Determinado artista brasileiro, aproveitando certa transmissão televisiva, comentou que ultimamente a pornografia está deixando sua posição de coadjuvante para protagonizar em papéis mais próximos da contextualização cotidiana ocidental, incluindo programas, novelas, filmes, seriados, clipes etc.
Apenas para ilustrar: filmes, cujos contextos não possuem qualquer relacionamento com aspectos da sexualidade, donde histórias poderiam ser completamente contadas sem prejuízo da compreensão do espectador, necessitam quase que obrigatoriamente de cenas sexuais explícitas por qual motivo?
Existe uma explicação extremamente simples para esta questão: lucro. Você deve estar se perguntando como tudo isto se vincula ganho monetário, certo? Neste ponto, acredita este Enquirídio que compreender a resposta demandará mais pesquisas e esforço de aprendizado, embora algo muito sintético seja apresentado para situar o leitor perante uma das possibilidades, incluindo argumentos que embasam estratégias de mercado.
Importaria fazer uma breve leitura da publicação Complexo-R ou Cérebro Reptiliano? neste Enquirídio para conhecer um posicionamento da neurociência sobre determinadas funções cerebrais. Contudo, sendo impossível no momento dedicar mais alguns minutinhos de leitura, resta colacionado abaixo um trecho da postagem que servirá como premissa fundamental no decorrer desta explanação, valendo lembrar que métodos publicitários para subversão, travestidas de indução à necessidades, continuam sendo aplicadas de maneira eficaz cotidianamente nas propagandas audiovisuais.
Segundo a teoria trina proposta por Paul MacLean, percebe-se que uma campanha publicitária, por exemplo, sempre busca se comunicar com o "Complexo-R", cuja resposta é mais rápida do que as demais partes do cérebro, apelando para que as emoções lhe cheguem travestidas de necessidades básicas. Melhor exemplificando, propagandas de refrigerantes vinculam o ato de beber seus líquidos a uma imagem prazerosa, capaz de refletir saciedade - lembrando que a parte "reptiliana" persegue a satisfação no sentido de nutrição. Enquirídio.org
Quando um filme explicita uma cena de sexo, impõe aos sentidos visuais um estímulo imediato às regiões instintivas do cérebro, promovendo sensações não controláveis por mentes destreinadas, inertes aos incentivos, permitindo qualquer inserção subversiva à contenção daquela insaciedade objetivamente provocada, direcionada a obter uma resposta rápida para aquilo que deseja fixar na memória do espectador. Resumindo: você já assistiu Inception (A Origem) com Leonardo DiCaprio? Tudo isto se trata daquilo, porém, retirando toda alegoria da ficção.
Imagine que uma propaganda de sanduíche, apesar de bastante elaborada, ficou ineficiente ao público, uma vez que sua rotina está bastante apertada em tempo para apreciar aquele produto. Igualmente, determinado setor do comércio está perdendo vendas por conta da publicidade veiculada não estimular o consumidor ao caixa, fazer com que realmente compre, gaste seu dinheiro sem raciocinar. Quando as estratégias criativas falham (destrutivas é termo mais apropriado em certas produções), utilizam um apelo estreitamente íntimo e plural aos instintos humanos: sexo vende.
Suponha que determinado sujeito tenha saído de alguma sessão de cinema. Contidas no filme assistido existiam algumas cenas de sexo (daquelas bem apelativas, embora o enredo fosse sobre uma tragédia marítima). Solteiro, porém, desprendido de relacionamentos rápidos ou pagos, ficou realmente estimulado a satisfazer uma necessidade provocada, inserida por sugestões subversivas através dos sentidos visuais e auditivos. Apesar de já saciado (passou a exibição inteira comendo pipocas), resolveu se presentear com prazeres mais rápidos: comprou um sanduíche daqueles, cujas propagandas ficaram ineficientes, mas que agora contava com posteres exclusivos do longa metragem em cartaz como brinde nas ofertas. Nesta hipótese, aquela pessoa canalizou seus instintos numa comida. Talvez depois tenha se questionado por que raios se entupiu de gorduras saturadas se já havia ingerido boa (não muita) quantidade de calorias. Quando a prática sexual é impossível imediatamente ou sob aquela circunstância, parece mais óbvio ao "Complexo-R", responsável por priorizar o funcionamento cerebral na ocorrência de demandas vitais, transformar a vontade de copular em comer.
Sexo vende pelo simples fato de possibilitar ao cérebro, desvalido de proteções objetivas, restar inundado por enxurradas estimulantes que resultarão na sensação duma falsa necessidade, capaz de conduzir a pessoa a adotar um comportamento sequer pensado: ação e reação! Desta forma, deixando o individuo literalmente exitado e mentalmente exaltado, conduzi-lo ao caixa é muito mais fácil, bastando oferecer qualquer coisa que exista como promessa de saciedade ou prazer imediato. Seria uma hipnose? Infelizmente não. Apenas reações por falta de preenchimento.
Inclusive, desconfie de livros, mesmo repletos de cientificidade, quando afirmam que buscar o prazer é a finalidade derradeira do cérebro (certamente do encéfalo desprovido de produção neural). Noutros termos, sendo "cabeça vazia a oficina do diabo", estados inerciais da mente, isentos de definições sobre práticas pessoalmente prazerosas, evidentemente proporcionarão brechas para inserção de pensamentos não desejados, incontroláveis pela fragilidade daqueles que carecem de conhecimento ou hábitos concretos.
Estados de hipersexualidade não apenas servem para direcionar consumidores ao produtos do mercado. Também são extremamente eficientes para conduzir a população às ideologias de grupos políticos quando assuntos da intimidade humana são impostos, primariamente como entretenimento, visando uma transformação cultural benéfica para alguns interesses. Noutra oportunidade, abordará este Enquirídio como o sexo está destruindo as famílias para promover uma sociedade caótica, sedentas por materialidade. Entretanto, apenas para adiantar o assunto, aumentar a população significa ampliar o consumo e registros de títulos eleitorais, resultados almejados pela classe governista e grandes corporações. Contudo, efeitos colaterais podem resultar disto: basta observar a desordem nitidamente instaurada no Brasil pela comercialização da sexualidade exacerbada como fenômeno natural. Independentemente, inexiste equilíbrio nos extremos, precisando a mente dominar os sentidos para evitar o comportamento inflamado, oscilante entre altos picos e baixos declives, promotores da instabilidade e calamidade pública.
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