28.7.17

Complexo-R ou Cérebro Reptiliano?

Costuma-se atribuir nomes às coisas para facilitar a identificação e transmissão do conhecimento acera do que quer que seja. Entretanto, dependendo do segmento, uma informação "A", assim designada, por exemplo, pela ciência moderna, pode corresponder a "B" noutra vertente. Este processo de significante (objeto) e significado (valor) é muito útil no mundo contemporâneo, mas também bastante traiçoeiro, uma vez que as referências dependem de fatores, às vezes, circunstanciais, mesmo que se alastrem demasiadamente pelo tempo. Então, uma coisa pode ser outra?

A Epítome Ontológica Universal
Segundo Paul MacLean, neurocientista estadunidense, autor do livro The Triune Brain in Evolution, teria o cérebro humano uma divisão trina, restando ao que designou por "Complexo-R" (parte "reptiliana" mais primitiva do sistema cerebral humano) dominar funções instintivas, responsáveis pela sobrevivência.

Estudiosos do assunto afirmam que os problemas relacionados a impulsividade decorrem da predominância do Cérebro Reptiliano, cujas prerrogativas decaem sobre as necessidades básicas, mas quais? Certamente, todos concordam que comer, beber, evacuar, copular e dormir são atividades praticadas em unanimidade pelos seres humanos, embora sejam apenas demandas do corpo para a sua própria manutenção. Contudo, existe uma enorme diferença entre um comando corporal e a forma como essas condições obrigatórias à vida são tratadas. Assim sendo, muito embora você possa ter fome, alimentar-se dependerá de alguns fatores relacionados ao ambiente, ou seja, sendo este favorável, talvez sua inclinação a utilizar talheres para apreciar pacientemente uma comida bem preparada seja mais relevante do que simplesmente saciá-la como um predador irracional. Entretanto, inserindo-se num lugar hostil, terminar um quanto antes a refeição poderá ser mais lógico, motivo pelo qual qualquer etiqueta resta dispensada. Perceba que, duma maneira ou doutra, elegantemente ou de maneira bárbara, satisfazendo as necessidades biológicas, quem quer que seja continuará vivo até conseguir, mais uma vez, realizar todo o procedimento de nutrição para que a matéria orgânica continue existindo.

Acredita-se que o cérebro humano, como o conhecemos atualmente, tenha sido o resultado de um longo processo evolutivo, sendo o "Complexo-R" o componente mais antigo e, por isto mesmo, dominante em comparação às esferas emotivas e racionais. Desta forma, principalmente por comandar os reflexos, produz reações aos estímulos quando devidamente percebidos, ou seja, na medida que os outros componentes do cérebro, responsáveis pelas emoções e racionalizações, deixam de participar do processo perceptivo, sendo certo as impulsividades.

Ações impulsivas podem ser cometidas para alguns desfechos, tais quais agressões de espécies variadas, incluindo contra si mesmo, inexistindo, portanto, quaisquer problemas acerca das necessidades básicas humanas, mas sendo certo decorrerem das associações entre as coisas e seus respectivos valores em nível instintivo os absurdos que repercutem negativamente em determinados meios, mesmo de foro pessoal. Neste exato ponto, deixa de vigorar a teoria evolucionista, limitada ao absolutismo cartesiano, tendo em vista as pessoas decidirem, mesmo sob efeito de influências, quais símbolos são mais ou menos relevantes para si, cabendo à semiótica, a partir de então, prosseguir estudando os efeitos provenientes de fatores externos no âmbito da sociedade atual, onde algo pode ser outro a depender do ponto de vista. Também passa para a esfera do comportamento, mesmo assim atrelada ao contexto simbólico, as interpretações obtidas quando alguém, por conta do ambiente, deixa de se alimentar conforme uma determinada regra de etiqueta. Nada disto provém das "vontades autônomas" do "Complexo-R", mas do que este assimila como necessidade.

A Epítome Ontológica Universal
Se cabe ao "Complexo-R" lidar com as necessidades básicas, parece lógico aos seres racionais utilizarem suas partes pensantes para dizerem à estrutura "reptiliana" o que é comer, beber, evacuar, copular e dormir, correto? Isto supostamente se dá pelas formações mais complexas do cérebro.

Alguém pode dizer que seja inato ao "Complexo-R", como uma espécie de predeterminação, desencadear ações primitivas face às necessidades básicas. Contudo, muito embora uma criança possa observar um cachorro urinando num poste, continua repetindo o comportamento dos pais ao utilizarem os acentos sanitários, perseguindo-os, incluindo o aparelho, como significante (objeto) e reproduzindo suas ações como significado (valor). Basta lembrar que a identificação mais próxima de um ser humano imaturo ainda será com seu semelhante e não com um crocodilo. Entretanto, qualquer um que se permita passar por um processo subversivo, certamente poderá trocar um símbolo por outro a depender dos estímulos repetitivos, quando uma ideia consegue suplantar em sua base comportamental conceitos anteriormente estabelecidos, gerando uma espécie de re-significação por associação. Imagine que a população de determinada cidade passou a chamar azul de amarelo. Logicamente, aquele que for mais desavisado estranhará a alteração, buscando até mesmo fazer correções aos padrões que lhes já são íntimos. Apesar deste esforço momentâneo, caso continue naquele lugar por mais tempo, logo se adaptará às novas nomenclaturas cromáticas, passando a pronunciá-las normalmente como se uma agora fosse a outra - e isso depende do nível de suscetibilidade.

Segundo a teoria trina proposta por Paul MacLean, percebe-se que uma campanha publicitária, por exemplo, sempre busca se comunicar com o "Complexo-R", cuja resposta é mais rápida do que as demais partes do cérebro, apelando para que as emoções lhe cheguem travestidas de necessidades básicas. Melhor exemplificando, propagandas de refrigerantes vinculam o ato de beber seus líquidos a uma imagem prazerosa, capaz de refletir saciedade - lembrando que a parte "reptiliana" persegue a satisfação no sentido de nutrição.

Somente a imagem é prazerosa, mas, mesmo assim, como uma sugestão, pois não há como sentir o que o ator da propaganda está sentindo. Todavia, perceba como o "Complexo-R" lhe pode ser útil quando simplesmente nota que aquele refrigerante não possui as qualidades minerais que somente a água tem, obrigando basicamente a consumir líquidos que realmente possam nutrir o corpo, inclusive para que continue realizando a manutenção do desempenho cerebral, sendo hábito daqueles mais suscetíveis trocar um pelo o outro integralmente.

Apenas para concluir a ideia desta publicação, uma vez que noutras oportunidades o tema certamente será melhor detalhado, dizer que o "Complexo-R", conforme a teoria trina proposta, é responsável pelas compulsividades sem observar o ambiente, o comportamento e os símbolos, parece uma crença determinista. Existe sim uma ideia sombria por trás da má utilização das partes "reptilianas", inclusive pela mídia, mas, mesmo assim, ainda cabe ponderação. Existem outros fatores a serem observados, sendo certo uma nova postagem sobre o tema.

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