3.8.24

Caça às Bruxas — C.I. #02

Daí ele diz: “mas o que tem de mal em Harry Potter?” — nada, quem sabe. Porém, se um exorcista busca alertar sobre uma obra, livro ou filme, será que não seria importante ao menos escutá-lo? Adianto nesta carta que muito dos princípios da bruxaria já permeiam as mentes cristãs sem que saibam.
1. Bruxaria é assunto que cresce muito no mercado editorial e nenhuma editora gostaria de publicar livros difíceis de vender, certo? E o que é mais fácil de tirar das prateleiras das livrarias senão obras baseadas em assuntos que não saem da mídia ou do “imaginário” de um público? Aí entra a magia: abracadabra, não, espera... Alohomora!

2. Harry Potter, que até apresenta uma perspectiva interessante da educação emulada por competições entre casas, como os jesuítas também fizeram nas escolas (tudo tinha propósito), de um ponto de vista geral, também lançou uma cultura de curiosidade que transpõe os textos da ficção para algo mais real — e a arte leva a culpa.

     Preciso me preocupar?

3. Assim: nada me preocupa em relação aos que vestem túnicas e somem nas florestas para cozinharem em caldeirões. Preocupa-me os que são enganados e passam a subverter os ensinamento da Santa Igreja. Mas por Harry Potter? Não por uma obra como esta, mas por uma curiosidade que faz movimentar os inimigos da fé.

4. Você acha que a tal “Avada Kedrava” é maldição e “Alohomora” um encanto? Na realidade (lembre das pessoas que querem algo mais real), magia se dá contra a mente e muitas dessas são assim: “[...] a Divindade Suprema era equalizada com o masculino e o feminino... dividida em um Deus e uma Deusa” — “mas isto não quer dizer nada” — Não?

     Mitificação na fé

5. Leia isto: “Nas várias áreas do desenvolvimento humano, vemos que essas representações [deuses] tornaram-se, para os antigos egípcios, Ísis e Osíris; para os hindus, Shiva e Parvati”. Continuo? Olha a magia... Pronto? Sim, salabim: “Para os cristãos, Jesus e Maria”. Ísis, Osíris; Shiva, Parvati; Jesus e Maria, pegou o código?

6. Não ia nem comentar, mas vou: há na Igreja Católica uma corrente que diz que Maria é corredentora, ou seja, redentora assim como Jesus. Papa Francisco já explicou que não existe este “quinto dogma” mariano. Aqui no blog há dois artigos sobre: este e este. Nossa Senhora é o modelo máximo da Santa Igreja, Theotókos, mas não poderia ser uma deusa.

     A bruxaria e o neopaganismo

7. No neopaganismo, tratado por Joseph Ratzinger em “Ser Cristão na Era Neopagã”, lidamos com pessoas que desejam ver, além da ideia de liberdade e fraternidade, também uma igualdade entre o deus e a deusa, conforme “O Livro Completo de Bruxaria” de Raymond Buckland, cujas vendas não param de crescer na Amazon.

8. As bruxas se ocupam do “controle humano das forças da natureza por meio de um poder sobrenatural” e a “bruxaria é a ciência desse poder”, mas não acreditam no demônio, que é uma “invenção” da Igreja Católica, para elas, embora também não descrevam a sobrenaturalidade que intermedia os poderes que utilizam.

