16.10.16

O Que É o Valor?

Valor é algo muito subjetivo para ser definido de forma única. Contudo, é por meio dele que as pessoas interagem com tudo o que existe no mundo, incluindo as relações interpessoais. Através deles surgem os ímpetos e as inércias, as ações que refletirão em situações benéficas ou maléficas. Apesar disto, muitas pessoas não compreendem o que é o valor e como este se manifesta no cotidiano, motivo pelo qual este Enquirídio resolveu trazer algumas reflexões no intuito de ajudar para a formação da consciência humana mediante contextos e exemplos mais palpáveis.

A Epítome Ontológica Universal
Suponha que você seja mais uma dentre várias pessoas no mundo que não suportam a presença de baratas onde quer que seja, mas detesta igualmente ver o chão da casa sujo, principalmente por restos de insetos mortos, como manchas de sangue, pedaços de asas etc. Imagine que você decide não pisar a barata para evitar limpar toda sujeira depois e resolve tange-la para fora de casa ou colocá-la noutro lugar que não o incomode. Disto você poderia concluir que é uma pessoa tolerante, alguém que preserva vidas, mesmo as mais "insignificantes" como as dos insetos? Evidentemente que não, pois sua intenção é fruto de uma condição mesquinha, de mera causa-efeito, pois agregado a tal preservação há uma condição maior, associada primariamente a mantença do chão limpo. Entretanto, o hábito de sempre tanger insetos ao ter que matá-los poderá refletir numa mudança de pensamento e, talvez, no modo como se observa a própria vida, que anima desde os seres mais "insignificantes", como a barata, até os mais "especiais", como os humanos. Inclusive, mediante um mundo conturbado, tolerância é um gesto bastante escasso, pouco praticado e, por isso, esquecido pela ausência diária de referenciais, uma vez que maioria dos autoproclamados "seres racionais" aparentam apreciar sentimentos negativos como inveja, egoísmo e vaidade, condições que somente deterioram os relacionamentos interpessoais. E o que as baratas têm a ver com o valor? Apesar de parecer desnecessário ou demasiadamente longo, este Enquirídio teve de descrever toda esta narrativa antes de entrar no assunto principal e você vai perceber o porquê.

Apesar de também serem insetos, é mais fácil tocar uma joaninha ou um soldadinho do que uma barata, ou seja, há mais tolerância para com aqueles do que com este. Seria a aparência um fator determinante para tanto? Muito provavelmente sim, pois a barata esteticamente falando é um tanto assustadora, pois possui espinhos em suas patas, aspectos úmidos em suas asas e uma coloração pouco atrativa. Diferentemente dos pernilongos, por exemplo, a barata não possui nenhuma agressividade, em nada representando ofensa à saúde humana, ao menos diretamente.

Agora imagine que neste mundo existem pessoas que tratam os seus semelhantes como se fossem baratas, maltratando-os ou mesmo destruindo-os sem qualquer sinal de remorso ou arrependimento - e isto realmente acontece! A única diferença entre o homem e a barata está no valor. Quando se respeita a vida, se respeita todo e qualquer tipo de vida, desde as menores até as maiores, pouco importando a forma ou a aparência que elas possam assumir. Desta forma, quando alguém determina que uma vida não lhe é importante ao ponto de ceifá-la, é porque outra coisa representa um valor maior. Quando um pai deixa de dar atenção ao filho, é porque outra coisa representa um valor maior. Quando uma esposa trai a confiança do marido, é porque outra coisa representa um valor maior. Quando alguém perde a razão por não conseguir se controlar, é porque outra coisa representa um valor maior. Quando alguém deixa de observar o próximo como a si mesmo, é porque outra coisa representa um valor maior. Quando alguém despreza seu semelhante, é porque outra coisa representa um valor maior. Tudo na "sociedade" se baseia no valor atribuído ao quê ou à quem.

Por exemplo, um dependente químico ao cometer um latrocínio (roubo seguido de assassinato ou grave lesão corporal) tem por objetivo suprir com os bens roubados sua necessidade de se entorpecer, pouco importando a vida da vítima, bem como das pessoas que dela dependem, seja financeira ou emocionalmente. Isto porque a manutenção do vício possui um valor maior do que o bem estar e saúde de um semelhante. O mesmo acontece quando se adquire pertences tecnológicos fabricados por verdadeiros escravos - o valor em tê-lo é maior do que o cuidado pela condição humana alheia.

Maioria dos habitantes da Terra prezam pela saúde do planeta, criticando o despejo de poluição praticado por muitas fábricas em diversos países, suplicando através de protestos que os governos entrem em acordo para que se preserve a natureza, a água, o ar etc. Contudo, estas pessoas continuam adquirindo em escalas alarmantes de consumo, sem qualquer responsabilidade ambiental (incluindo tudo o que existe no mundo), os bens fabricados por aqueles que desprezam os valores prezados por eles próprios - e isto é muito, muito contraditório!

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