6.4.23

Da Ira Sob os Ditames da Modernidade

Tudo que devia ser visto sobre ira, bem foi por São Tomás de Aquino ou Aristóteles, embora outros teólogos e/ou filósofos tenham contribuído também. Acontece que uma coisa é tratar do assunto; outra é notar sua ação em certo espaço e tempo, como no agora, muitos séculos depois desde ambos.
Rafael. São Miguel (Pequeno).
1. Primeiramente, há de se considerar ira por pecado? Ela, por si só, não, mas venial sem que dela haja efeito, conforme é constante da Suma Teológica (IIa-IIae, Q. 158, Art. 2 e 3), embora possa se tornar em mortal ao pender em hábito e/ou produzir resultados internos e/ou externos como a morte (assassinato espiritual e/ou físico).

2. Se fosse crível um resumo acerca das teses sobre ira nas diversas questões da Suma Teológica, que não explicam somente, mas têm por objetivo esgotar o assunto em diversas análises, preferir-se-ia apenas colocar que vai depender do emprego das virtudes, sobretudo a prudência, donde a justiça, temperança e fortaleza são dependentes.

3. Numa certa publicação em mídia social, chamou a atenção a preocupações a respeito do que “ira” faz na relação maternal cotidiana, donde se falou em pecado venial e grave ao tocar na perda da paciência ao tratar o filho, apontando, ainda, sedação da paixão através de intensidade religiosa. Contudo, olvidar-se-á o julgamento imediato, mas não seu decorrente.

4. Neste ponto, “ira” foi posta entre aspas, uma vez que tal pode não ser, mas uma outra coisa menos grave, pois há quem confunda, ainda, violência com agressão e educação com pecado, sobretudo em pleno século de subversão, especialmente contra as crianças – e o que vão querer são pais que temam educar os filhos contra o mundo.
Assim opera as trevas: quando não mata o corpo, mata a alma.
5. Afinal, o que é que vem dando o mundo às crianças? Ou seja, na média do que dá uma sociedade moldada pela corrupção do Estado: primeiro, morte (aborto), mas; segundo, quando nascidas, divisão familiar, adultério, prostituição, erotização, ideologias subversivas, homossexualização etc. Assim opera as trevas: quando não mata o corpo, mata a alma.

6. Uma mãe que puxa o filho de um perigo com violência comedida, mas não necessariamente ponderada, usa força não para machucar, mas para livrá-lo de um machucado, donde o fim é bom. Porém, quem, podendo dissuadir através das palavras, escolhe a imposição violenta, pratica agressão, sendo um ato sem benefício de meio ou para cumprir uma finalidade. Disto nasce o pecado da ira na pessoa que comete tal ato, uma vez que, regredindo e recorrendo à animosidade ao permitir à instintividade a regência da situação, rompe relação para com Deus, embora não pareça ser verificado na legítima defesa, que não ocorre pelo ódio ou almejando vingança, mas por uma forma de manter a justiça diante do ataque sofrido. Dessa forma, poderia uma manifestação irada e longe da prudência ser tão somente um aspecto do esforço combativo para manutenção da paz e bem. Também não significaria a perda da paciência em pecado se retida aos parâmetros da circunstância, mas que não impliquem no avanço à perda da razão, donde o desfecho ainda estaria voltado à educação, inclusive na fé.

7. Também existem as agressões que não são aparentemente violentas, exceto pelo teor compreendido acerca do significado, donde induzir crianças às práticas erotizadas poderia ser facilmente mascarada pelo limite dilatado de aceitação social, quando as pseudo-danças que estimulam a exaltação das partes eróticas do corpo podem passar por inofensivas numa sociedade moralmente subvertida, embora isso tudo seja agressão do mais alto teor de violência, pois torna a inocência da infância objeto de abuso, igualmente colocar uma ovelha no covil do lobo – e a parte de nossa gente que tem por isso algo inocente, coopera com o mal enquanto muitas vezes despeja sua “boa ira” nos assuntos mais efêmeros da face da Terra. Isso é falta de fortaleza, donde a covardia torna curva a moral de quem já está tomado pela subversão e acredita ser retidão abolir uma paixão capaz de deter, conforme a cristandade no tempo e espaço, justamente a engenharia pecaminosa que se faz presente na sociedade por intermédio dos Estados corruptos e auxiliares de propagação em massa, qual seja, mídia.

8. Não se põe fim na ira, que é uma paixão própria do homem, assim como o medo, mas por uma virtude diretiva, qual seja, prudência, pode-se temperá-la, tirando dela bons proveitos se realmente for necessário ao promover a justiça ou mesmo a fortaleza. Ímpetos ordenados, arrazoados, apontados para o alto, elevam-se ao cumprimento da vontade de Deus, mas que não podem ter por objetivo a vingança, muito menos condizer com iniciativa ou evento contínuo, tornando-a pecado e perda da amizade divina. Melhor “irai-vos, e não queirais pecar” (Salmo 4, 5), para isso meditando em silêncio sobre seu leito (havendo tempo) ou repousando sua mente na esteira da razão (quando da imediatidade), donde através da prudência, temperar-se-á essa raiva maior ao ponto de cessá-la ou canalizá-la para longe do pecado enquanto rende frutos justos. Muito fácil perceber na escassez temporal a temperança se esvanecendo, provocando a ausência de razoabilidade. Neste ponto, nota-se imposta ao mundo uma rapidez que subtrai o poder de razoar.
Corrigir para vida é amar.
Quem dessa forma ama, educa para o alto.
9. Assim é que a ira sob os ditames da modernidade tendencia configurar pecado, justamente pela velocidade com que são trazidas as maldades ao âmbito da sociedade, especialmente ao próprio núcleo, qual seja, familiar. Mas tal seria a visão de quem se vale da raiva como produto da desordem para praticar injustiça. No mundo de agora, irar-se em proveito da justiça, tendo pela razão, que não deixa de incluir a oração (obrigação de fé ao católico), guiar-se-á para ações temperadas. Significa ir contra as ordens do inferno, que por inúmeras vias cria ou põe perto do homem o caminho do pecado, mas, antes disso, provoca-lhe o medo para sedar a força combativa, pois quem, como um breve exemplo, admite a maldade que perverte a inocência das crianças, nega a Cristo, Jesus, Nosso Senhor. Que uma palmada ou um grito seja apenas um reflexo pontual contra teimosia e à construção moral do filho; que a dor momentânea, tanto na mãe ou pai, quanto na criança, consiga ser forte o suficiente para afastar, agora e futuramente, aquele sofrimento de quem pode ter sua alma morta pelas libertinagens promovidas pelos serventes das mentiras lançadas pelo decaído, primeiro homicida e insaciável corruptor da criação de Deus. Corrigir para vida é amar. Quem dessa forma ama, educa para o alto. Se um católico, mesmo assim, prefere equalizar o mundano e o sagrado numa única canção, compõe apenas o ruído infernal – o que não é qualquer novidade.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Da Ira Sob os Ditames da Modernidade. Enquirídio. Maceió, 06 abr. 2023. Disponível em https://www.enquiridio.org/2023/04/da-ira-sob-os-ditames-da-modernidade.html.

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