disposição que Deus estabeleceu nas coisas criadas”.
Descartes a Mersenne (Instauratio Magna).
6. No ponto 1704 do Catecismo da Igreja Católica foi colocado que “Pela razão, [a pessoa humana] é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecidas pelo Criador”. Conclusão que justifica Descartes continuar católico? Não, mas são termos que o afasta com absoluta certeza do incompatível pensamento rosacruciano anticristão.

7. Espinoza, por sua vez, instrumentaliza o conhecimento, elaborando um embuste conceitual onde a ideia do Deus veraz, criador e conservador da natureza humana como verdade, removeria a necessidade de um método de dúvida, uma vez que bastaria se valer da agudez mental sobre todas as coisas no intuído de concluir serem certas.

8. Se expulsaram Deus da ciência, quer dizer que nunca Espinoza ou qualquer um conseguiu reduzi-Lo a mera ideia. Se já provaram a verdade nos triângulos por convenção na existência de um deus ideal, compatível com propósitos racionalistas, descartá-lo foi uma última etapa, como se fosse um cartucho no qual apenas o projétil importa.

9. Finalmente, adotando essa razão cega de Espinoza, no qual um atirador de olhos fechados acertaria um alvo ao se valer só da agudez mental (projétil), atesta-se que uma ciência isenta de Deus só comporta ideologias e a gradativa perda da função ao passo em que se observa a travessia do racionalismo ao idealismo até que, enfim, ambos morram.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Investigação Cartesiana VII. Enquirídio. Maceió, 11 set. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/09/investigacao-cartesiana-vii.html.

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