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Worksmart. As Lentes. |
2. Ao colocar as lentes no rosto, atirou-se da cadeira o menino pela tamanha felicidade que lhe preenchia seu ser, pedindo licença à sua mãe, mas correndo ao mesmo tempo em direção à porta de casa para ganhar às ruas, pois aquela enorme vontade de enxergar o mundo através das novas lentes certamente lhe era boa, mas incontrolável.
3. Já na calçada, passou a perceber como tudo tinha muito mais vida, cores, formas etc. Enquanto percorria uma rua ali, outra acolá, pessoas, animais e objetos — quanto mais simples, mais lhes cativavam — revelavam-se, como se de cada um transparecesse a própria essência, assim como o menino viu a sua própria ao passar na frente do espelho da lojinha.
4. Mesmo um pobre ébrio no botequim em plena luz do dia e o cachorro sarnento se coçando na esquina não são limitados àquelas indignidades tão somente efêmeras, uma vez que essencialmente todos eram dignos, cada qual conforme sua inconfundível natureza — e o menino via tudo isso através das lentes naquela bonita armação verde.
5. Durante o passeio, estava ele tão radiante que mal percebeu que por diversas vezes tocou com seus dedos sujos nas lentes — acontece! E o brilho das coisas, aquela vida toda, quanto menos limpos ficavam os óculos, menos pareciam coloridas como antes. Consequentemente, também diminuía toda felicidade no menino ao passo que era aumentada sua angústia.
Se um documento da Santa Sé se torna dúbio,6. Em um determinado momento, resolveu remover os óculos do rosto. Achava o menino que aquela sujeira era o que estava provocando sua inquietação, mas viu que tudo ao redor continuava perdendo vida, cores e formas. Afinal, seriam seus olhos ruins ou Deus os teria dado ausentes de virtudes? Ele não resistiu e voltou logo para casa.
volte-se ao tempo da certeza, nem que para isso seja necessário regressar aos primórdios da fé.
7. Assim como saíra pela porta, retornou correndo, soluçando e exclamando: “mamãe, mamãe, nada mais tem vida, tudo ficou cinza e deformado”. Ela, por sua vez, acolheu seu filho nos braços, enxugou suas lágrimas e o abraçou. Depois, muito calmamente tirou do bolso um pequeno pedaço de pano muito limpo e mostrou ao menino algo realmente milagroso.
8. Enquanto limpava seus óculos com aquele paninho, explicava: “filho, tudo tem vida, cores belas e formas perfeitas, mas não para nossa visão, que não enxerga bem sem estas lentes — momento em que sua mãe as colocava de novo no rosto do menino —, motivo pelo qual devem ser limpas, algo que faço para você com muito amor sempre que precisar”.
9. Com seus óculos de volta no rosto, feliz e grato pelo gesto, questiona o menino sua mãe por tal mistério. Ela lhe responde: “como a Igreja, sempre vou lhe amparar, remover a sujeira que recobre estas lentes, que são como a visão de Cristo, para que veja o mundo sempre como Ele viu — e a armação é o carisma, onde cada qual encontra aquele que combina mais consigo”. Para referenciar esta postagem: ROCHA, Pedro. Parábola das Lentes. Enquirídio. Maceió, 14 jan. 2024. Disponível em https://www.enquiridio.org/2024/01/regressar-aos-primordios-da-fe.html.
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