Política é difícil de entender, pois tudo aquilo que foi escrito acerca disto, sobretudo por autores consagrados como Aristóteles ou Cícero, parece não ter respaldo nos desdobramentos mais contemporâneos, principalmente no contexto brasileiro, extremamente multifacetado, apesar de aparentemente polarizado. Àqueles que desta maneira acreditam numa esquerda ou direita como forças antagônicas de poder, enquanto esta representa o conservadorismo ou liberalismo e aquela o socialismo ou comunismo, resta o lamento e breve explicação sobre a verdade.
Enquanto a maioria das pessoas acredita exercer o sufrágio, isto é, o voto, esquece que tal não constitui um direito, mas sim uma obrigação. Desta forma, devendo toda população escolher alguém, basta o mínimo de esforço para maioria ser canalizada a poucas opções, uma vez que todo candidato deve pertencer a partido político.
Inúmeros desdobramentos políticos são adotados de tempos em tempos ao manejamento de candidaturas que correspondam a determinados interesses, desde desmembramento de partidos em vários outros até coligações partidárias. Contudo, este Enquirídio se reservará no direito de abordar este assunto mais superficialmente.
Diante de um panorama generalizado, quase todas as pessoas no Brasil acreditam que política se resume numa relação muito simples, envolvendo tão somente eleitores e candidatos, embora ainda entendam ao certo a diferença existente entre governo e Estado. Assim sendo, excluem os ideais partidários para apreciarem como parâmetro de proposta tão somente aquilo que dizem os políticos em épocas de campanhas, incluindo prós e contras, evidentemente.
Acontece que não são apenas eleitores e candidatos que formam a política brasileira. Aliás! Cumpre ao Enquirídio evidenciar, mesmo que minimamente, como de fato as eleições são realizadas. Para isso, você precisará saber quem são verdadeiramente os atores do teatro eleitoral nacional, começando pelas empresas, politicamente predominantes nos bastidores, podendo ser confundidas sem equívocos com diretores, roteiristas, figurinistas ou mesmo produtores. Apesar de multinacionais, poderosas por excelência, não têm aquilo que somente o povo possui: direito ao voto.
Como as empresas não podem votar, utilizam uma lei conveniente que obriga todo brasileiro maior de 18 e menor de 70 anos, desde que alfabetizado, votar em alguém que possa fazer algum sentido prático às necessidades que deseja ver supridas. Certamente que podem justificar ausência, embora ainda pareça menos trabalhoso registrar presença nas zonas eleitorais. Neste sentido, sabendo que ninguém apto ao voto será isentado desta obrigação, basta que uma cadeia de multinacionais com interesses nada patrióticos promovam seus candidatos de maneira convincente às pessoas.
Convencer as pessoas sobre um ou outro candidato também seria difícil no âmbito exclusivamente empresarial. Estampar o rosto do político nos rótulos de produtos ou campanhas publicitárias certamente violaria leis eleitorais, sobretudo em época de campanha. Assim sendo, visando tal convencimento, contam com outro segmento empresarial extremamente poderoso para propagarem aqueles que desejam ver sentados nas cadeiras de presidente, deputados, senadores, governadores, vereadores e prefeitos, qual seja, mídia, atriz coadjuvante no teatro político brasileiro.
Através da mídia, artistas ou mesmo propagandas indiretas (como pesquisas de intenções de votos ou matérias escandalosas patrocinadas) formam o imaginário das pessoas acerca daquilo que colocam como bom ou ruim em termos de candidaturas. Muito dinheiro é envolvido numa eleição, uma vez que aqueles que ocuparão os cargos executivos e legislativos serão responsáveis por conduzirem políticas que possam representar maior ou menor empecilho ao empresariado, interessado primário nos contratos milionários advindos das licitações.
Desta forma as empresas exercem o lobby, pressão para aceitação popular de ideias que possam agradar uma maioria emergente, uma vez que ideólogos geralmente compõe a minoria e somente conseguem espaço político quando parcela da mídia ou empresariado também se encontra alinhada aos ideais. Noutros termos, realizar o domínio de massa é essencial, pouco importando a suposta orientação ideológica que determinada candidatura patrocinada possua. Recebendo financiamento privado direto ou indireto, todos os eleitores e candidatos brasileiros não passam de marionetes.
Resumindo, atualmente quem elege no Brasil não são pessoas. Quem de fato exerce o sufrágio é o empresariado, responsável por financiar as campanhas daqueles que estarão condicionados a representarem os interesses dos patrocinadores, quando passam a manejar o governo aos proveitos empresariais em detrimento da população. Verdade que nestes últimos tempos o país assistiu a ascensão e queda de políticos e empresários, embora isto seja apenas um pequenos disparate entre estes e aqueles, pois dinheiro e poder são faces da mesma moeda.
3.5.20

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