19.1.17

Do Governo, Para o Governo, Pelo Governo

No ano de 1863, Abraham Lincoln, enquanto defendia a liberdade num discurso proferido em Gettysburg, revelou seu íntimo desejo sobre um governo "do povo, pelo povo e para o povo", tragicamente interrompido pouco tempo depois, quando fora assassinado, morrendo consigo toda esperança política que um dia a própria antiga filosofia grega já havia sepultado. Infelizmente, maioria das pessoas no Brasil ainda teimam em acreditar numa estrutura autoprotetiva, cujas prerrogativas convergem aos interesses exclusivos da classe protegida: os políticos.

A Epítome Ontológica Universal
Primeiro passo para compreender a legitimidade do governo perante o Estado, pouco importante quem, de fato, ocupa o cargo, independendo também a esfera de atuação, repousa em distinguir isto daquilo. Buscando revelar uma informação extremamente clara e objetiva, observe o funcionamento do Megazord dos Power Rangers.

Sim! Megazord é um robô gigantesco, formado por várias partes autônomas, cada uma correspondendo ao domínio de um Ranger específico, que convergem para combater o mal maior, algo que nem mesmo um grande número de forças militares convencionais conseguiriam derrotar.

Noutros termos, enquanto o Megazord representa o Estado, os Rangers simbolizam o governo, composto por representantes selecionados pelo Zordon, entidade que certamente figurará o povo nesta comparação. Quando as coisas vão bem na Alameda dos Anjos, localidade onde os escolhidos habitam e desempenham atribuições como qualquer outra pessoa (no caso eles são estudantes), descabe qualquer uso do poder recebido, sendo cidadãos comuns, providos de direitos e deveres.

Vale ressaltar que, mesmo quando provocados por Bulk e Skull, valentões atrapalhados do colégio, os Rangers não utilizavam de seus morfadores (aparato para que fossem revestidos do poder Ranger, que lhes concediam trajes adequados e meios para coibirem forças nocivas, prejudiciais aos demais cidadãos daquele lugar) para se imporem. Agiam normalmente, cada qual com seus compromissos e conquistas por puro mérito, ou seja, aquele que era bom, por exemplo, em artes marciais ou tecnologia, o era por dedicação, não recorrendo a subterfúgios derivados do poder.

A Epítome Ontológica Universal
Somente quando os vilões surgiam os Rangers morfavam (se investiam dos recursos confiados por Zordon, representação do povo nesta comparação), combatendo o mal desde as forças menores (quando o faziam individualmente), intermediárias (através de seus respectivos Zords, robôs independentes que podem muito bem simbolizar as instituições) e superiores (quando o Megazord, de fato, precisava ser invocado). Isto porque existem fatores que somente algo com o tamanho e o peso do Estado é capaz de fazer, sendo os monstros que atacam a Alameda dos Anjos uma metáfora para os desafios encarados por uma Nação.

Agora imagine que os Rangers (o governo) decidiram utilizar as prerrogativas concedidas por Zordon (o povo) para fazerem uso do Megazord (o Estado) para alcançarem seus próprios interesses. Certamente não haveria nada de heroico ou, pelo menos, justo neste tipo de seriado infanto-juvenil, motivo pelo qual as emissoras não teriam o mínimo interesse em transmiti-lo. Então, por quais motivos algo rejeitado por uma rede de televisão (por ser nitidamente subversivo, corrupto e depreciativo) deveria ser titular para promover os interesses de um país se o próprio somente atua em exclusivo proveito? Quem garantirá a correta atuação daqueles que são os próprios detentores do poder sobre as instituições coercitivas? Inexiste uma solução prática, mas algumas medidas precisam ser tomadas para, prioritariamente, remover dos Rangers (o governo) o Megazord (o Estado), acreditando-se que se o Zordon (o povo) concedeu tais recursos, ele que os retire de mãos erradas. Seria isso? Definitivamente não.

Acontece que o governo (os Rangers) já está em posse do Estado (o Megazrod), que é muito grande para ser detido pelo povo (o Zordon). Como parar algo desta magnitude, que inclusive conta com toda força maligna (que por ela deveria ser combatida) para promover interesses correlatos próprios? Um tanque de guerra tripulado por malfeitores causará um grande dano até que seja interrompido. Multiplique isso pelo número de habitantes de um país e terá uma ideia da força do que é realmente aquilo que se denomina por Estado dentro das definições clássicas na formação do sistema.

Não é (e nunca será) opção (perante o modelo político atual brasileiro) continuar acreditando no governo enquanto este usurpa o Estado. Não é colocando mais Rangers no Megazord que este retomará suas prerrogativas originárias. Política, nestes termos, equivale a fé! Colocar mais água dentro de um barco naufragando não fará com que ele retome seu curso até um porto. Muito pelo contrário. Fará com que ele conheça as profundezas do oceano muito antes de um pedido de socorro ser atendido — e isto é o que acontece, não só no Brasil, mas no mundo todo.

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