9. Sobre Harry Potter, J. K. Rowling, autora dos livros, não tem relação com a tal bruxaria e disse ainda que todas as religiões são representadas na obra; só não as de bruxos como Raymond Buckland. Fique à vontade para conferir as fofocas de internet, mas não deixe de ouvir os exorcistas da Santa Igreja se você se considerar um católico.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Caça às Bruxas — Cartas Inquiridas #02. Enquirídio. Maceió, 03 ago. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/08/caca-as-bruxas-ci-02.html.
Pedro Rocha é católico, casado desde 2014 com Larissa Rocha – temos dois filhos na terra e um(a) com Papai do Céu. Tem por Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) especial admiração, bem como por Dom Henrique Soares. Devoto por São Tomás de Aquino. Aluno de Padre Paulo Ricardo. Bacharel em Direito e Design, cursa nas áreas de Semiótica, Gestalt, Behaviorismo e Simbologia. Mantém particular interesse sobre gêneses e declínios civilizatórios na antiguidade e reflexos na modernidade.
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5 comentários:

  1. Bom dia, gostaria de fazer um pedido, poderia recomendar bons livros sobre a inquisição? desde Já, agradeço.

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    1. Certamente!

      Acredito que um bom livro, muito breve, porém, interessante para começar a entender o que foram os tribunais de inquisição ou mesmo a Santa Inquisição Romana e Universal propriamente dita, atual Dicastério para Doutrina da Fé seja:

      — Para Entender a Inquisição, do Prof. Felipe Aquino.

      Contudo, se você pretende se aprofundar no assunto, existem muitas obras específicas, mas que não são integralmente confiáveis: ou tratam a coisa por mero antagonismo à Igreja Católica; ou glorificam a inquisição como se nenhum excesso e até mesmo barbaridades tivessem sido cometidas.

      Recomendo, para todo efeito, este documento:

      — Carta do Papa João Paulo II ao Cardeal Roger Etchegaray na apresentação do livre que reúne as "Actas do Congresso Internacional Sobre a Inquisição", disponível no próprio site do Vaticano.

      Deixe-me, por gentileza, saber se consegui ajudar de alguma forma.

      Paz e bem.

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  2. Poderia recomendar mais livros, por favor? gostaria de montar um bom roteiro de estudos sobre o tema

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    1. Vamos lá.

      Primeiro, sabendo o que é ser católico (dúvidas podem ser dirimidas no próprio Catecismo da Igreja Católica), deve-se entender um contexto histórico mais amplo, porém, necessário:

      — A Igreja das Catedrais e das Cruzadas (Daniel Rops);
      — A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante (Daniel Rops);
      — História das Inquisições (Francisco Bethencourt);
      — Viver nos Tempos da Inquisição (Anita Novinsky Waingort).

      Honestamente, sem uma compreensão mais dilatada a respeito disto, difícil tratar da coisa. Sobre a obra do Bethencourt, tirando as tendências, também pode servir como parâmetro. Já o livro da Anita é controverso. Na sequência, certamente esse aqui:

      — Malleus Maleficarum (Heinrich Kramer e James Sprenger);
      — Inquisição Espanhola e o Seu Processo Criminal (Mauro Fonseca Andrade).

      Vale a pena entender a contraposição na edição de Rose Marie Murano do Malleus Maleficarum. Já no outro você terá acesso às instruções de Torquemada. Adiante, para todo desembaraço:

      — A Inquisição em seu Mundo (João Bernardino Gonzaga);
      — A Inquisição, História de Uma Instituição Controvertida (Pe. José Bernard);
      — A Verdadeira História da Inquisição (Rino Cammileri).

      Esses três trarão considerações importantes do ponto de vista da Santa Igreja, mas não esgotam a questão. Por fim, recomendo:

      — Joana d'Arc (Régine Pernoud e Marie-Véronique Clin);
      — Joana D'Arc, a Virgem de Orleans (Pe. José Bernard).

      Estes dois últimos retratam uma questão muito estranha na Igreja Católica: uma "bruxa" que se tornou santa.

      Sugiro procurar os sumários destas indicações para perceber quais te servirão mais. Apenas os livros do Daniel Rops, que não serão específicos sobre a Inquisição, ajudam a entender o tempo e espaço, mas que, como dito antes, já há um resumo bom naquele livro do Prof. Felipe Aquino.

      Paz e bem.

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  3. Muito obrigado, Deus o abençoe

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