Cornelis Van Poelenburch. Conselho dos Deuses. |
2. Assim sendo, antes de seguir adiante, precisa-se ao menos saber quais deuses foram revelados no superior panteão sumério-acádio: Anu, deus do céu; Enlil, deus da terra; Ea-Enki, deus da água; onde aquele primeiro ordenou o dilúvio e o segundo assim cumpriu, restando a este último prezar pela salvação da criação perfeita.
Ea-Enki, por fim, foi quem disse como construir a arca.3. Em suma, pela corrupção da humanidade, foi Anu quem, então, decidiu pelo extermínio da própria criação (humana, como está no Enumaelish). Enlil, conselheiro daquele, cumpria ordens, porém, parece que também poderia ter ponderado a situação e optado por melhor resolução. Ea-Enki, por fim, foi quem disse como construir a arca.
4. Neste ponto, como este artigo é sobre um fragmento da Tabuinha XI da Epopeia de Gilgamesh, certamente confundiria mais apresentar os demais personagens do relato, motivo pelo qual, para cumprir o objetivo pretendido, qual seja, apresentar o autor do dilúvio, agora falta tratar do problema teológico em relação ao Livro de Gênesis da Torah.
5. E o problema teológico se dá observando a presença de deuses na Epopeia de Gilgamesh, motivando o pensamento, por uma anterioridade constatada, acreditar em um panteão que foi reduzido por motivos de crença isolada à unidade pelos hebreus, embora isso não seja verdade, muito menos algum resultado histórico.
6. Dom João Evangelista Martins Terra, SJ, em “O Deus dos Semitas”, demonstra como todos esses deuses representam manifestações de uma só divindade, como se nota em Marduk, filho de Ea-Enki, mas que este se vê naquele a depender do contexto, ou seja, se “oleiro de argila”, criador do homem, então Ea-Enki é Marduk — confuso?
7. Basta pensar que Marduk foi praticamente todos os deuses do panteão sumério-acádio a depender do contexto. Assim sendo, ele foi Enlil enquanto “primeiro-ministro” ou Ea-Enki enquanto “oleiro de argila”, revelando que determinadas civilizações na antiguidade tratavam por divindades as manifestações de Deus — o que é compreensível!
8. Como Deus poderia desejar o homem, criando-o a partir da argila, porém, determinando sua extinção na sequência ao perceber que ele foi corrompido? Não à toa, ambos os relatos, quais sejam, aqueles da Tabuinha XI da Epopeia de Gilgamesh e o Livro de Gênesis da Torah, além de convergentes, tratam do divino arrependimento.
9. Depois do dilúvio, aquele que sobreviveu, consoante a Tabuinha XI da Epopeia de Gilgamesh, realiza uma oferenda aos deuses e exclui Enlil, que por sua vez irrita-se ao perceber os sobreviventes. Ninurta, outro deus, denuncia a manobra de Ea-Enki, que por fim, como muito sábio, consegue calar toda assembleia com seus ensinamentos.
Parece que Anu não desejava o extermínio, mas tão somente uma resolução acerca da criação.10. Então, dentre outras coisas, Ea-Enki falou “afrouxa, para que não se rompa, puxa, para que não se afrouxe” no intuito de explicar para Enlil maneiras de contornar o problema da corrupção do homem que não fosse o dilúvio, como envio de feras e pragas. Parece que Anu não desejava o extermínio, mas tão somente uma resolução acerca da criação.
11. Isto fica evidente na bênção dada, não por Ea-Enki, mas por Enlil, sobre quem foi salvo daquele dilúvio, revelando o arrependimento divino, assim como se nota de Deus ao Noé nos capítulos oito e nove do Livro de Gênesis, seja na Torah ou no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, embora a leitura integral seja mais recomendada à compreensão.
12. Igualmente, deve-se realizar a leitura da Epopeia de Gilgamesh no todo para compreender os demais contextos até conferir a Tabuinha XI, tratadas neste artigo, assim como em O Dilúvio para Além do Livro de Genesis. Por fim, parece oportuno analisar na próxima publicação alguns trechos dos textos sumérios-acádios acerca do dilúvio. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Deus ou Deuses Ordenaram o Dilúvio? Enquirídio. Maceió, 29 dez. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/12/deus-ou-deuses-ordenaram-o-diluvio.html.
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