Na postagem Olavo de Carvalho: Fascista ou Imbecil Coletivista?, este Enquirídio trouxe uma citação atribuída ao Paulo Freire (alguém que não precisa ser apresentado), embora sem trazer também a devida reflexão a respeito da frase: "quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor". Significa que ser educado para usufruir da liberdade implica em diminuir ou extinguir a relação de opressão entre os homens? Verdade que uma educação libertadora é capaz de unir as pessoas ou depende da interpretação dos termos utilizados na construção deste pensamento?
Lendo a Pedagogia do Oprimido, livro do Paulo Freire, certamente é possível perceber sua inclinação à mudança do oprimido para opressor, apesar disto não condizer com o fim da opressão. Filosofia que extrapola qualquer conceito político-partidário temporal, mas que tem uma ideia central muito simples: rebelião.
Resumidamente, Paulo Freire acredita (lembrando que seu pensamento encontra ecos no presente) que oprimir é empoderar o oprimido e libertar o opressor do ímpeto da opressão que lhe torna desumano. Confuso? Verdade que algumas pessoas olham seus semelhantes com inferioridade. Outros até acreditam ser superiores por possuíram privilégios, sendo premissa para destratar ou mesmo maltratar sem que sintam pena ou remorso. Apesar desta terrível inclinação humana, desejar tais defeitos para inverter a polaridade fática (oprimido-opressor) jamais será algo libertador, tampouco educativo se proposto em ampla escala, assim como anseia o autor da Pedagogia do Oprimido enquanto reverberação acústica, propagada atualmente por milhares de pupilos.
Alguém que não possui condições básicas de sobrevida, como pessoas na África ou favelas de lona no nordeste brasileiro, poderia ser oprimido por alguém que detém tal suporte, embora jamais tivesse este usurpado aquele? Imediatamente não, mas sistematicamente sim. Observe: dentro do mundo objetivo, quando você consegue comprar algo, mas uma outra pessoa não; não significa que houve uma sobreposição de direitos de um sobre outro. Naturalmente, pessoas maiores possuem mais privilégios que baixinhos a depender do contexto, sendo o contrário válido também. Acontece que Paulo Freire apenas visualizou o aspecto material da coisa ao elencar situações de nítida discrepância entre semelhantes. Desta forma, exemplificando com excertos do texto, imaginou que ouvir Beethoven fosse uma condição privilegiada e associativa ao opressor natural, quando na verdade a discussão sempre esteve baseada na mais-valia marxista e acúmulo de capital, ideias que são facilmente subvertidas a depender daquele que esteja ocupando o poder central e o meio único ideal para fazer acontecer a rebelião.
Certamente, pessoas têm determinadas dificuldades que outras não possuem, embora, repetindo, jamais signifique que uma esteja querendo oprimir a outra. Sistematicamente a opressão pode existir, embora não tenha sido isto vislumbrado por Paulo Freire. Exemplificando, quando alguém é contra o trabalho escravo na indústria têxtil, mas faz compras em grifes ou mesmo através de lojas mais comuns, sempre optando por aquilo que lhe possa tornar mais adequada à moda, motivo pelo qual realiza compras com certa periodicidade, simplesmente não possui a compreensão da dimensão dos próprio atos, apesar de representar parcela da força opressora contra costureiras clandestinas, presas em cativeiros, navios, contêineres etc. Doutra forma, adquirir produtos na quitanda da Dona Maria não implica em oprimi-la se assim desejou ela plantar, colher e comercializar pela mera relação comercial ensejada por alguém que possui certa quantia em dinheiro e está disposto a pagar, mas que não detém frutas, legumes ou mesmo técnicas de plantio ou espaço necessário ao cultivo. Diante do contexto natural, seria a quitandeira a opressora da relação.
Pessoas como Paulo Freire se rebelam por prazer, não por razão. Quando diz que "radicalização é critica, portanto, libertadora", estabelece visão exatamente onde animais com pouca racionalidade se situam: inseridos no âmbito instintivo das reações involuntárias e exteriormente estimuladas. Trata-se de comportamento que repetidamente poderá culminar em caráter definitivo e molde para futuras ações. Extremar não condiz com solucionar, mas segmentar para diferenciar o oprimido idealizado do opressor subjetivamente definido pela pseudo-pedagogia paulo-freiriana.
Diferentemente de outras propostas trazidas neste Enquirídio, quando rebelião representa algo intrínseco, promovido de dentro para fora e desprovida de motivação opressora, mas tão somente libertadora das potencialidade pessoais adquiridas através do esforço em equilíbrio, Paulo Freire se manteve firme em pregar uma ideologia que segregava as pessoas apenas para saber quem está no time de quem, permitindo que outras frentes se aproveitassem dos resultados deste experimento em favor de interesses realmente opressores.
3.11.19

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